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Superestimado, “O Artista” presta uma homenagem digna ao cinema

 

Celebrado com o Oscar de Melhor Filme de 2012 e incensado quase como uma unanimidade cinematográfica, O Artista é um filme de sensibilidade e saudosismo. Chega a ser contraditório (afinal, o mundo é contraditório!) que em tempos de rediscussão do papel da sétima arte, evocação da tecnologia 3D (não é, Scorcese?) e paradigmas melancólicos sobre o mercado, um filme que se propõe a homenagear o cinema em sua essência, mudo e em preto e branco gere tanta comoção, e em escala global. Talvez esteja aí a grande sacada de seu sucesso.

Em 1927, acompanhamos George Valentin (o francês Jean Dujardin, que nasceu para o papel), grande estrela do cinema mudo. Junto ao seu fiel cachorro e coadjuvante nas películas, George é a máquina de fazer dinheiro da Kinograph Studios, chefiada pelo grande diretor do estúdio, Al Zimmer (John Goodman). Numa ação do destino, é fotografado junto de Peppy Miller (Bérénice Bejo, uma maravilha) que, imediatamente, se torna alvo da imprensa. Aspirante a atriz, a jovem estreia em um filme ao lado de George o que faz nascer uma paixão mútua. Porém, Peppy, rapidamente, ganha espaço na telona e, em 1929, com a eclosão do cinema falado, criando um conflito de interesses entre os dois: enquanto George, orgulhoso, decide preservar a arte muda e se recusa a falar em seus filmes, a atriz alça uma carreira bem sucedida, apoiada no som.

O filme é uma graça e muito consciente de seu papel quase revisionista, mas com os dois pés bem fincados na simples memória afetiva. O diretor Michael Hazanavicious é esperto ao optar pela visão da melancolia humana de seus indivíduos pelo humor pueril, muito bem sacado como se estabelecia na época. O anacronismo aqui é um estandarte que se contrapõe efetivamente ao discurso que vai se desenvolvendo ao longo da história, e encontra seu clímax numa das cenas mais bonitas já vistas, em que Hazanavicious estimula um híbrido entre o silêncio e a percepção sonora no cinema. Ali, vemos que o papel do filme, mas do que homenagear, se impõe por mostrar como o passado agregava mágica nessa lúdica relação com o espectador, o que hoje é algo extremamente relativizado. Principalmente num confronto com o futuro.

Ainda que seja uma delícia de assistir, é nítido que existiu muito marketing, até mesmo para dimensão que o filme alcançou (como o Oscar). Não tivesse a força corporativa dos Weinstein, O Artista teria um outro tipo de repercussão e influência. Não só pelo DNA francês, que é até questionável dado o altíssimo investimento meramente americano, mas – numa discussão de genialidade artística – me questiono se o filme é mesmo isso tudo que é alardeado ou vivemos em tempos tão cínicos que um filme de valor emocional como esse acaba ganhando um peso substancial maior que tem. Reitero, é um filme lindo, mas a discussão cabe perfeitamente.

[xrr rating=4/5]
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