O Telefone Preto (Black Phone), o regresso de Scott Derrickson ao cinema de terror depois de passar pelo Universo Marvel com o notável Doutor Estranho (2016). Para a ocasião escolheu um conto de Joe Hill, o mesmo autor de narrativas que serviram para moldar Amaldiçoado e a série Locke & Key.
Finney Shaw (Mason Thames) um tímido, mas perspicaz, garoto de 13 anos, é raptado por um sádico assassino (interpretado por Ethan Hawke, ator nomeado 4 vezes para o Oscar) que o enclausura numa cave à prova de som, onde gritar não vai resolver nada. Quando um telefone desligado começa a tocar, Finney descobre que consegue ouvir as vozes das vítimas anteriores do assassino. E elas estão decididas a assegurar que o que lhes aconteceu não acontece a Finney…
O Telefone Preto é de longe uma ótima narrativa de terror e suspense, e Hill traz o gene de seu pai, Stephen King. Derrickson mergulha totalmente na experiência traumática de uma criança que foi sequestrada. Além disso, sabe perfeitamente que não é a primeira vítima, então tudo indica que nunca sairá de lá vivo.
O lado sombrio da infância
A primeira coisa que deve ficar clara é que O Telefone Preto usa e abusa do clima para aumentar a tensão e o desconforto. Ao longo de suas filmagens não encontraremos muitos sustos, mas quase desde o primeiro momento há uma atmosfera que não vai parar de piorar até que a história seja resolvida.
É claro que para isso o personagem de Hawke é fundamental, tanto por sua interpretação arrepiante, quanto pela seleção bem-sucedida de máscaras. No entanto, antes disso Derrickson teve tempo de conectar o filme com sua própria infância através do retrato que oferece da vida do verdadeiro protagonista do papel, que tem um pai violento e também é o principal alvo de alguns bandidos em sua família. .
E O Telefone Preto pode ser colocado como uma resposta a essa moda que levou alguns diretores a fazer filmes com elementos autobiográficos, muitas vezes para idealizar sua juventude em maior ou menor grau. E temos o componente sobrenatural que junto com a excelente personagem de Madeleine McGraw acerta em contextualizar o roteiro.
A fotografia de Brett Jutkiewicz, faz muito sucesso e veste o filme no tom ideal nos diferentes ambientes em que se passa. Parece que Jutkiewicz se sente à vontade no horror, e a verdade é que ele consegue fazer coisas que me parecem elegantes.
Também é essencial tanto o grande trabalho de elenco para escolher os jovens protagonistas quanto o desenvolvimento muito eficaz deles através do roteiro. Aqui não encontraremos crianças repulsivas ou crianças que simplesmente despertam nossa antipatia, pois, desde o início, a necessidade de alcançar a empatia do espectador é cuidadosamente trabalhada. Contudo, também é que tanto Mason Thames quanto McGraw são fundamentais para que o que Derrickson propõe nunca chegue balançar.
O próprio trabalho de Derrickson é fundamental para isso, tanto por sua capacidade de nos transportar para outra época, seu manuseio da textura visual em determinadas situações para aprimorar o que procura naquele momento, seu bom uso de locais limitados ou sua capacidade de lidar com o ritmo lento da história sem nunca perder o interesse do público. E, obviamente, pelo quão habilidoso ele é quando desencadeia a violência e quando se trata de saber onde encaixar os poucos truques que O Telefone Preto inclui.
Em resumo
O Telefone Preto apresentou suas credenciais para o sempre disputado título de filme de terror do ano. Claro, aqui a aposta está mais em uma atmosfera sinistra para alimentar a tensão aos poucos até chegar à inevitável explosão final. Não há nada que esteja desafinado, onde o elemento sobrenatural e as conexões com a vida após a morte são bem integrados e críveis. Recomendamos
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