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Thor: a Grandiloquência da Humildade

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[Artigo contém spoilers do filme]


Os leitores mais antigos do site sabem que o nosso primeiro artigo foi feito por mim há três anos e tanto, exatamente sobre a nova fase de Thor nos quadrinhos brasileiros. A expectativa gerada em torno do filme do herói/deus era enorme, afinal, estamos falando de um filme que não apenas iria narrar aventuras contadas na mitologia, mas também na mitologia da própria Marvel Comics com o já almejado e divulgado objetivo de unir a todos em um filme dos Vingadores, o maior grupo de heróis da editora, que além de Thor contará ainda com Homem de Ferro, Capitão América e Hulk.

No filme, vemos Thor (Chris Hemsworth) prestes a se tornar regente de Asgard, a casa dos deuses nórdicos, no lugar de seu pai, Odin (Anthony Hopkins). Porém, durante a nomeação, a cidade é invadida por três gigantes do gelo que tentam roubar uma relíquia conhecida apenas como A Caixa. Eles são impedidos pelo Destruidor, que está lá nos cofres de Asgard para proteger tais relíquias de cair nas mãos de ladrões e usurpadores. Thor não aceita que Odin apenas fique quieto diante de tal ofensa e parte para Jottunhein, terra dos Gigantes do Gelo para confrontar Laufey, rei dos gigantes.

Lá, ele, Loki (Tom Hiddleston), Sif (Jaimie Alexander), e os três guerreiros, compostos por Volstagg (Ray Stevenson), Hogun (Tadanobu Asano) e Fandral (Josh Dallas) enfrentam os gigantes. Thor, munido com seu martelo Mjolnir, espanca gigantes com quase prazer em seu rosto, rindo e fazendo chistes jocosos diante do próprio rei dos gigantes. Porém, o excesso de confiança de Thor quase leva ele e seus companheiros à ruína, sendo salvos no último instante por Odin cavalgando Sleipnir, seu cavalo de oito patas.

Uma trégua é alcançada brevemente, mas Laufey oferece apenas guerra à Asgard. Voltando para Asgard, Odin manda todos exceto Thor e Loki sairem do observatório de Heimdall (Idris Elba). Lá, ele amaldiçoa Thor por seus atos que desencadeariam a guerra novamente, jogando-o à Terra, sem seus poderes, e logo atrás dele, seu martelo Mjolnir, proferindo a lendária frase que ficaria gravada na lateral do martelo nos quadrinhos, mas que apenas ficou marcado com um símbolo de Odin em sua lateral: “Aquele que empunhar este martelo, se for digno, possuirá o poder de Thor”.

Com isso, o filme chega à Terra e lá conhecemos Jane Foster (Natalie Portman) e Erik Selvig (Stellan Skarsgård), dois cientistas que estudam como fenômenos cósmicos afetam alguns fenômenos naturais aqui na Terra. Com eles, sua estagiária Darcy (Kat Dennings), o alívio cômico do filme. Thor cai praticamente sobre eles e acaba sendo atropelado pelo trio. Tomando-o por um sem-teto bêbado, eles o levam a um hospital, de onde ele foge para ser reencontrado por Jane e seus colegas, que ao ouvirem sua vida lhe tomam como um louco. Ainda, entram na história o Agente Coulson (Clark Gregg) e os agentes da SHIELD que apreendem todos os experimentos de Foster e Selvig e os levam a sua base temporária ao redor de Mjolnir, que tentou ser erguido por todo tipo de gente, sem nenhum sucesso (méritos para a aparição de Stan Lee e J. Michael Straczynski na cena dos caipiras).

O orgulhoso Thor se vê como um humano qualquer, e mesmo podendo ser ferido parte em busca de Mjolnir mesmo tendo de passar por cima de toda SHIELD (com participação especial de Jeremy Renner como Clin Barton, o Gavião Arqueiro), mas para poder retirar seu martelo da pedra – na melhor analogia arthuriana que se pode ter notícia – é preciso qualidades que Thor ainda ignora.

O filme vai se desenrolando de uma forma muito boa, mostrando Loki se tornando de irmão de Thor ao deus das mentiras e enganações, agindo como a cobra que irá causar transtornos a todos a sua volta pelas suas diabruras. Em análise fria, Thor é uma história heroica de redenção. Alguns falam que há algo de shakesperiano nela, como nunca li Shakespeare e não estou familiarizado com suas peças, deixo essa análise para quem conhece do assunto.

Foi necessário expandir o resumo do filme até este ponto porque o que foi dito aqui já foi mostrado nos trailers e não vai implicar em qualquer tipo de estraga prazeres para os leitores. As cenas iniciais de Thor em Asgard, prestes a se tornar regente são uma mostra da grandiosidade que se quis passar da casa dos deuses. Asgard é conhecida como a Cidade Dourada e assim é retratada, como uma grande e bela cidade, banhada por um brilho dourado que se reflete no grande palácio em seu centro. A irmandade de Thor com Sif, Loki e os Três Guerreiros é bem mostrada e dá mais vontade de ver quais outras aventuras eles tiveram antes dos eventos do filme.

Thor é mostrado desde o começo como orgulhoso e infantil, se deixando levar pelas emoções e a vontade de lutar, esquecendo-se totalmente do bem estar daqueles à sua volta, como visto perfeitamente na luta contra os gigantes do gelo. Aproveitando-se disso, Loki manipula-o perfeitamente, usando de mentiras para deixar Thor, que já estava banido, com culpa pela morte do pai, dizendo que ele, como novo regente de Asgard, não poderia como primeira ordem, desfazer a última de seu pai. Só que Odin não estava morto e Loki não deveria ser o regente, todos sabem disso, mas ninguém tem coragem de lutar contra um dos príncipes de Asgard.

Na Terra, aos poucos, Thor se torna mais humilde e isso é mostrado não por palavras, mas por seus gestos, ao ponto dele se apaixonar por Jane Foster e ajudá-la. E aqui começa a análise do filme como um todo. As cenas de Asgard são propositamente grandiosas, poderosas, como salões dourados em tons mais fortes de vermelho e verde e deuses em armaduras. Na Terra, vamos parar numa cidadezinha encravada no meio do deserto, tudo simples, usando-se uma palheta de cores básica variando entre claros contra um eterno fundo azul no céu do nosso dia a dia.

A luta de Thor contra os agentes da SHIELD em meio à lama e chuva mostra em seu começo aquele mesmo príncipe arrogante, sorrindo de vez em quando e fazendo jocosidades, porém, quando ele recebe uma lição de moral de sua própria arma mágica, se negando a ser erguida por ele é que vemos que o seu mundo desabou e que seu pai estaria certo em o acusar pelos seus atos.

O tema da humildade é o centro de uma aventura de enormes proporções que poderia ter sido muito maior se o orçamento permitisse. Originalmente o orçamento do filme, que seria dirigido por Matthew Vaughn, teria orçamento de US$ 300 milhões, mas a produtora não poderia arcar com tais valores. Kenneth Brannagh então conseguiu arrancar leite de pedra e fazer um filme primoroso pelas suas atuações que, nas devidas proporções, foram muito boas.

A única crítica que se poderia fazer ao filme é relativo a sua trilha sonora, pouco inspirada e mal diluída entre as diversas partes do filme, não trazendo a devida grandiosidade que um filme de heróis merece. Mas há muito que um filme de heróis não ganha uma devida trilha com um verdadeiro tema de herói marcante. Até mesmo os últimos filmes do Batman, que têm uma trilha muito boa, acabam por ficarem de lado perto de clássicos como o Superman de Richard Donner e o Batman de Tim Burton, do qual a trilha sonora de Danny Elfman ainda é facilmente lembrada.

Ainda, o uso de comédia, quase pastelão em alguns momentos pode irritar os fãs de quadrinhos mais fanáticos, mas tem seu propósito para a mera questão de bilheteria e convenhemos, as situações criadas são divertidas na medida certa.

Por fim, recomendo a todos que fiquem até o fim dos créditos, mas o fim mesmo, porque a cena extra não só coloca Thor em uma melhor ligação com os Vingadores, mas apresenta um item que será melhor explorado no filme do Capitão América que estréia daqui um mês.

[xrr rating=4.5/5]

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2 Comentários

  • Heil! Minha fé foi recompensada! O filme foi divertido (e minha resalva é a mesma da resenha, a trilha sonora. Eles perderam uma ótima oportunidade de pôr, por exemplo, Hammer to Fall, do Queen nos crédito finais. Para mim, música mais do que adequada, a começar pelo título).

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