Tim Burton e o dilema da inocência

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A cabeça de Burton concede muita desenvoltura a seus desenhos e estética, como a inocência – desenho de Jason Kasper

Um garoto tenta reviver o seu cachorrinho morto. O enredo de Frankenweenie revela em muito a cabeça do cineasta Tim Burton.

Dono de uma estética pálida e berrante, propositando o contraste, o diretor cria narrativas de igual incoerência a primeiro momento, porém com inteligentes motivos para levar ao espectador suas idéias de mundo. Seja estranho ou alucinado, o diretor conta tristes histórias, mesmo um tanto românticas para amadurecer o seu “infantil” público.

Um desses gostos de Burton e que permeiam grande parte da linha do cineasta é a sua preferência em colocar a inocência no mesmo cenário de seus violadores. Como uma criança enfrentando a morte, a violência ou a loucura de seu mundo. Se a perda desta inocência leva maturidade precoce ou não, se é progressiva ou agressiva, ou uma evasão nisto tudo, dependera das nuances do realizador em sua ótica aparentemente infantil, mas inegavelmente de profunda temática adulta – colocando inocência e maturidade como alegorias e ‘lugares-comuns’, ora as crianças de Burton são o dilema do que se pode mostrar a uma criança ou o que se espera de um adulto. Lembramos que filmes não são feitos por adultos e historias não são contadas por crianças. 

Elencando essa preferência na filmografia de Burton, olhemos desde a figura infantil das animações e a presença de crianças problemas em seus dramas – com aquelas caricatas afetações nervosas dos personagens adultos. Toda esfera criada pelo cineasta aflora palidez e sombras juntamente com elementos frágeis, como romance jovem de ares pueris. Vejamos em Sweeney Todd: o barbeiro demoníaco procurando vingança de quem destruiu seu sonho resplandecente, acompanhando dum casal romântico, uma amante histérica e um jovem bedel problemático, o qual finda a história.

A inocência no palco, esperando o momento em que terá de tomar suas decisões e enfrentar dilemas. Em Alice no País das Maravilhas, o diretor demonstrou uma fuga deste panorama. Enganou desatentos, uma vez que a caminhada naquele país esta cheia de decisões a fazer. A inocência é um instrumento maravilhoso para se falar da maturidade, o único, uma etapa ora.

O cinema de Tim Burton monta-se sobre um olhar infantil, em uma estética sombria, aguda e afetada (autoral) para levar-nos a refletir a respeito das imagens mais duros da vida: o casamento, a morte, o amor, o diferente, o medo, a loucura, a felicidade enfim. Uma criança ensinando um adulto sobre o mundo (BeetleJuice), e o oposto. Charlie – A Fantástica Fabrica de Chocolate – teve muito que aprender com Wonka, sem deixar de lembrar este do que realmente importava. A juventude caminhando à maturidade. Ora, todo adulto sempre será infantil antes as escolhas que lhe cobram a vida, então Burton convida toda essa criançada a refletir.

Enfim, Tim Burton completa a dialética da perda de inocência e o florescer da maturidade que mostra os produtos dos estúdios Disney. As estruturas narrativas de contos de fadas cabem em muitas produções do diretor, mas ele escolhe chegar ao final mostrando toda a caminhada espinhosa que se possa ter. Tênue, aparentemente infantil, entretanto, imaginem-se crianças e vejam realmente o que Burton esta filmando para nos fazer crescer.

Desenho de Tim Burton: há uma serie de criações como estas do realizador americano em exposição no MOMA – Museum Of Modern Art.

 

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