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"Tomb Raider: A Origem" faz um reboot (apenas) correto para Lara Croft

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Em 2001, após ganhar o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu trabalho em “Garota, Interrompida”, Angelina Jolie estrelava “Lara Croft: Tomb Raider”, em que vivia a personagem-título, numa aventura que adaptava para o cinema um dos games mais populares da época. O filme dividiu opiniões, mas fez muito sucesso nas bilheterias e ajudou a consolidar Angelina com uma estrela também em filmes de ação. Dois anos depois, ela voltou ao papel da exploradora britânica em “Tomb Raider: A Origem da Vida”, que nem mesmo seu talento foi capaz de salvar uma sequência fraca e nada memorável, fazendo com que novas continuações deixassem de ser feitas, ainda mais porque a própria atriz não queria mais fazer parte da franquia.
Corta para 2013, quando é lançado “Tomb Raider”, um jogo que deu uma sacudida no universo de Lara Croft, mostrando uma história que explica como ela se tornou uma exploradora enquanto luta pela sobrevivência após sofrer um naufrágio. Entre outras mudanças, a que mais chamou a atenção é que a protagonista não tinha mais um visual sexualizado, com roupas curtas, apertadas e decotadas e seu corpo era mais proporcional ao de uma mulher comum, sem os seios avantajados que a popularizaram. O sucesso deste jogo incentivou Hollywood a trazer a heroína de volta às telonas, num processo complicado, já que os direitos cinematográficos mudaram da Paramount (que produziu os filmes com Jolie) para a MGM. O estúdio conseguiu fazer uma aliança com a Warner Bros. para que o projeto saísse do papel. Mas o mais importante era responder a uma pergunta: Quem seria a nova Lara Croft?
Nomes como Emilia Clarke, Saoirse Ronan, Emma Watson, Jennifer Lawrence, Anne Hathaway, entre outras, foram cogitados para o papel, que quase foi parar nas mãos de Daisy Ridley (declinou por causa de “Star Wars: Episódio IX”) e Cara Delevigne. A escolhida, no fim das contas foi Alicia Vikander, que, assim como sua antecessora, também ganhou um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (em 2015, por “A Garota Dinamarquesa”). E também, da mesma forma que a protagonista de “Malévola”, Alicia se tornou o principal ponto positivo de “Tomb Raider: A Origem” (“Tomb Raider”, 2018), mostrando ser capaz de estar à frente de um filme de ação, mesmo que o resultado deste reboot não seja tão excepcional quanto poderia ser.
A trama mostra Lara (Vikander) como uma jovem independente, que gosta de lutas e trabalha como entregadora, escondendo de todos de que, na verdade, é filha de Lord Richard Croft (Dominic West), dono de um grande conglomerado de empresas que está desaparecido há anos, quando procurava a tumba de Himiko, uma feiticeira japonesa. Quando está prestes a declarar o pai oficialmente morto, Lara descobre uma pista que pode levá-la ao local onde ele sumiu. Assim, ela vai ao Japão, onde convence Lu Ren (Daniel Wu), dono de uma embarcação, a levá-la até a uma misteriosa ilha. Só que acontece um acidente no mar e os dois acabam caindo nas mãos de Mathias Vogel (Walton Goggins), integrante de uma misteriosa organização chamada Trindade, que tem intenções escusas em relação a Himiko. Cabe a Lara impedir os planos de Vogel, ao mesmo tempo em que busca por respostas em relação ao seu pai.
Em alguns aspectos, “Tomb Raider: A Origem” é realmente superior aos dois filmes anteriores com a arqueóloga. A começar pela boa direção do norueguês Roar Uthaug, especialmente nas cenas de ação. Vale destacar as sequências do naufrágio e a que Lara é arrastada por uma cachoeira, muito bem executada e que evidencia a boa fotografia de George Richmond (que também chama a atenção ao tentar recriar alguns momentos dos jogos de maneira cinematográfica) e a edição do veterano Stuart Baird, ao lado de Tom Harrison-Read e Michael Tronick.
Outro ponto positivo está no fato de que Lara não é tratada como uma espécie de Super-Mulher, como era nas produções estreladas por Jolie. Aqui, a personagem sofre ferimentos, sente dor, cansaço, briga de igual para igual com os seus oponentes e nem sempre se dá bem nos confrontos. Isso ajuda a torná-la mais humanizada e mais interessante, podendo criar maior identidade com o público feminino, ainda mais numa época em que está provado que as mulheres podem (e devem) estrelar blockbusters.
Entretanto, o filme possui alguns problemas que acabam prejudicando o resultado final. A direção de Uthaug, embora boa, carece de maior personalidade para tornar a obra acima da média. Não que “Tomb Raider: A Origem” seja ruim. Longe disso. Mas fica a sensação de que dava para fazer uma adaptação mais interessante do game. O roteiro, assinado por Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons, também não ajuda e acaba se tornando verdadeiro calcanhar de Aquiles por não esclarecer algumas questões, como os motivos que levaram Richard Croft e a Trindade a se interessar pela feiticeira e as motivações de alguns personagens.
Além disso, os roteiristas também pecam por usar ideias criadas para os filmes da série “Indiana Jones” (especialmente “A Última Cruzada”), chegando ao cúmulo de emular frases ditas pelos personagens da clássica franquia comandada por Steven Spielberg e dando um indigesto déjà vu que acaba tornando as situações do filme mais incômodas do que qualquer “mentira” que acontece com a protagonista, digna dos filmes de James Bond da fase Roger Moore. Uma pena porque um pouco mais de originalidade não faria mal a ninguém.
Como escrito há alguns parágrafos acima, o que torna “Tomb Raider: A Origem” bastante satisfatório é mesmo Alicia Vikander, que mostra na tela a sua dedicação para ser a nova Lara Croft. A atriz se dedicou bastante em seus exercícios físicos e aparece bastante em forma, o que ajuda a tornar crível suas participações nas cenas de ação, já que ela procurou fazer boa parte das sequências sem a ajuda de dublês. Além disso, ela também não se descuida na parte dramática nos momentos em que sofre pelo pai e também consegue dar carisma para a personagem, algo mais do que necessário para cativar o espectador.
É uma pena, no entanto, que seus parceiros de cena, embora ótimos, pouco têm a fazer e alguns deles são quase pontas de luxo. É o caso de Derek Jacobi, que geralmente integra os filmes comandados por Kenneth Branagh (especialmente as adaptações das obras de Shakespeare) e aqui interpreta o responsável pelo espólio dos Croft; e Kristin Scott Thomas, que interpreta Ana Miller, braço direito de Lord Richard Croft e uma espécie de tutora de Lara. Pelo talento dos dois, eles poderiam ser melhor aproveitados. Talvez numa possível sequência.
Dominic West não faz nada de muito diferente do que já tenha feito em outros papéis. Mas pelo menos não compromete sua atuação como o pai da heroína. Walton Goggins, que passou a ser mais lembrado por Hollywood após seu trabalho em “Os Oito Odiados”, até começa bem passando a ambiguidade de Mathias Vogel. Só que não demora muito para que o ator caia na vala dos vilões genéricos, em parte graças ao roteiro, o que deixa sua atuação apenas razoável. O mesmo vale para Daniel Wu, que acaba refém no lugar comum de ajudante da protagonista, logo após acontecer a cena do naufrágio. Nick Frost, parceiro de Simon Pegg em filmes como “Todo Mundo Quase Morto” e “Chumbo Grosso”, pelo menos diverte nos momentos em que aparece.
“Tomb Raider: A Origem” pode não ser a melhor adaptação de um jogo para o cinema, mas felizmente também não é a pior. Nem a mais decepcionante, pode até alegrar os fãs dos games com um filme que, no fim das contas, é correto e bem agradável de se assistir, desde que não haja muitas exigências. De qualquer forma, pode ser que o reboot ajude a criar uma nova franquia. Falta só caprichar um pouco mais nos (possíveis) próximos capítulos.
Filme: Tomb Raider: A Origem (Tomb Raider) 
Direção:  Roar Uthaug
Elenco: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel Wu, Kristin Scott Thomas
Gênero: Ação e Aventura
País: EUA
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Warner Bros./Metro Goldwyn Mayer
Duração: 1h58

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