"Trama Fantasma" e a eloquência estética de Paul Thomas Anderson

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Paul Thomas Anderson já pode perfeitamente entrar em um seleto hall de cineastas. Aqueles diretores que nos fazem esperar ansiosamente por cada lançamento. Aqueles cujo anúncio de filme ou de início de filmagens gera comichão. Ao longo de 22 anos de carreira (iniciou-se precoce, aos 26, com “Jogada de Risco” um ano antes da joia “Boogie Nights”), cavou seu espaço e provou ser um dos melhores de sua geração. Não é de causar espanto que “Trama Fantasma” mantenha esse grau de excelência. Regala-nos com uma intrigante e desconcertante trama. Consta entre os indicados ao Oscar, a princípio sem muitas chances, mas já vem sendo considerado um possível azarão.
Na glamourosa Londres do pós-guerra dos anos 1950, o renomado alfaiate Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis) e sua irmã Cyril (Lesley Manville) estão no centro da moda britânica, vestindo a realeza, estrelas de cinema, herdeiras, socialites, debutantes e damas. Todas em busca do estilo distinto da Casa de Woodcock. As mulheres atravessam a vida de Woodcock, solteiro convicto, muito mais com inspiração. Até que surge Alma (Vicky Krieps), uma jovem e forte mulher que logo se torna tinta indelével em sua vida como musa e amante. Uma relação que abalará sua conduta metódica.

A colaboração de Day-Lewis com o diretor, firmada há onze anos em “Sangue Negro”, mostra-se solidificada aqui. A atuação minimalista do gigante inglês da atuação entre em perfeita simbiose com a eloquência estética que caracteriza a direção de Anderson. Apoiada na belíssima fotografia do próprio cineasta (não creditado) e na trilha garbosa de Johnny Greenwood, a trama ganha contornos sinuosos e desafiadores. Chega a um ponto que até mesmo a respiração fica comprometida. Atuando em tantas frentes (o roteiro também é assinado por ele), Anderson não deixa dúvidas de que se trata de um projeto autoral. Como de costume.
“Trama Fantasma” é poderoso. O bastante para reconquistar antigos fãs do diretor que torceram o nariz  (indevidamente) para “O Mestre” e “Vício Inerente”. Se irá faturar uma estatueta no próximo domingo é outra história. A intenção de Paul Thomas Anderson com seus filmes não é ganhar prêmios. É fomentar tratados artísticos com reverberação perene.

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