“A Travessia” – Um tributo às metrópoles que abraçam o artista de rua

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Nova York e Paris são cidades onde respira-se arte. Talvez formem com Londres o triângulo que mais abraça expressões artísticas no mundo, seja com seus museus, sua vasta gama de shows e espetáculos e a quantidade de cinemas que deixa até São Paulo com invejinha. Em cidades como essas, a figura do artista de rua é constante. Aquele bravo sujeito, em busca de um lugar ao sol, muitas vezes saído de uma cidadezinha do interior, ou mesmo de um outro país. Sem a arte de rua, seja a música, a pintura ou qualquer outra forma de performance, essas três cidades perderiam muito de sua magia.

Como são centros convergentes do mercado de arte, mesmo os amadores precisam ser muito bons se quiserem voltar para casa com o chapeuzinho cheio de moedas. O novo filme de Robert Zemeckis, “A Travessia”, que está em cartaz no Brasil desde o dia 8, presta uma bela homenagem ao artista de rua e a cidade de Nova York e Paris. O filme conta a trajetória do equilibrista malabarista e ilusionista Philippe Petit, famoso por cruzar as duas torres do World Trade Center em 1974, quando os prédios estavam prestes a serem concluídos. A façanha foi tema do documentário vencedor do Oscar, “O Equilibrista”.

a travessia cinema nova york

Com base no livro autobiográfico de Petit To Reach The Clouds, Zemeckis criou uma versão romanceada e cheia de magia do audacioso projeto do equilibrista francês que fez uma ponte aérea entre a cidade luz e a grande maçã para realizar a maior performance de rua da História.

O clima de tributo fica claro na primeira parte do filme passada em Paris e falada em francês, mas também em inglês, para não forçar o público americano a ler legenda o tempo inteiro, coisa a que eles são avessos. E o pretexto para o uso da língua de Shakespeare é até aceitável: Petit diz que quer já ir treinando para quando chegar em Nova York.

The-WalkA Paris de 1973 retratada no filme é fiel à efervescência da capital da moda ainda de ressaca de 68 e da nouvelle vague. É nesse cenário que Petit ganha fama com seus números na rua e busca a ajuda do veterano e turrão Papa Rudy, uma belíssima interpretação de Ben Kingsley. Na segunda parte, já em Nova York, temos o equilibrista colocando seu plano em execução e o foco é mesmo nas torres gêmeas, mas do que na cidade em si. Logo na primeira cena quando o protagonista introduz sua história, na tocha da Estátua da Liberdade, elas estão ao fundo, imponentes.

O terço final é quando vemos o grande feito do artista, e aí sim, o 3D se mostra essencial à trama (embora alguns momentos anteriores o uso da tecnologia seja bem interessante). Com a mesma técnica estereoscópica de do filme “Gravidade”, o diretor nos dá uma sensação de profundidade que nos faz sentir vertigens e até o vento parece bater em nossos rostos. É como se estivéssemos literalmente nos equilibrando junto com Petit. Aplausos calorosos à equipe do CGI que conseguiu essa proeza.

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Depois do sério O Voo, vemos aqui alguns elementos característicos de obras anteriores do cineasta, como o heroísmo gaiato de Petit que nos lembra Forest Gump a forma que ele usa para explicar seu plano, com maquete, nos remete a “De Volta para o Futuro”, quando Doc Brown mostra a Marty McFly como o levará de volta a 1985, e, claro, a trilha sonora de Alan Silvestri, tradicional colaborador de Zemeckis. Muitas críticas foram severas em relação à atuação de Joseph Gordon-Levitt, uma injustiça. Ele interpreta o Philippe Petit da ótica de Zemeckis: carismático como um…herói de filme. E o ator cumpre muito bem o papel dentro desse conceito.

“A Travessia” pode não ser o melhor filme de Robert Zemeckis, mas é um grato retorno do diretor a um tipo de cinema que ele fez tão bem, sobretudo em “De Volta para o Futuro” e “Forest Gump”, mas se distanciou com sua fase deslumbrada com animações 3D e p último e adulto filme, “O Voo”. A atmosfera lúdica trazida em The Walk (no original) é uma das funções precípuas do cinema que é a de nos fazer sonhar ao apagar das luzes e acender da tela. Que me perdoe o cinema-cabeça, mas isso, só o (bom) cinema de entretenimento é capaz de proporcionar.

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