Turma da Mônica Jovem se perde em vários aspectos e compromete o novo universo

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“Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” é a esperada e óbvia adaptação dos quadrinhos de Maurício de Sousa que mostram a turminha do Limoeiro na adolescência. O sucesso da empreitada nos anos 2000, que revigorou as vendas de gibis com a marca da MSP, já estava na mira do cinema até mesmo antes da adaptação de “Laços”. Nesta nova fase, os amigos cresceram e vivem desafios que envolvem novidades tecnológicas, organizações secretas e um universo mais fantasioso. Daí seria mesmo um prato cheio para as telonas.

A trama se inicia no primeiro dia de aula do ensino médio, Mônica, Cebola, Magali, Cascão e Milena constatam que existem coisas estranhas no colégio. No processo, descobrem que o Museu do Limoeiro será leiloado, e se unem em uma missão para tentar salvá-lo. Durante as investigações, eles se deparam com segredos antigos e assustadores do bairro do Limoeiro que envolvem a centenária Ordem dos Cozinheiros. Com isso, a turma logo vai perceber que pode estar lidando com uma ameaça muito maior do que imaginava.

Um dos principais trunfos do live action dirigido por Daniel Rezende é a ausência mais sentida nesse daqui: o desenvolvimento dos personagens. O script parte do pressuposto que como já conhecemos a turminha desde quando eram crianças, não era preciso perder muito tempo com apresentações, indo direto para a aventura. No entanto, aqueles não são mais os pequenos de outrora, ao mesmo que ainda conservam algumas características marcantes. Isso até chega a ser mostrado, mas de maneira muito superficial.

É curioso (e ao mesmo tempo triste) constatar que essa produção com a versão jovem da Turma da Mônica é mais infantil narrativamente do que os dos filmes de Rezende, sobretudo se comparado ao segundo. Em “Lições” vemos a questão do amadurecimento abordada de uma forma brilhante, enquanto aqui isso não é sequer pincelado.

Ainda considerando que o propósito é se concentrar na aventura, em detrimento do desenvolvimento dos personagens, “Reflexos do Medo” peca por não costurar o roteiro, e isso não pode ser justificado pelo fato de virem mais três filmes no futuro. As lacunas tornam a trama confusa, incoerente, confusão essa que também é vista no direcionamento temático e de audiência. A intenção claramente era abranger o público adolescente, sem esquecer o infantil, mas periga não fidelizar nenhum dos dois.

O que pode ser considerado um acerto na produção foi a escolha dos atores. Sophia Valverde tem carisma e interpreta satisfatoriamente a Mônica adolescente, com uma boa fidelidade à versão dos quadrinhos. Bianca Paiva também se destaca como Magali. Cebola (Xande Valois) e Cascão (Théo Salomão) acabam sendo a parte mais frágil do elenco, muito mais pela forma com que o script os trabalha do que pelo desempenho dos atores.

A direção de Maurício Eça busca o tom da aventura, mas com o elemento humorístico sempre presente, e alguns quadros que parecem tirados diretamente dos quadrinhos. A direção de atores peca em alguns momentos e a retidão ao conduzir o longa frustrou aqueles que gostariam de ver algo mais ousado artisticamente, já que se trata da versão mais velha da turma da Mônica. As HQs são fortemente inspiradas nos mangás, e isso poderia ser adicionado à linguagem visual, como Edgar Wright fez tão bem em “Scott Pilgrim contra o Mundo”.

No fim, “Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo” se apoia demais na marca (easter eggs estrategicamente inseridos para mexer com a memória afetiva até podem ser vistos como trunfo) mas faltou inspiração para que se tornasse um produto memorável, como a sua contraparte protagonizada pelo elenco infantil. Ao se perder em vários aspectos no primeiro capítulo, esse segmento do universo MSP nos cinemas fica comprometido. Porém, como ainda vem mais aventuras pela frente, pode haver um bem-vindo corretor de curso.

Turma da Mônica Jovem

Turma da Mônica Jovem
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Nota: 5/10 Regular
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