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"A Vida Secreta de Walter Mitty" tem a beleza e a profundidade de um belo quadro na parede. E só!

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A canção “Space Oddity” do genial David Bowie permeia de certa forma o filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”. Mas um trecho de sua lisérgica letra diz muito sobre o que o filme é: “apesar de ter viajado mais de cem mil milhas, estou me sentindo bem parado…”.
Ben Stiller, em sua quinta incursão como diretor, adapta um conto clássico da literatura americana do escritor James Thurber em 1939 e por conseguinte, o filme estrelado por Danny Kaye chamado “O Homem de Oito Vidas”, de 1947. No filme, Walter (o próprio Ben) é um homem solitário e sonhador, que sonha demais e jamais fez coisa alguma de sua vida além de trabalhar e contabilizar seus gastos. Seus sonhos envolvem salvar gatos de um prédio em chamas e escalar montanhas para, na maioria das vezes, impressionar sua colega de trabalho, Cheryl Melhoff (Kristen Wiig). A natureza da história já traz em si um tom fabular o que, de certa forma, se insere no universo proposto, entretanto, Ben absorve essa premissa para uma alegoria quase caricata de um discurso. Se seu filme é uma parábola, vamos torná-lo uma alegoria dessa “mensagem” e aí, o resultado é que a trama perde a alma.

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Muitíssimo bem fotografado (as imagens da Groenlândia são incríveis) e com uma trilha sonora assertivamente catártica, Ben deixa claro que sabia esteticamente o que queria para seu filme, mas transparece não estar de acordo com a proposta dramática de sua história. Durante toda projeção ficamos com a sensação de que falta sustentação dramática a tanta exuberância visual. É inegável que Ben constrói seu Mitty com nuances que evidenciam sua particularidade de homem comum diante de acontecimentos ordinários de seu meio. Nisso, sua sensibilidade foi bem sucedida. Mas o roteiro e o diálogo com sua direção empalidecem diante de tanta ostentação imagética. E até da “mensagem do filme” acaba por soar apenas ingênua no fim das contas.
Ben deveria escutar com mais atenção o que Bowie tinha a dizer ao seu filme. O material que tinha em mãos manteve-se parado, enquanto ele continuava viajando em suas elucubrações. É um filme agradável superficialmente, mas nem sua própria proposta era passar pela superficialidade.

 

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