"Vingadores: Ultimato" conclui saga dos heróis da Marvel de maneira arrebatadora

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Quando foi lançado em 2018, “Vingadores: Guerra Infinita” revelou que a Marvel Studios tinha planos realmente ambiciosos de não fazer apenas mais um filme de super-heróis. O objetivo era criar um grande evento cinematográfico, para desconcertar até mesmo o mais preparado do espectador, com suas reviravoltas realmente inusitadas e a sensação de que, ao contrário dos filmes anteriores, não havia uma saída nem uma solução que surgia no último instante para salvar os heróis e tudo o que conhecíamos até então. Tínhamos ali algo que nem sequer tinha sido cogitado pelo público: que o vilão tinha vencido e conquistado o que tanto queria, sem mais nem menos.

Logo, não demorou para que todos os que viram o filme nos cinemas (e posteriormente em casa) começassem a especular como seria a conclusão dessa história. Será que Thanos (magistralmente interpretado por Josh Brolin) iria sair irremediavelmente vitorioso e os Vingadores não poderiam fazer nada para reverter aquele quadro desolador? Como num antigo seriado das matinês dos anos de 1930-1940, a Marvel Studios resolveu que todos que estivessem ansiosos ou curiosos sobre como seria esse desfecho teriam que voltar aos cinemas para ver o que aconteceria. A diferença é que, em 2018, tirando apenas a frase “Thanos irá voltar”, não havia muitas pistas para o que iria acontecer (além do fato de que, ao contrário das matinês, o novo episódio não seria exibido na semana seguinte, mas um ano depois). Assim, poucas imagens foram divulgadas e até o título do epílogo demorou a aparecer, aumentando ainda mais a apreensão.
No fim das contas, valeu muito a pena. Com “Vingadores: Ultimato” (“Avengers: Endgame”, EUA, 2019), a Marvel Studios se consolida de vez como referência para adaptar personagens e sagas de quadrinhos para o cinema com um produto muito bem acabado, que eletriza, hipnotiza e comove como poucas produções do gênero conseguiram fazer em muito tempo. Não há como ficar indiferente com o que é mostrado na telona e o resultado final é nada menos do que espetacular, especialmente para aqueles que acompanharam com afinco tudo o que foi mostrado neste universo durante onze anos.

O que o público precisa saber sobre a trama é que ela mostra as consequências dos eventos de “Vingadores: Guerra Infinita”, em que os heróis remanescentes Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Capitão América (Chris Evans), Thor (Chris Hemsworth), Hulk/Bruce Banner (Mark Ruffalo), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Máquina de Combate (Don Cheadle), Okoye (Danai Gurira), Rockett Racoon (Bradley Cooper) e Nebulosa (Karen Gillan) ainda sentem a dor pela perda de vários companheiros de luta, além de boa parte da população mundial. O surgimento da Capitã Marvel (Brie Larson) e a volta do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e do Homem-Formiga (Paul Rudd) dão ao grupo uma nova esperança para desfazer o mal causado por Thanos (Josh Brolin) e, talvez, trazer todos de volta. O problema – eles logo vão perceber – não será tão simples de resolver e pode ter consequências ainda mais fatais.

O mais incrível em relação a “Vingadores: Ultimato” é o fato de que, realmente, o quanto menos você souber sobre a história, melhor a experiência de testemunhar a engenhosidade do projeto. Portanto, o pedido para que não se divulguem spoilers sobre a trama não é um simples golpe de marketing, mas sim um apelo para que o prazer despertado pelo filme não se perca pelo fato de o espectador já saber previamente o que vai acontecer, como uma criança assistindo a um número de um mágico já ciente de que sairá um coelho de sua cartola. Além disso, não dá para admirar com maior surpresa o notável trabalho realizado pelos diretores Anthony e Joe Russo, que a cada nova iniciativa deixam seus nomes cada vez mais marcantes para os amantes de um bom cinema.
A dupla de irmãos demonstra mais uma vez que possui total controle sobre os filmes que faz e, aqui, eles não só realizam cenas de ação incrivelmente marcantes, como também conseguem um incrível equilíbrio tanto na parte dramática quanto na parte cômica. Afinal, não é fácil lidar com tantos personagens que atualmente gozam de um prestígio impressionante em todas as faixas etárias. Isso sem falar na impecável maneira encontrada de valorizar e prestar um enorme tributo a praticamente tudo o que ficou na memória do público e justifica o motivo de tanto sucesso da Marvel Studios e por que a concorrência ainda está tão longe de, no mínimo, se igualar ao que o braço cinematográfico da Casa das Ideias conseguiu realizar nesta última década.

Mas os Russo não são os únicos responsáveis pelo incrível resultado visto em “Vingadores: Ultimato”. Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, que também escreveram os filmes dos irmãos diretores no UCM, foram bastante hábeis em construir uma trama que dialoga muito bem com “Guerra Infinita” quanto também com os momentos mais marcantes vistos nos longas de maior expressão, encadeando tudo numa única estória e justificando o projeto desenvolvido pelo produtor Kevin Feige, o cabeça por trás das adaptações dos quadrinhos criados por Stan Lee (que tem mais uma – e, provavelmente, a última – ponta divertida nos filmes) e outros autores da Marvel Comics.
Além disso, o roteiro também privilegia a questão psicológica dos heróis, especialmente no que concerne as suas reações relacionadas às perdas sofridas após o confronto contra o Titã Louco, deixando-os ainda mais tridimensionais e fazendo o público torcer por seu sucesso. O único porém está no destino de um dos personagens que não é tão trabalhado quanto deveria e deixa uma das únicas pontas soltas na trama, deixando-a no campo da especulação quando poderia ser o da confirmação. Mesmo assim, Markus e McFeeley merecem is parabéns pelo o que obtiveram.

Outro motivo que chama a atenção em “Vingadores: Ultimato” é que todo o elenco está impecável. Nenhum ator ou atriz fica aquém do material que lhes foi entregue e isso também contribui para a cumplicidade criada para com o espectador. Desta forma, tanto Robert Downey Jr quanto Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Mark Ruffalo, Karen Gillan, Bradley Cooper, Paul Rudd, Jeremy Renner e Danai Gurira entregam ótimas atuações, embora quem realmente se destaca entre os heróis são os astros Downey Jr, Evans, Ruffalo e Hemsworth. Já Brie Larson, mesmo atuando bem melhor do que em seu filme solo, é pouco acionada e, por isso, é levemente decepcionante a sua participação. Mesmo assim, quem gostou da Capitã Marvel, com certeza não terá que reclamar de sua presença.
Quanto a Josh Brolin, ele continua a engolir a tela com o seu Thanos, que surge levemente diferente do vilão que conquistou plateias em “Vingadores: Guerra Infinita”. Mas, ainda assim, ele continua a mostrar por que ele é o mais difícil adversário que os heróis tiveram que enfrentar, protagonizando batalhas e confrontos incríveis e alucinantes, enfatizando a sua invulnerabilidade e o desejo por dominação. Os efeitos especiais mais uma vez ajudam a deixar o Titã Louco incrivelmente realista (algo que não acontece muito bem com o Hulk, infelizmente) e confirmam que ele quebra de vez o mito de que a Marvel não tem grandes vilões em seu universo cinematográfico.

Ao final de “Vingadores: Ultimato”, não se sinta constrangido se você se pegar gritando, batendo palmas ou até mesmo chorando com o desfecho não só do filme mas de toda a saga que começou lá atrás com o primeiro “Homem de Ferro”. Afinal, esse tipo de reação só enfatiza o poder que o (bom) cinema tem de despertar um grande leque de emoções, às vezes mais de uma ao mesmo tempo. Portanto, curta bastante as três horas (que passam voando) e testemunhe um acontecimento que apenas a sétima arte pode lhe oferecer. Muito obrigado, Marvel Studios, por tudo que ofereceu. E que vai oferecer ainda mais.

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