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“Visões do Passado” escorrega nos clichês e perde a chance de ser memorável

O consultório de tratamento psicológico funciona como um verdadeiro depósito de fantasmas, dos mais diversos. A tarefa do analista é organizá-los de forma a, aos poucos, se não eliminá-los, ao menos amenizar os efeitos que causam na vida prática do paciente. Mas e quando o consultório se torna morada dos fantasmas tangíveis do próprio analista?

Em “Visões do Passado” (Backtrack, Australia/2015), o psicólogo Peter Bowers (Adrien Brody) sofre com uma recente perda pessoal e ainda é assombrado por um acontecimento de sua adolescência. Sua vida passa por uma grande turbulência quando ele descobre um estranho segredo sobre seus pacientes. No limite de sua própria sanidade, Peter revira seu passado para descobrir as peças que, colcadas de maneira devida, podem esclarecer suas angústias.

O título original, ‘Backtrack’, inclusive, é muito mais congruente com a trama do que o genérico escolhido para a versão brasileira. Contudo, o que vemos é uma boa premissa que, se desenvolvida com mais ousadia, poderia ter se convertido em um suspense do calibre de um ‘Sexto Sentido’ ou ‘Os Outros’. Infelizmente, o diretor e roteirista australiano Michael Petroni preferiu enveredar pelo caminho mais fácil e palatável e construiu um suspense eivado de clichês, além dos sustinhos desnecessários que em nada acrescentam à trama. Ele não é um principiante na seara, pois abordou uma temática mais ou menos semelhante, envolvendo psicologia e mistério, em seu longa anterior, que em português coincidentemente tem um título semelhante, “Mistérios do Passado”.

Petroni se vale aqui de uma edição competente, uma bela fotografia e da atuação de Brody, que, embora em alguns momentos pareça acima do tom, queda-se correta na maior parte do filme.

A fragilidade do roteiro começa a ficar evidente no momento em que se encaminha para a resolução. Usa à exaustão o recurso de flashbacks, gerando redundância, extrapolando o didatismo, em uma altura em que já sabemos exatamente o que se passa, não precisamos mais de contextualização, e sim da resolução, que, depois de a trama andar em círculos, surge de forma apressada. Como um caso que ficou anos sem solução se resolve do dia para a noite? Nem com o serviço de inteligência mais eficiente conseguiria tal feito, quanto menos um posto de policia de uma cidadezinha australiana.

A reviravolta final consegue alcançar o desiderato da surpresa, mas a conclusão também peca pelo excesso e, mais uma vez, pelos clichês. No fim, “Visões do Passado” é um filme que, ao seu término, sai-se da sala de exibição com a incômoda sensação de dèja vu, apesar de um argumento sólido. É o típico caso que daria muito mais certo se valorizasse as sutilezas, como em “A Bruxa”, para dar um exemplo mais recente. Esse era um mote que pedia a subjetividade que é apenas sugerida no início da exibição. A aposta de Petroni em uma fórmula menos ousada  acabou lhe custando a chance de empreender uma produção digna de nota alta maiúscula

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