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“X-Men: Primeira Classe” evoca a tirania e acerta o espetáculo

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A verdadeira instituição cinematográfica chamada Star Wars, de George Lucas, foi fundamentada – em suas duas trilogias – na construção da tirania de Darth Vader, e suas implicações para o universo criado na série. No sexto e último filme da saga, A Vingança dos Sith (2005), por mais questionável que seja a sua existência (principalmente frente aos filmes anteriores) é inegável que a cena catártica em que Anakin Skywalker “veste” a máscara negra e incide pelo “lado negro da força” é simplesmente sensacional, tanto do ponto de vista dramático quanto do posto narrativo.

X-Men: Primeira Classe, novo filme da saga dos mutantes, que retrocede temporalmente para nos apresentar o início da organização e o processo de autodescoberta dos principais personagens da HQ, se absorve desta ambivalência heróica, principalmente na rica figura de Magneto e sua relação de amizade, e posterior antagonismo, com o Professor Xavier. Passado em 1963, na iminência da Crise dos Mísseis de Cuba, que fervilhou o embate político entre a União Soviética e os EUA. A superprodução acerta ao se valer de momentos históricos para posicionar cada vértice de sua trama, agregando todos os seus personagens às suas respectivas histórias.

O filme tem início nos anos 40, em meio ao terror do Holocausto, quando Erik Lehnsherr (Magneto, ainda criança) é descoberto num campo de concentração, através de seus poderes paranormais, pelo inescrupuloso Sebastian Shaw. A partir desse encontro, a vida de Erik é transformada pelo desejo de vingança, o que será a tônica principal da trama. Anos depois ele acaba encontrando outro mutante, Charles Xavier, que, auxiliados por uma agente da CIA (Rose Byrne) interessada em saber sobre a interferência da espécie nas decisões políticas, começam uma busca por outros mutantes clandestinos, para juntos, combaterem as pretensões de Shaw, que se mostram muito mais complexas e assimiláveis do que imaginam.

Como uma elegante (sim, elegante) direção de arte e dirigida com esmero por Matthew Vaughn (que, por sinal, mantêm o tom realista em seus efeitos visuais, efeitos esses, que tornaram Kick Ass ainda mais efetivo), a quarta continuação da saga mutante busca a origem de seus personagens, mas a bem empregada metáfora alegórica de sua criação (desde a HQ), que atinge às diversas minorias que compõem uma sociedade dá um tom mais dramático a essa premissa. As idiossincrasias dessas origens nivelam às motivações e as complicações que se sucedem até o final, que já conhecemos.

É preciso dizer que a força de um elenco coeso e adequado foi primordial para isso: Kevin Bacon tem a chance de redefinir sua carreira ao incorporar um cinismo espirituoso a seu Shaw. Há ainda um interessante relacionamento – Xavier e Mística – que encontrou em James McAvoy e Jennifer Lawrence uma empatia um tanto orgânica, muito pelo talento e segurança deles (ele cada vez melhor e ela numa atuação luminosa e demonstrando que sua indicação ao Oscar por Inverno da Alma não foi por ocasião). Mas é impossível não se deslumbrar com o caminho dramático que percorre Michael Fassbender até encontrar as sombras de seu Magneto, afinal sua saga particular redefine toda a trama dos X-Men e com isso carrega nas costas a alma do filme. Daí o paralelo com Star Wars e sua tragicidade anunciada.

Co-escrito e produzido por Bryan Singer, que esteve por trás dos dois melhores filmes da franquia (em especial o segundo, que é quase uma perfeição) X-Men: Primeira Classe consegue a façanha de agradar aos devotos, incrédulos e até os fãs de outras sagas clássicas e… nerds.

[xrr rating=4.5/5]

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