Bitscópio: Chrono Trigger

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Já foi a época em que o mundo dos gamers parava para esperar um novo RPG pelas mãos mágicas da Squaresoft. Hoje, como já discuti em um artigo prévio, os JRPGs perderam muito espaço e prestígio para as novas obras primas do ocidente (como Mass Effect ou qualquer outro jogo produzido pela Bioware).

Crono Trigger, como o próprio tema do jogo acabou resistindo a prova do tempo. Além de ser um dos jogos mais inesquecíveis da era 16 bits, o aclamado RPG ganhou duas grandes transposições, a primeira para o Playstation (antes do lançamento da continuação Chrono Cross), e a mais recente, no ano passado para o Nintendo DS (onde tive a oportunidade de jogá-lo pela milésima vez). Mas o que fez este pequeno cartucho de SNES para garantir sua imortalidade?

História

A trama de Chrono Trigger tem muitos desdobramentos e é extremamente horizontal. Eu poderia dizer que esta é a história de um pequeno garoto silencioso (só pode ser mudo porque é o único personagem que não fala no jogo inteiro) que acaba embarcando por acidente em uma jornada para salvar todas as eras do mundo.

Mas dizer apenas isso sobre uma história tão fantástica seria um crime, pois falar de Chrono Trigger é falar não apenas de Crono, mas sim de todos os fantásticos personagens que acabam por acompanha-lo e das eras que eles advêm.

Crono é o melhor amigo de Lucca (para todos os fins Bulma de Dragon Ball, só que com óculos e desenhada pelo mesmo Akira Toriyama), uma inventora que está expondo seu aparelho de tele-transporte na feira do Milênio. Ao chegar no local, o garoto acaba esbarrando em Marle que perde seu belo pingente, rapidamente recuperado, mas que serve de introdução à amizade dos dois.

Marle, muito empolgada com tudo, decide servir de cobaia para testar a máquina de tele-porte de Bulma, quer dizer, Lucca. O que ninguém esperava era que seu pingente interferiria na transação, abrindo na máquina um vortex temporal que sugaria a garota para uma outra época. Crono, como o herói destemido do jogo, vai atrás de Marle e acaba indo parar na alta Idade Média daquele mundo.

A partir daí, Crono vai se aventurando e se envolvendo nas mais diversas tramas e histórias ao longo das eras, tudo se agrava quando ele vai ao futuro distante e acaba por encontrar um mundo destruído pelo ataque do ser conhecido como Lavos. Munido desse conhecimento Crono e seus aliados vão viajando pela história do mundo e descobrindo as profundas raízes do ataque de Lavos, e como este ser seria uma das principais influências na civilização humana desde o início dos tempos.

Personagens

A principal força de Chrono Trigger está em seus personagens principais e nas cativantes tramas que eles estão envolvidos:

Crono: Como mencionado anteriormente, este aqui é o protagonista silencioso. Um garoto do ano 1.000 A.D. (Presente), que acabou se tornando o herói do tempo (quer dizer, o herói do tempo é o Link, mas Crono não fica atrás). Crono vivia em sua casa com sua mãe e seu gato e passava a maior parte de seu tempo com sua amiga Lucca. Crono é o personagem que nos identificamos imediatamente, na medida que ele é quase sempre o olhar ingênuo ou de fora de todos os acontecimentos. Descobrimos e percebemos tudo o que acontece a nossa volta junto de Crono, pois é o único personagem que não possui uma sub-trama própria além da caçada por Lavos. Vale dizer também que o herói de cabelo espetado é de muito longe um dos personagens mais fortes do jogo, tanto em ataques normais com sua Katana quanto em técnicas, nas quais utiliza a força da luz.

Marle: A minha personagem feminina favorita do jogo. Marle é doce, entusiasmada e meiga, mas mesmo assim está sempre pronta para tudo e disposta a defender os seus valores. Marle tem um complexo-de-buda na medida em que ela também é uma Princesa que decidiu fugir de seu palácio para conhecer o mundo. Ela vem de uma conturbada família real que se mete em diversos problemas ao longo das eras, e a jovem parece seguir a tradição da família pois é uma das principais responsáveis por meter o Crono em confusões. Marle é a clériga padrão do grupo, responsável pelas principais magias de cura (e por isso muitas vezes essencial em um grupo) assim como alguns ataques de Gelo. Sua arma é uma besta não muito forte. A jovem princesa serve de par romântico com Crono ao longo da história do jogo, o que também resulta em certas dores de cabeça para o rapaz.

Lucca: Assim como os dois personagens anteriores, Lucca também é do Presente. Amiga de infância de Crono, a jovem herdou a genialidade de seu pai, criando formidáveis engenhocas ao longo do jogo. É muito parecida com a personagem Bulma de Dragon Ball, inclusive em termos de traço (assim como qualquer personagem desenhado por Toriyama). A diferença repousa em duas características: ela não é obcecada em arranjar um namorado, e sim em salvar o mundo a partir do uso da tecnologia. Quando criança, sua mãe Lara (impossível esquecer esse nome, que você precisava escrever usando os botões L, R e A do seu SNES) foi aleijada na frente de Lucca, quando esta não conseguiu parar a máquina que havia prendido sua roupa. Traumatizada com o acontecimento, a menina cresceu entendo tudo o que podia sobre máquinas. Lucca usa uma pistola como arma principal e tem magias do elemento fogo.

Frog: E o que dizer de um dos mais adorados personagens de vídeo-games? Glenn ou Sir Frog era o escudeiro e melhor amigo do poderoso cavalheiro Sir Cyrus durante a Idade Média (600 A.D.). Junto com este lendário herói, ele ajudava o Reino dos homens a combater a ameaça representada por Magus e seu exército de goblins, monstros e feiticeiros. Em um épico embate, Cyrus acaba sendo morto por seu nêmesis, enquanto Glenn é tristemente transformado em um sapo (por isso o nome Frog). Mesmo depois da perda de sua aparência Frog continuou lutando, assumindo o fardo de seu mentor e amigo na guerra contra Magus. No jogo vemos em Frog tudo aquilo que podemos esperar de um cavaleiro perfeito, além da honra e da lealdade, sua habilidade com a espada é incomparável (e como é boa a trama da belíssima lâmina de Masamune), suas técnicas de água poderosas e seu carisma é épico. Frog sem dúvidas rouba a cena do jogo quando aparece, e para reforçar isso catei o genial tema do Frog (que prefiro no original) em um vídeo-clipe com a banda Mega Driver:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=2GYLlmmLxk0&feature=related[/youtube]

Robo: Abandonado em um futuro perdido (2.300 A.D.), Robo é encontrado pelo grupo e restaurado por Lucca. Rob é certamente um personagem amável com muitas situações interessantes, tanto por sua luta para entender o sentimentos de seus companheiros, mas como por sua ingenuidade amável e amor inabalável por tudo que é vivo. Robo tem muitas coisas para provar e enfrentar ao longo do jogo, e é o único que “viveu” intimamente a destruição que Lavos trouxe ao mundo. Seu visual é fantástico e SteamPunk muito antes do estilo virar moda, e suas habilidades em combate provêm de seu armamento avançado. Infelizmente, dada a ausência de magia, eu raramente o colocava em minha party, mas reconheço sua utilidade quando o jogo me obrigava a jogar com ele.

Ayla: A progenitora do grupo, líder de uma humanidade que viveu há 65 milhões de anos, durante a Pré-história. Ayla é a intrépida responsável pelos macacos pelados em sua eterna na luta contra a civilização dos répteis comandada por Azala. Casada com o fraco Kino, Ayla é certamente uma das personagens mais engraçadas, justamente por sua “macheza” e falta de modos. “O que Ayla quer, Ayla pega e o que Ayla não gosta, Ayla bate” e bate muito. A loira certamente sabe dar dano, e ao contrário de todos os outros personagens, ela só usa os próprios punhos em uma luta (além de um eventual beijinho no inimigo). Ayla é uma adição versátil e interessante ao grupo, ainda que eu também não cedesse muito espaço para ela quando jogava.

Magus: E como não poderia faltar em um JRPG, todo grande grupo precisa de um badboy. Magus é durante boa parte do jogo, um dos grandes vilões que se deve combater, especialmente para Frog. Mesmo assim, este poderoso feiticeiro nascido na Antiguidade Mágica (12.000 B.C.) acaba compreendendo que Lavos, a fonte de poder de seu império, representa na verdade uma grande ameaça a existência como um todo e acaba por fim a se unir ao grupo de viajantes do tempo. Magus é prepotente, poderoso e solitário, mas temos a chance de ver sua história desde sua infância, nos possibilitando um envolvente elo empático com as motivações e personalidade deste líder. Magus é de longe um dos melhores personagens para se ter em um grupo, com sua Foice devastadora e a poderosa Magia das Trevas. Fora isso, ele tem o visual mais cool também, o que já é motivo suficiente em um JRPG.

Terminada a apresentação de personagens, devo dizer que minhas duas formações de party preferidas eram: Crono, Marle e Frog e depois Crono, Frog e Magus, onde perde-se um pouco em cura mas ganha-se muito poder de fogo.

Gameplay

Outros fatores que faziam desse RPG algo tão incrível era seu fantástico gameplay e desenvolvimento de jogo: Ágil, bonito e funcional.

Ao contrário da maioria dos RPGs da Square na época, Chrono Trigger tinha um sistema de combate que mesclava a ação em turno com a ação em tempo real que funcionava muito bem e dava muita dinâmicidade as lutas. Outra imensa vantagem diante de seus irmãos era a ausência de batalhas aleatórias. Exceto quando se tratava de emboscadas, todos os inimigos do jogo se encontravam presentes no mapa, o que tornava boa parte das lutas opcional. Nesse quesito, eu sempre preferi mil vezes as lutas de Chrono Triggers à aquelas de seu rival e irmão Final Fantasy IV.

Sem dúvidas a coisa mais genial deste RPG era a mecânica de viagem no tempo e as múltiplas ramificações que isso gerava. Não apenas era possível ver claramente o reflexo das suas ações de uma era para outra, como isso possibilitava que um jogo de Super Nintendo oferecesse treze finais diferentes. Era fantástico chegar na casa da Fiona durante a Idade Média, cercada por um deserto, e oferecer a ajuda de Robo para que ele ficasse lá a ajudando a restaurar a floresta. Logo em seguida o grupo senta na Epoch (a máquina do tempo voadora) e alguns minutos depois estão no mesmo local 400 anos no futuro, e onde havia um deserto agora existe uma imensa floresta. No coração dela está uma catedral dedicada ao criador destas árvores Robo, agora apenas uma carcaça depois de 400 anos de trabalho, mas que é rapidamente consertado por Lucca. Tenho que mencionar de novo que o jogo tinha 13 finais? Quão legal é isso? Nem Heavy Rain hoje em dia chegou a esse número.

Por esse tipo de mecânica Chrono Trigger é um dos melhores RPGs já produzidos para vídeo-game e certamente continuará imortal. Mesmo em seu re-lançamento ano passado no Nintendo DS os gráficos ultrapassados do 16 bits não estragam de forma alguma o jogo que se mantém forte e brilhante 15 anos depois de ter sido lançado. A nova versão vale a aquisição e oferece algumas coisas além do pacote original, como animações, uma jukebox, um modo de jogo online e algumas fases secretas. É uma releitura que todo fã deveria adquirir.

E a música? Bem a música fala por si mesma:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=hOmgIZZuI68&feature=related[/youtube]

Para todos que amam o jogo, este artigo deve ser pura nostalgia sobre este clássico do Super Nintendo, para aqueles que não conhecem, digo para buscarem, pois estão perdendo um dos melhores jogos já produzidos. De toda forma, ainda fica a esperança da realização de uma seqüência de verdade para Chrono Trigger (Chrono Cross é bom mas não conta), que a Square nunca negou estar interessada em tentar, e com o jogo novamente fresco no mercado, é possível que isto realmente aconteça em breve. Torçamos.

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8 thoughts on “Bitscópio: Chrono Trigger

  1. Best RPG ever!! Nuff' said.

  2. Este é com certeza o melhor rpg de todos os tempos. Já virei ele umas 100 vezes e comprei ele pro meu DS. Este é um daqueles jogos que a gente tem que ter em casa original. Podiam relançar tb o Ocarina pro Ds. Daí eu ia ser um nerd completamente feliz. ehehe

  3. Pô, nem li o texto ainda mas já vim comentar que, realmente, (second) best rpg ever! Amo esse jogo.

  4. Tem 2 meses q eu consegui zerar pela primeira vez esse jogo. Foram 8 anos de tentantivas frustradas e hqs queimados n processo e posso garantir,mesmo com os gráficos já datados…….
    É o melhor rpg de video game já criado. Até hj n entendo pq a Square e o Toryama n lançaram um anime dessa série.

  5. Nossa, a massamune é memorável.
    E a riqueza da história de magus, e a viagem no tempo. O melhor final é o que se perde para o lagarto na pré-hisória, e o cronos se transforma em um homrm lagarto na época atual. Game épico.

  6. OBS: faltou citar os ataques em duplas do game (que davam uma grande possibilidade de encaixes de grupos)

  7. Uma obra-prima da história dos jogos. É um dos únicos RPGs que explica porque não podemos andar com mais de 3 personagens no grupo.

    História absolutamente perfeita, jogabilidade e gameplay extraordinários. No quesito trilha-sonora então, nem se fala. Só de ouvir novamente o tema do Frog já arrepiei aqui. Nostalgia foda!

  8. É o melhor, melhor, melhor e melhor, não tem como definir. É bom demais, não tem CG ou jogo com múltiplos efeitos que supere o prazer desse jogo e sua história. Um jogo que não cansa, divertido.