Bitscópio: Final Fantasy VII

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O jogo mais amado pelos fãs de Final Fantasy finalmente chega ao Bitscópio. Ele foi uma das maiores febres do primeiro PlayStation e com certeza é o jogo mais lembrado da franquia devido à importância que tomou entre fãs e seus criadores.

Este Bitscópio vai ser um pouco diferente dos demais. Eu vou começar normalmente, traçando algumas histórias a respeito do jogo e um breve resumo do enredo principal. A partir dali em diante, vou colar trechos de um entrevista que eu fiz com dois amigos, jogadores viciados em Final Fantasy, e suas considerações em geral a respeito do jogo. A primeira é a Sarah, antiga colunista do Outer Space e atual dona do site Shoe Me. O outro é o Leleco, dono de um dos mais vastos repertórios de Final Fantasy e crítico ferrenho dos novos jogos.

Antes de falar do jogo em si, é interessante ver o quanto as escolhas da Square foram acertadas ao decidir abandonar o formato dos cartuchos para os discos do PS1. A Nintendo ainda insistia em jogos em cartuchos e mesmo tendo conseguido expandir bem a memória de dados dos mesmos, não vislumbrava que o futuro estava em mídias flexíveis e expansíveis, como CDs, DVDs e agora o Blu-Ray. A aceitação disso veio inicialmente com o Game Cube, que usava os Nintendo GameCube Game Discs, que na verdade eram mini DVDs de 1.4gb de memória criados pela Matsuchita para evitar o pagamento de royalties pelo uso de DVD ao consórcio Sony, Toshiba, Warner e Phillips.

Ainda assim, na época do Playstation 1, o N64 era o que a Nintendo tinha de melhor, só que seus 64 megas de espaço em disco nos cartuchos perdiam, e feio, para os quase 700 megas de espaço nos CDs da Sony. A Square e a Enix, que até então eram parceiras da Nintendo, pularam o muro e foram para a vizinha que oferecia mais conforto para os planos grandiosos.

Com isso em conta, começou o desenvolvimento do jogo que faria as vendas dos PS1 chegarem a patamares nunca antes imaginados pela Sony. Para se ter uma idéia, apenas na primeira semana foram vendidas 2,5 milhões de unidades do jogo, totalizando 9,8 milhões até hoje, isso porque era um jogo que vinha em uma caixa com 4 CDs.

A equipe de criação ainda continha Nobuo Uematsu na trilha, mas Yoshitaka Amano foi substituido por Tetsuya Nomura. Hironobu Sakaguchi ainda era o criador e principal fonte de inspiração, mas no final, o jogo teve seu enredo criado por Kazushige Nojima e Yoshinori Kitase, baseados na idéia de Sakaguchi e Nomura. Até então, o orçamento do jogo tinha sido o maior da história, US$ 30 milhões, com 120 artistas e programadores trabalhando na equipe do jogo. Algumas das idéias não chegaram ao jogo final, sendo aproveitadas em Chrono Trigger, que foi desenvolvido basicamente pela mesma equipe.

Assim, passo a uma breve análise do jogo, comentada por dois ex-jogadores que tiveram diversos momentos marcantes durante todo tempo em que jogaram. Com certeza irão surgir spoilers da história, ou seja, se você nunca jogou e ainda pretende jogar, por favor, pule o capítulo abaixo e vá direto à Jogabilidade. Antes de começar a falar do jogo, a abertura e a primeira missão do jogo.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=CBvnot7pkvg[/youtube]

O Jogo

A história é o famoso conto do soldado que se vê diante da difícil decisão de trair os companheiros e o governo em prol de um mundo melhor. Cloud era um soldado do grupo de elite conhecido como SOLDIER e após alguns eventos acaba abandonando-os e se juntando ao AVALANCHE, uma comunidade basicamente formada de eco-terroristas que querem acabar com a exploração dos recursos naturais do planeta pela corporação Shinra.

Tudo em Midgar, principal cidade de Gaia, o planeta em que nos encontramos. O grupo AVALANCHE ataca diversos reatores Mako ao redor da cidade, e começamos o jogo em um destes ataques. Com a explosão do reator, Cloud é lançado na parte baixa da cidade, onde encontra Aeris. Ele protege Aeris do ataque de um grupo chamado Turks, que querem capturá-la e levá-la a Shinra.

Eventualmente, o esconderijo do AVALANCHE é descoberto e Shinra, para evitar qualquer tipo de risco, destrói todo o setor da cidade em que ele ficava, matando a população que ali morava também. Todos conseguem fugir, mas Aeris é capturada e levada a Shinra. Seu grupo invade o prédio e salva ela e Red XIII, uma espécie de leão modificado genéticamente pela corporação. Na fuga, o prédio todo está quase silencioso graças a ação de Sephiroth, que matou boa parte do pessoal e o presidente da corporação, dizendo que eles nunca iriam conseguir seus objetivos de dominar a Terra Prometida.

Com medo das intenções de Sephiroth, seu grupo o persegue e descobre que ele pretende usar uma magia chamada Meteoro para abrir um rasgo no planeta e reunir-se com toda energia regenerativa dele, se tornando uma espécie de deus que irá dominar tudo.

Com a história em mente, vamos à breve, porém hilária, entrevista cheia de palavrões com Sarah e Leleco.

J.R. Dib: Me fala da sua história com Final Fantasy VII.
Sarah: O VII joguei assim que saiu. Vi na REVISTA AÇAO GAMES [essa era clássica], assim que saiu, corri na loja e  comprei o meu. O Gama [outro colega nosso que sumiu no dia da entrevista] tinha encomendado o Game Guide, já que o pai dele tava nos EUA. Eu comprei e fiquei esperando o Game Guide pra jogar, eu queria a porra do GAME GUIDE. Pela primeira vez na vida eu pensei “caraio, vou zerar um RPG no 100%”. Mas eu peguei o jogo e comecei sem Game Guide mesmo.
J.R. Dib: Quando começou o jogo, o que você achou da história?
Sarah: Eu fiquei bem confusa, pra ser sincera. Entendia que tinha uma milícia [AVALANCHE], um povo contra o governo e você era um soldado sem pátria [Cloud]. Mas de maneira geral eu estava bem perdida, estava mais preocupada em entender o sistema de materia do que a história.


J.R. Dib: E qual era o esquema do sistema de materia, você lembra ate hoje?
Sarah: Lembro. Você enfiava as materias nos seus equipamentos e isso conferia habilidades desde defesa até golpes e summons. Os summons eram fodas. Era aquela coisa MÁRRICA. Nunca antes NA HISTÓRIA eu tinha visto golpes que demoravam 1min e 45 para serem realizados. Depois você aprende o botão de atalho, mas dependendo do rival, você FAZ QUESTAO de assistir inteiro.
J.R. Dib: Qual, por exemplo, você fazia questão?
Sarah: Cara, tinha um tiranossauro que você tinha que matar pra conseguir um item, uma noz, se não me engano, pra fazer seus Chocobos TREPAREM. Como eu abri minha fazenda de chocobos logo no começo, meu level tava cagado, mas eu queria a porra da noz, aí ei fui na ilha lá pra matar o tiranossauro e o level era BEM maior que o meu, 10 minutos pra começar a matar o bicho e, claro, nos chefes chatos como as weapons, elas mereciam os summons de 4 minutos.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=fQcIwL5CG8Y[/youtube]

J.R. Dib: Qual era o melhor Summon?
Sarah: Knights of the round
J.R. Dib: Qual mais?
Sarah: Eu gostava de um que não lembro o nome. Era a Morte com um caldeirão. Dava status cagados pros bichos.

J.R. Dib: Hades, dava Sleep, Poison, Confusion, Silence, Frog, Small nos adversários.
Nisso, Leleco entra online
J.R. Dib: Leleco, melhor Summon:
Leleco: Ah, essa nao tem graça… (é fato notório na turma que ele ama a Shiva, não importa a bucha que ela seja).
J.R. Dib: Tá, então o mais poderoso, porque aquela Shiva só era legal de ver.
Leleco: Odin era o mais fodão. Ah, esquece o Odin, o summon mais foda era o Knights.
J.R. Dib: Uai, por que mudou?
Leleco:
Porque eles eram os mais fortes, incontestavelmente. Só com eles e a materia Mime pra matar as Weapons.

J.R. Dib: E as Weapon? Mataram todas?
Sarah:
Não matei a Emerald, nunca.
Leleco: Não. Faltou a Rubi e a Emerald.

J.R. Dib: Por quê? O que precisava pra matar?
Sarah: Paciência. Cara, eu não tenho paciência para 40min de batalha dando mime mime mime.
Leleco:
A Diamond, apesar do nome, era a mais fácil. Diamond era que que voava? Foi essa que eu matei.
Sarah:
A Ruby ficava no deserto e a Emerald no fundo do mar.
J.R. Dib: Ou seja, vocês ficaram sem matar todas as três Weapons.
Leleco: Essa é umas das frustrações da minha vida, não ter matado as três.

J.R. Dib: E seus personagens jogáveis preferidos, eram quais?
Sarah: Cloud, Red XIII e Yuffie.
Leleco: Também.
Sarah: Red era um lixo hospitalar e Yuffie era uma mina perdida na vida.

J.R. Dib: Eu estou evitando falar um pouco sobre uma certa personagem que eu sei que você tinha um carinho enorme (coff, coff, mentira), mas que o jogo te fudeu em todos os sentido, a Aeris.
Sarah:
Ah sim. A história. A MÍTICA. Eu, quando jogava RPG antigamente escolhia alguns personagens para subir level e a Aeris era healer. Eu nunca subi muito level de healer, prefiro descer porrada e usar potion, mas isso é estilo. Enfim, pra entrar em determinado lugar, em uma praia/templo, o jogo me obrigava a entrar com a Aeris, e no meu jogo ela tava com o level muito baixo. Aí eu pensei “porra, preciso subir o level dessa inutil”. E lá fui eu, voltei tudo, comecei a subir o level dela com lutas, lutas, lutas. Comprei armas, viajei até a ilha onde tinha a ARMA MAIS CARA, juntei dinheiro, comprei, dei a arma pra Aeris, comprei materia. Vamo vadia, vamo que vamo. Entrei na porra do templo e em 10 minutos a Aeris MORREU. MORREU BROTHER, a vadia, morreu. E O TEMPO? O DINHEIRO? A PACIÊNCIA? A vadia levou com ela. Vadia inútil. Personagem podre, sem personalidade. Ódio, odeio a Aeris, odeio.

J.R. Dib: Mas assim, em termos de jogo, eu sei que tu ficou puta, mas foi um choque ver o Sephiroth descendo e matando ela?
Sarah:
Cara, na cena que ela morre, a Aeris usa matérias presas no cabelo. O Sephiroth corta a puta e voa as materias pra dentro de um lago, e eu pensei: CARALHO, DEVOLVE MINHAS MATERIAS. Tal era o grau de raiva. Eu nunca gostei dela. Mina mal vestida, vendedora de flores (nada contra a profissão), toda frutinha…

J.R. Dib: Eu perguntei porque numa dessas eleições de internet essa cena foi eleita como uma das mais chocantes dos games.
Sarah: Eu sei que não fiz 100% do jogo, mas matei o Sephiroth em três turnos. Eu tava com todos personagens em nível máximo, os summons davam todos 99.999 de dano e só usei eles no último turno. Ele dava Meteoro, o golpe não tirava nada. Fiquei com dó dele.

Daí em diante, o assunto descambou para os outros jogos da série e lembranças boas da época em que jogar 27 horas seguidas era coisa normal, mas deu para perceber o sentimento geral que o jogo ocasionou nos jogadores.

Jogabilidade

Usando o Active Time Battle, mesmo de FF VI, cada um dos três personagens na tela de combate tinha um certo tempo para agir, tempo no qual podia-se selecionar a ação a ser tomada, desde ataques, uso de magias, itens, summons, etc. As telas de combate são as clássicas de RPG: de um lado seu grupo e do outro os inimigos. A variação do posicionamento do grupo só se dava pela ordem da escolha dos mesmos, sem muita influência no combate em si.

Como já dissemos no papo ali em cima, os summons, pela primeira vez no jogo, tinham longas animações que poderiam durar mais de um minuto para o desferimento final do golpe. Para a época, eram animações maravilhosas e realmente dignas de serem vistas por completo.

A história em si tem grandes reviravoltas e até mesmo a morte da Aeris tem um propósito final no jogo, por mais que a Sarah tenha sido enganada a ponto de nivelar ela para logo em seguida vir o Sephiroth e a matar com um golpe, sem direito a sequer uma batalha contra ele.

O Vilão

Falando em vilão, Sephiroth é visto pela grande maioria dos fãs de Final Fantasy como o vilão supremo da saga. Um soldado que se vira contra seus comandantes após descobrir seu passado e, em seus delírios de ambição e poder, resolve se tornar um deus. Só que ele é uma experiência mal fadada desde seu começo, ele é falho em alguns aspectos e isso acaba apenas por torná-lo mais especial aos fãs.

Ele foi criado por Tetsuya Nomura e o ilustrador Yoshitaka Amano para ser o oposto em todos os sentidos a Cloud. A vilania e frieza de Sephiroth em diversos momentos do jogo fazem com que ele seja totalmente distinto dos vilões cheios de gargalhadas histéricas. O único momento em que ele surtava era quando citava sua mãe, Jenova, que em verdade era um projeto secreto do governo, o qual trouxe ele a vida.

A batalha final, após o renascimento de Sephiroth em sua nova forma, a já famosa forma do One Winged Angel é travada ao som da primeira música totalmente gravada em formato que não o .mid para um jogo. Uma orquestra e coral em um som que até hoje é lembrado pelos fãs. Na animação Final Fantasy: Advent Children, que se passa alguns anos após a queda de Sephiroth, a batalha final é travada ao som de uma nova e mais moderna versão desta música, a qual todos os fãs que foram no Video Games Live teve o prazer de ouvir ao vivo.

Um outro fato interessante é que ele é o portador da espada Masamune, e único que pode utilizá-la perfeitamente. Em outros jogos da série ela é uma das armas possíveis aos personagens jogáveis, mas aqui não.

Trilha sonora

Como eu disse acima, a trilha de Nobuo Uematsu é uma das mais marcantes da série. A música da batalha final, One Winged Angel, foi a primeira música na série a ter vocais digitalizados ao invés dos clássicos .mid. Além dela, na fatídica cena de morte de Aeris toca seu tema, um dos mais tristes de toda a série, retratando aquele momento e o marcando para sempre na memória de todos os jogadores.

Nobuo disse que em razão desta evolução da qualidade sonora, ele poderia criar peças mais realistas. A trilha toda tem ao todo quatro discos e foi relançada em diversas coletâneas, uma delas chamada Piano Collections Final Fantasy VII, é uma das mais belas de todas as coleções lançadas pela Square.

Aqueles que nunca tiveram o privilégio de jogar, se um dia quiserem, poderão baixar o jogo original pela rede da PSN e o jogar em seu PS3. Ainda existem versões originais que podem ser compradas na rede em diversos sites, mas comprar pela PSN é o ideal, já que o jogo sofreu as devidas modificações para se adequar aos novos tempos e gráficos. Lá em cima, vimos a abertura do jogo em sua versão original, abaixo, um vídeo mostrado na E3 2009, com a mesma abertura, mas em gráficos do PS3.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=thsnDqQu0mQ[/youtube]

Na semana que vem, Final Fantasy VIII e sua louca história de amor.

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2 thoughts on “Bitscópio: Final Fantasy VII

  1. Excelente artigo, Dib! Meu jogo preferido de todos os tempos mesmo. Um dia tem que rolar um artigo sobre os jogos e filmes derivados de FFVII!!!

  2. I thought it was going to be some boring old post, but it really compensated for my time. I will post a link to this page on my blog. I am sure my visitors will find that very useful.