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Alexandre Cavalo Dias lança “Cobaia 09”, uma reflexão sobre desigualdade de gênero

Lançada pela Caravana Grupo Editorial, escritor, roteirista e músico paulistano apresenta livro sobre saúde mental e a importância dos laços afetivos para uma mulher lutando por sobrevivência

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“Somos feitos das experiências que vivenciamos ao longo da vida. (…) Tem um quê de sabores inusitados, de mística, de criação e o toque único da mixologia: a arte de criar sabores a partir de uma mistura alcoólica, de cores, texturas e gostos que tornam cada receita única. Nossas memórias e sensações podem, no meu ponto de vista, ser traduzidas em um gole, uma textura ou um aroma.”

Stephanie Marinkovic bartender e mixologista que inspirou a história, no texto de orelha do livro

Estela é uma bartender talentosa que faz drinques capazes de oferecer exatamente o que o cliente precisa no momento. Mas esse excesso de empatia cobra um alto preço para a garota, que é sensível como ninguém às emoções alheias. Essa é a premissa de “Cobaia 09”  (Caravana Grupo Editorial, 200 pág.), romance de Alexandre Cavalo Dias. O evento de lançamento está marcado para dia 24, às 19h, no Bar dos Cravos (R. Osório Duque Estrada, 41 – Paraíso), em São Paulo, e contará com um drink especialmente criado para o evento.

Sete em cada dez pessoas com depressão ou ansiedade são mulheres, de acordo com pesquisa do Think Olga, organização não-governamental de inovação social. Esse universo é transportado a “Cobaia 09” em um thriller que mistura suspense, terror e ficção científica. Alexandre retrata a decadência da saúde mental de uma mulher em um contexto de extrema desigualdade de gênero, a partir de uma reflexão sobre o desaparecimento de pessoas que pode acontecer todos os dias em uma grande cidade. O Mapa da Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP)  mostrou que o Brasil registrou, em média, 225 desaparecimentos por dia em 2023.

Escritor e músico paulistano, Alexandre escreveu “Cobaia 09” durante as viagens de turnês. “O primeiro tratamento do livro foi relativamente rápido”, conta o autor, que escreveu a obra à mão em um caderno e depois reescreveu mais três vezes no computador. “O problema foi reescrever, jogar grandes pedaços fora até deixar a história interessante.” Alexandre conta que chegou a arquivar a história por um tempo até encontrar um caminho para seu antagonista, “um médico sádico que inventou uma máquina que transformava a empatia em uma droga poderosa.”

Já sua protagonista, Estela, foi baseada em Stephanie Marinkovic, uma bartender e mixologista premiada que fazia drinques em um bar no tradicional bairro do Bixiga, em São Paulo. “Quando experimentei pela primeira vez fiquei muito impressionado e logo nos tornamos amigos”, recorda Alexandre. O autor conta que se perguntava como alguém poderia fazer misturas tão saborosas e a ideia de uma bartender com poderes empáticos nasceu. “O que a Ste fazia parecia mágica.” A bartender leu o livro ainda nos primeiros capítulos e virou consultora, além de inspiração.

Trabalhando no Sensitive Bar, Estela não apenas oferece drinques personalizados para seus clientes, como desfaz simbolicamente a barreira de seu balcão ao se envolver profundamente nos conflitos e sentimentos de quem está do outro lado. Seja ao evitar que um conhecido tire a própria vida ou para encantar involuntariamente uma jornalista curiosa e experiente, Estela usa “poder”, mas não passa ilesa por ele.

A capacidade de “absorver” os anseios e preocupações ao seu redor gera um desgaste constante do emocional de Estela, que como boa bartender misteriosa, teme em compartilhar muito da sua vida com outras pessoas. A exceção a esse comportamento recluso é a amizade com Marcos, dono do bar, que a socorre em momentos de vulnerabilidade, e a gatinha Lilith, a Lili, companheira felina da protagonista.

Esse ambiente de oscilação emocional é ainda mais abalado quando dois personagens totalmente opostos cruzam o caminho da bartender. De um lado, Cecília, uma jornalista em ascensão que é atraída ao balcão de Estela em um momento de celebração, mas termina por se envolver profundamente com a vida da reservada bartender.

Do outro lado, está o principal antagonista de Estela, um médico rico e autocentrado que, por trás de sua carreira bem-sucedida, esconde um vazio emocional e uma incapacidade de se sensibilizar com qualquer pessoa que não seja um caminho para alcançar seus objetivos. Mas esse abismo sentimental não impede a ambição do médico em alimentar seus próprios vícios. Alusão do autor aos vampiros clássicos das histórias góticas, em “Cobaia 09” as vítimas não são acorrentadas em calabouços, mas sim em um laboratório, versão high tech e atualizada do castelo medieval, onde realiza um experimento macabro que o leva a drenar emocionalmente outras pessoas.

O encontro desses personagens leva o leitor por uma viagem pela perversidade do patriarcado que empodera os homens a enxergar as mulheres apenas como objetos utilitários para a satisfação de seus desejos. O apoio na amizade de Marcos e o fortalecimento pelo amor de Cecília serão suficientes para que Estela possa sobreviver?

Escritor e músico: conheça o autor Alexandre Cavalo Dias

Influenciado por uma lista variada de autores que incluem John Lindqvist, Shirley Jackson, Stephen King, Rubem Fonseca, Joe Nesbo, You-Jeong, Raphael Montes, Peter Straub, além dos quadrinistas Neil Gaiman, Junji Ito e Alan Moore, Alexandre sempre se interessou pela mistura entre suspense psicológico com pitadas de terror. “Escrevo de forma bem direta, como uma série de TV”, explica o autor que usou um narrador em terceira pessoa para guiar o leitor na aventura da protagonista. “As cenas são encadeadas para manter o suspense, sem desviar o leitor para passagens sem importância para a trama final.”

Alexandre é músico, compositor, escritor, editor e roteirista de quadrinhos. “Escrevo desde sempre, mas profissionalmente, a partir dos anos 90 fazendo roteiros de HQs, letras de músicas e textos para revistas pequenas”, explica. Na Abril Jovem, roteirizou histórias para as revistas de Zé Carioca, Urtigão e Margarida. Lançou sua primeira Graphic Novel em 2005, pela Brainstore, chamada “Noite de Caça”.

Um dos fundadores da banda “Velhas Virgens”, Alexandre conta que começou a escrever com foco em histórias em quadrinhos e na composição de letras de música. Como músico, criou em 1999 a gravadora e editora Gabaju Records, produziu e lançou 19 CDs da sua banda, 5 DVDs e algumas HQs. Em 2021 recebeu uma indicação ao Grammy Latino como melhor álbum de rock pelo lançamento do disco “O Bar Me Chama”.

Em “Cobaia 09”, Alexandre acredita que a força das relações é a principal mensagem do livro: “É a importância da amizade e do amor na vida de qualquer um. Até dos mais reclusos”. Mas também enfatiza o cuidado da saúde mental como uma das principais reflexões de sua história. O autor destaca como insistir na escrita é fundamental para aprender o ofício e como trabalhos anteriores ajudaram a encarar seus personagens “Todo livro é uma parte que arrancamos de nós mesmos. Muitas vezes à força. Esse não é diferente”, analisa. “Ficar tão próximo de dois personagens tão antagônicos me fez refletir sobre o meu papel de homem daqui pra frente.”

Confira um trecho do livro:

“Estela fazia malabarismos com os inúmeros ingredientes e garrafas, organizados no balcão do bar e nas prateleiras ao fundo. Destreza de quem desenvolveu paladar e olfato apurados. Concebia e misturava elementos variados para criar sabores inebriantes. A habilidade cativava os clientes como o público em um show. Para além dos truques, o que fazia diferença era a mágica da artista. Estela olhava dentro dos olhos da pessoa e sua intuição fervilhava: enxergava anseios, medos e desejos. Podia-se sentir o calor brotando do seu corpo, um brilho invisível. Estela ficava quase etérea, espectral, então respirava fundo e fazia a bebida perfeita. Quem provava a delícia líquida sentia emoções distintas e únicas. Era o reconhecimento de lembranças, sentimentos ou mesmo histórias esquecidas em algum ponto do inconsciente. Toda taça vinha carregada de sensações fortes e pessoais. Se o Sensitive Bar tinha uma alma, era a bartender Estela.”

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