O caso de Denise Bottmann e editora Landmark

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Na semana passada, tradutores, blogueiros e pessoas ligadas à literatura se indignaram com um caso que veio à tona. Em 2007, Denise Bottmann, tradutora e autora do blog Não Gosto de Plágio, publicou alguns posts que evidenciariam um caso de uso indevido de tradução por parte da editora Landmark. O plágio seria da versão publicada pela editora Europa-América do livro Persuasão, de Jane Austin, e também O Morro dos Ventos Uivantes, publicada originalmente pela Bruguesa. Além de Denise, a Landmark processou Raquel Sallaberry, do blog Jane Austen, quem primeiro falou sobre o caso.

Casos de cópia de traduções, reeditadas e publicadas por editoras diferentes, são comuns aqui no Brasil Raquel Sallaberry, ao notar semelhanças entre as duas edições de Persuasão durante uma sessão de leitura da obra, entrou em contato com a Landmark pedindo explicações, mas não obteve resposta. Então alertou Denise, que divulgou as suspeitas no Não Gosto de Plágio.  Ela comparou as diferentes edições dos livros, mostrando que haviam passagens iguais neles, até com os mesmos erros. E a Landmark não gostou nada disso.

Na semana passada, então, Denise disse em seu blog que foi processada pela Landmark. A editora pedia a retirada do blog Não Gosto de Plágio do ar, com tutela antecipada, ou seja, que fosse excluído antes mesmo do julgamento. Além disso, exigiu no processo uma indenização por danos morais e materiais no valor de 400 salários mínimos. E, para cavar sua própria cova, solicitou publicidade restrita alegando “direito de esquecimento”. E o que aconteceu? O juiz não só não aceitou o pedido de tutela antecipada como também não ordenou que o caso ficasse em sigilo.

Resultado: a ação contra Denise foi logo divulgada por ela e espalhada por toda a internet. Blogueiros, jornalistas, e principalmente outros tradutores apoiaram Denise, e a imagem da Landmark ficou pior do que já era. Ao tentar esconder as acusações que havia sofrido, só fez aumentar a publicidade acima do ato exagerado que tomou. É, porque exigir a retirada de um blog da internet além de uma soma em dinheiro absurda de Denise foi um grande exagero.

Claro que se a editora se sentiu lesada pela blogueira ela tem todo o direito de exigir justiça. Porém, uma conversa antecipada com Denise poderia ter resolvido a questão. Ou então que pedisse apenas a retirada dos textos incriminatórios do blog. Mas não: preferiram dar chilique.

Poucos dias depois, os tradutores Eloisa Jahn, Jorio Dauster, Ivone Benedetti e Ivo Barroso, fizeram um manifesto a favor de Denise. A tradutora, dizem no texto, trabalhou para denunciar diversas editoras que fraudavam traduções, prática que fere os direitos autorais, causa concorrência desleal e risco de patrimônio nacional. O texto atesta para o andamento das acusações de plágio contra a Landmark. Os tradutores ainda estão recolhendo assinaturas daqueles que apóiam Denise e defenduwem o seu trabalho.

O caso segue na justiça. Denise já foi processada antes pela editora Martin Claret, nome bastante lembrado quando o assunto é plágio, e venceu. As investigações agora devem provar se a Landmark realmente fraudou as traduções de Persuasão e O Morro dos Ventos Uivantes.  Caso o fez, é mais uma editora desmascarada por Denise. Se não, basta esperar que a editora tenha bom senso e retire pelo menos parte das exigências do processo. A comunicação na internet através dos blogs já atingiu um patamar importante, e querer tirar uma página do ar por que seu conteúdo não agrada é tão exagerado quanto querer fechar uma emissora de TV. Só porque um blog pode ser criado por qualquer pessoa, não significa que ele também possa ser deletado por qualquer um.

O trabalho de Denise no Não Gosto de Plágio não é feito por dinheiro, apenas por reconhecimento e respeito. E a Landmark mostrou com suas exigências que, mesmo se for inocente, não tem respeito algum a esse trabalho, nem ao de outros tradutores. Ela só serve como um exemplo de como afundar a própria imagem.  Que esse caso acabe bem… para Denise.

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3 thoughts on “O caso de Denise Bottmann e editora Landmark

  1. prezado ambrosia: agradeço o apoio e a divulgação.