Literatura

A bola da vez: “Sussurro”, de Becca Fitzpatrick

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A expressão dos males o menor vem me sendo bastante útil todas as vezes que preciso descrever Sussurro, de Becca Fitzpatrick. De fato, no meio da multidão de livros sobrenaturais de mulherzinha que estão cada vez mais em voga – leia-se vampiros frouxos-barra-vegetarianos, imortais afeminados etc. e tal – Sussurro se destaca com uma trama levemente acima da média. Nele, os vampiros permanecem em seus caixões, para que anjos caídos povoem a ficção.

No que diz respeito às sensações literárias adolescentes, tudo indica que os anjos – sobretudo os caídos – sejam a “bola da vez”. Com o lançamento de Crescendo, segundo livro da série, previsto para o dia 11 desse mês, as atenções novamente se voltam para Fitzpatrick e sua premissa simples e banal que cada vez mais se eleva em termos de lucro.

Aos dezesseis anos, Nora Gray é perfeitamente comum. Órfã de pai, mora sozinha com a mãe num casarão ligeiramente afastado da cidade; tem uma melhor amiga, boas notas, aparência mediana e pretensões universitárias razoavelmente possíveis. Sempre com espaços vagos na agenda, ela não tem encontros, noites vadias ou pretendentes. E é assim. Uma vida medíocre, desprovida de emoções ou fascínio. Ela não desejaria nada diferente, sobretudo, Patch, o aluno novo que desagradavelmente se torna seu parceiro na classe de Biologia. É mais ou menos à primeira vista que os dois se apaixonam, a típica paixão confundida com ódio, comum à literatura jovem.

Definitivamente, ela não gosta da arrogância dele, nem deu seu sorriso debochado, ou de seu olhar muito escuro, impenetrável. Não gosta do tom debochado que ele usa para desvendá-la, nem de seu mistério, de seu perigo. Não gosta. Ponto. Independente disso, não pensa em outra coisa.

Garoto conhece garota. A fórmula simples e já utilizada à exaustão. No entanto, Becca rodeia sua história com uma boa dose de suspense sobrenatural, de anjos que sucumbiram ao desejo e do céu despencaram, perdendo suas asas e grande parte de seus poderes. Da vontade desses seres de serem iguais aos homens, de terem filhos meio humanos. Rodeia sua história com uma boa dose de humor; de cenas de ação, de um pouco de correria e de certo ritmo. A autora tem um tom próprio e um grande potencial inventivo. Não se perde em enrolações desnecessárias, embora falhe nas descrições com adjetivos rasos.

É impossível não relacionar Sussurro à Crepúsculo. O mesmo esqueleto literário: paixão desmedida, adolescência, narração em primeira pessoa e o elemento fantástico. O que na verdade caracteriza Sussurro é o ritmo, menos melodrama, mais suspense. O ar de anti-herói do protagonista de Fitzpatrick convence melhor que a submissão de Edward.

No fim das contas, a leva de leitores iniciados por Stephenie Meyer vai se encantar por mais essa história de amor muito mais bem inventada do que contada, porém de leitura fácil e (às vezes) cativante. É divertido, um ótimo passatempo, só que simplesmente não é literatura. É livro do momento, do tempo. Que passa.

BECCA FITZPATRIC cresceu entre livros de investigação, e depois de adulta, insatisfeita com sua formação na área de Saúde, resolveu-se pela vida de escritora. É americana e mora no Colorado com  marido e filho.

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