Adaptando histórias para o incentivo da leitura

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Recentemente, a editora gaúcha L&PM, reconhecida principalmente pela sua linha de livros em formato de bolso, lançou uma coleção que dividiu opiniões de leitores. É só o começo reúne livros clássicos da literatura, como Dom Quixote, Romeu e Julieta, Robinson Crusoé e O Alienista, porém adaptados para uma linguagem mais acessível e em tamanho reduzido. A coleção é voltada para neoleitores: adolescentes e adultos em fase de “alfabetização literária”. Ou seja, é para aqueles que não leem.

Além das mudanças no vocabulário, os livros trazem notas sobre as obras e autores, com atividades para professores trabalharem o material em aula. A intenção da L&PM com essa coleção é aproximar as pessoas à literatura, traze-las para ela, e não espanta-las. Para isso, a editora contou com a coordenação do professor Luís Augusto Fischer, da UFRGS, e outros profissionais da literatura. Porém, fica a pergunta quanto ao trabalho realizado nessa coleção: a leitura e compreensão das obras não fica comprometida com essas alterações?

Eu acredito que fica sim, mas não é o fim do mundo. Sabemos que o método de ensino da literatura nas escolas do Brasil é falho. A abordagem que os professores fazem aos alunos beira ao autoritário, obrigando-os a ler histórias densas e complexas que eles, pessoas em formação, não vão compreender. E com isso, vão se afastar da literatura. Sei que existem escolas programas de incentivo que funcionam, utilizando livros de autores nacionais voltados para pré-adolescentes e adolescentes, e às vezes até levando os escritores para as escolas. Contudo, isso é minoria.

Então é aqui que É só o começo entraria: já que as escolas não mudam a forma de ensinar literatura, cria-se uma opção de leitura mais acessível. E a perda de características da obra não pode limitar o aprendizado do aluno? O próprio professor Luís Augusto diz que isso pode acontecer, em entrevista divulgada pela L&PM, mas ressalta que nós, leitores assíduos, também lemos constantes adaptações. Pois a tradução, de certa forma, não passa de uma adaptação.

Eu sou daquelas que gosta de ler um livro o mais próximo possível do original, mas não condeno a coleção. A minha opinião é mais ou menos a que Luís Augusto deu em sua entrevista:

“…o neoleitor vai ter […]… uma chave de entrada efetiva para o mundo da grande literatura. Se ele conseguir ir adiante, realizará a si mesmo como pessoa; mas se não for, ele terá compartilhado um importante tesouro da humanidade, que deve pertencer a todos mesmo.”

E eu acho que é bem isso. Se a pessoa gostar do que leu, vai tomar gosto pela leitura e, posteriormente, vai procurar ler a obra completa. Ninguém começou a ler com a Ilíada ou Sertões, pelo menos a maioria não, e não é assim que tem que ser. O importante é dar o primeiro passo, ler e fazer disso um hábito. Assim, as pessoas serão levadas à reflexão e, consequentemente, ao conhecimento. Literatura é literatura, seja de auto-ajuda, romances melosos ou um grande clássico de mais de mil páginas. O importante é ler.

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