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Agosto Lilás: médica sexóloga expõe ferramentas de enfrentamento à violência doméstica e familiar

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Um dia inteiro. 24 horas. O que você faz em 24 horas? Acorda, escova os dentes, toma banho, come algo, se arruma, vai para escola ou trabalho, treina, come de novo mais algumas vezes, assiste série, cuida dos filhos, cuida de si, flerta, namora, lê algo, discute, reza, xinga, passa horas em frente ao celular. Vive! Pois é… Mas com pelo menos oito mulheres essa rotina é bem diferente.

Dados apresentados pela Agência Brasil mostram que, em 2023, a cada 24 horas, oito mulheres foram vítimas de violência doméstica no país. A 10ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, feita pelo Instituto Datasenado em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) mostrou que 68% das mulheres no Brasil tem uma amiga, familiar ou conhecida que já sofreu algum tipo de violência doméstica.

Os números são alarmantes e poderiam ser ainda maiores, caso a notificação fosse realista. Falta de informação, medo do agressor, ou até mesmo do julgamento e a dificuldade de ter direitos garantidos por lei são empecilhos para que as denúncias sejam feitas, gerando subnotificação.

Saber identificar comportamentos abusivos é primordial para se defender e conseguir romper ciclos de violência ou pelo menos conseguir pedir ajuda.

Rodas de conversa visando partilha de experiências de mulheres que já foram vítimas, com outras que felizmente não passaram por isso, pode fazer muita diferença, pois torna a experiência mais concreta e o aprendizado, real.

Conversar com os meninos, adolescentes em formação, também é urgente. Não adianta apenas conscientizar as meninas e não falar sobre isso com os meninos. Eles repetem comportamento; e em uma sociedade patriarcal como a nossa, onde ser como o pai é uma honra, explicar para eles que comportamento de gênero não precisa ser baseado em atitudes violentas talvez possa ser a grande mudança de chave.

Combate à cultura de estupro tem sido mecanismo importante de “empoderamento” para mulheres e meninas; mas também precisa ser mecanismo de transformação comportamental, evitando a formação de futuros agressores. 

Acredito que a escola seja um bom lugar para isso e que a arte seja uma ferramenta interessante. Já pensou em atividades teatrais onde os meninos tenham papéis de agressores? Ou que vejam e concordem com agressões contra papéis que representem suas mães, avós e irmãs?

Parece terapia de choque, né? Sim. Na verdade, seria a arte imitando a realidade e causando incômodo. O incômodo abre as portas para a transformação, planta semente para reflexão e pode mudar atitudes.

As atuações teatrais podem mostrar de forma clara e ensinar sobre os tipos de violência contra mulher, além de abrir espaço para diálogos sobre o tema. O cara nervoso quebrando o celular da namorada ensina sobre violência patrimonial. O pai fazendo “brincadeiras” que expõe o corpo das esposas de forma constrangedora pode ensinar aos jovens sobre o que é violência psicológica e verbal. Se um garoto atua no papel de menina e é violentado em uma festa, após beber e sem consentimento, ele aprende sobre violência sexual. Roteiros dramatúrgicos que mostram meninas se ajudando em vez de competir nos quesitos de corpo e beleza ensina sobre a importância da rede de apoio e conceito de aldeia entre mulheres.

Enquanto sexóloga, na prática clínica, percebo que as pessoas sabem muito pouco sobre violências e quando falamos sobre, a resposta mais ouvida é que isso não acontece na casa delas:“Imagina, doutora! Meu marido é assim mesmo! Ele só está brincando!”.

Muito já foi feito no combate à violência contra a mulher, mas muito há de ser feito ainda!

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