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Ambrosia Entrevista: Pryscila Vieira

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Cartunista, publicitária, chef de cuisine, astronauta, entregadora de pizzaPryscila é tudo isso e muito mais. Desenhando e escrevendo as tirinhas de sua personagem Amely, uma boneca inflável neofeminista que veio com só um defeito de fábrica: ter uma cabeça pensante. Ficou entre os 10 melhores do Salão do Humor no Rio de Janeiro. Com cartuns já ganhou prêmios no Brasil e em outros países e ficou entre os três melhores do Salão Internacional de Foz do Iguaçu, em que concorriam cerca de seis mil candidatos. Fez vinhetas para a Globo durante sete anos, foi indicada ao troféu HQMIX 2009 como melhor tira nacional (AMELY) e pode ser a primeira mulher a ganhar o prêmio de melhor tira, concorrendo com nomes já notórios no mercado como Angeli e Laerte.

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Amely é publicada em uma série de sites e pelo PubliMetro, o jornal de maior circulação do mundo. Diariamente são milhares de visitas em seus dois websites: um é seu blog com tiras da Amely e comentários ácidos sobre a vida e o outro com seu belo trabalho publicitário chamado OBRA PRYMA.  E quem vê as fotos que ilustram este post que não se engane, além de bela a moça é um poço de cultura e extremamente simpática.

J.R. Dib: Pryscila, eu andei pesquisando a sua vida (desculpa, mas como hoje em dia qualquer um pode ser jornalista, eu me dei o direito de fazer um jornalismo investigativo) e achei umas coisas bem legais, mas, como o público do site é preguiçoso, resume para a gente como você acabou caindo nessa vida de cartunista?
Pryscila: Até o Lula pode ser “gornalista” agora!

gornalista

Pryscila: Bem, como eu comecei é o seguinte: O blues procura você e não você procura o blues. No caso do humor, acho que segue a mesma regra. Nasci com o espírito de porco (o que me imuniza da gripe suína) e sou muito crítica. Meu psicólogo pediu para eu ler um livro chamado “Temperamento Forte”, não entendi ainda bem por quê. Mas vou descobrir. E este “temperamento” aliado a uma vontade imensa de desenhar (mas gosto mais de escrever e comunicar do que propriamente desenhar) é que surge uma cartunista. Daí, mandei meu primeiro cartum para o salão de Piracicaba e fiquei em primeiro lugar. Nos dois anos seguintes a mesma coisa. Algo me chamava para o mundo do humor. Então caí nessa vida glamuroooooosa, em que acordo com a orquestra sinfônica do Paraná tocando para mim todos os dias, sem falar na chuva de lírios.

J.R. Dib: (Risos) Legal, mas assim, além de cartunista, chef de cuisine, astronauta e entregadora de pizza, você trabalha com mais alguma coisa?
Pryscila: Ah, sim! Faço compotas de doce de abóbora e vendo na vizinhança. E sou “modelo-manikin-atriz-apresentadora-de-pograma”. Básico né?! Mas, de verdade, eu queria ser apresentadora de programa. O CQC quer uma oitava elementa. Vou me candidatar, afinal quase todos lá são cartunistas. Devo ter alguma chance com a dádiva de ter dois peitos ainda né?! Se o Ambrosia quiser me lançar como candidata ao cargo do CQC, em primeira mão, pode lançar. É nóis!

J.R. Dib: Olha, não é uma má idéia. Vamos começar a Campanha Ambrosia pela Pryscila no CQC. Você pode ser a musa nacional do site.
Pryscila diz: Oiés! Imagina só?! Mas só faço fotos com roupa. Não me embriague para que eu tire uma pecinha sequer. Quem caiu nessa foi só a Marilyn Monroe, que se matou um mês depois.

J.R. Dib: (risos)… Posso ser sincero? Quando eu assisti suas entrevistas eu não acreditei no que eu tava vendo.
Pryscila diz: Por quê? Meu sotaque é feio? Eu sou feia? Estou gorda? Você viu a espinha que estava na ponta do meu nariz no dia? Sentiu meu bafo de cachaça?

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(Sarcasmo: ON) É… muito feia mesmo… (Sarcasmo: OFF)

J.R. Dib: Não, de jeito nenhum, é que você tem uma bagagem cultural formidável.
Pryscila: Ufa! Também, né amigo… já sou véia (nota do editor, não, eu não vou falar quantos anos ela tem, vocês que descubram)-(nota da Pryscila: Dib é um gentleman e aprendam isso com ele!)

J.R. Dib: Você fala de tudo, sabe muita coisa.
Pryscila: Ah, vamos enganando e o povo vai aplaudindo… (risos) Eu leio muito. Gosto muito de biografias. Leio todas as biografias do mundo de Shopenhauer a Silvio Santos.

J.R. Dib: Eu tenho certeza que sim. Você aprendeu alguma coisa com elas?
Pryscila: Gosto de saber a origem dos pensamentos das pessoas para que eu possa aderir às idéias de seus autores com confiança. Mas ler biografia é mais uma preparação para ler a obra, principalmente de filósofos. Sêneca foi o último que eu li. As idéias dele são bacanas até. Só que se você for analisar a situação que ele escreveu aquilo, muito vai por água abaixo. Porque você descobre a fragilidade do autor. Por isso acho fundamental saber o contexto histórico dos pensadores e formadores de opinião. Principalmente detalhes de suas vidas, para não colher pérolas tamanho PP em estrumes tamanho GG.

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J.R. Dib: Com certeza, vê-se muito isso nos escritores do fim do século 19, começo do 20. O mundo estava mudando demais e eles tinham uma visão meio cínica de tudo.
Pryscila: Exato. Se eu que sou uma mera cartunista uso muito de mim até para tirinhas… Imagine grandes pensadores?!

J.R. Dib: Eu acho isso fora de série!
Pryscila: Eu me aproveito da minha vida para criar tirinhas. Por exemplo, estas últimas que estão no meu site são por conta de uma decepção amorosa real. Meu psicólogo acha péssimo que eu leve a vida “sem levá-la a sério” segundo o que diz. Mas fazendo isso, execro meus demônios e não crio células cancerígenas. Eu sempre li muita coisa: De bula de remédio, composição de shampoo (lauril éter sulfato de … sei lá) até a Divina Comédia. Todo dia levo uns quatro livros para cama e na hora decido que pedacinho de qual deles vou dar a honra de ler. Fico me achando na hora da escolha. Coisa boba, não é?

J.R. Dib: Lutam entre si para serem os escolhidos pela dona…
Pryscila: É, eu fico imaginando essas bobagens. Coisa de cartunista isso. Acho que você deve ser um colega cartunista para pensar assim. Estou desconfiando desses seus pensamentos alienígenas, Dib!

J.R. Dib: Falando em ler, tirando livros, você pega para ler outros cartunistas? Porque eu sei que quadrinhos não é algo que você goste.
Pryscila: Eu não gosto de quadrinhos destes do estilo da Marvel. Esses de super-heróis. Gosto de cartum. Histórias do (Robert) Crumb eu já gosto. Do Angeli, do Laerte, mas de super-herói nunca gostei. Sempre gostei de bobagem e crítica.

J.R. Dib: O irmão do Glauco, o Pelicano, mora e trabalha aqui em Ribeirão Preto (comarca da qual este editor vos escreve).
Pryscila: Não conheço o Glauco pessoalmente. Um dos poucos que não conheço. Temos o “cartel do cartum”. Qualquer estado que você vá, sempre tem um cartunista para te acompanhar numa incursão num boteco. É uma classe que não concorre. Ajudamos muito uns aos outros e há muita admiração entre nós. Aqui em Curitiba temos um grupo chamado “10enhistas” que eu faço parte e sou a menorzinha. Temos encontros praticamente semanais para beber e catar piolhos uns dos outros.

J.R. Dib: Você se considera uma estudiosa da sociedade?
Pryscila: Estudiosa não diria, porque senão estaria agredindo a classe dos antropólogos. Mas sou uma observadora full time da sociedade, das suas tristezas, delicadezas e alegrias poucas.

J.R. Dib: Pryscila, eu vou te dar alguns nomes de cartunistas e você me fala o que acha deles:
Pryscila:
Bill Waterson (Calvin): Rei das expressões faciais e corporais. Rei de roteiros. Mestre em criação de personagem que agrada tanto criança quanto adulto. Finesse em traços.

Jim Davis (Garfield): Transformou o gato em personagem que morre de tédio. E o gato é assim mesmo. Quando um cão ganha comida ele pensa “nossa, meu dono é meu deus” já o Garfield e todos os gatos pensam “nossa, eu sou o deus do meu dono”. Só não gostei do 3d do Garfield. Acho que os pelos tiraram um pouco a cara de cartum dele. Não sei, mas acho que é isso que me incomoda um pouco. Já o Scooby 3d fizeram mais próximo do desenho.

Charles M. Schultz (Snoopy): ): Nooooossssaaaa!!!!!! Snoopy é meu preferido. Lembra da casa dele? Era uma casinha de cachorro com uma mansão subterrânea. E de todos os personagens ele era o mais consciente, calmo e humano. Essa inversão era incrível. É incrível também como ele mantinha tantos personagens com características tão peculiares por tantas décadas. E Schultz é um dos mortos que mais recebe direitos autorais no mundo. Acho que só perde para Elvis Presley, ou algo assim. Também agrada a adultos e crianças na dose certa. É um gênio. Espero que ele e Walt Disney me abençoem com o nanquim do além.

Sergio Aragones (Groo, MAD): Acho super engraçado. Mas confesso que não sou muito chegada não. Leio se cair na rede de graça.

William Hanna e Joseph Barbera: Um casal (heterossexual) dos mais perfeitos de toda história. Que império criaram! Quantos mundos exploraram! Quantas personagens em tantos e tantos desenhos que vão do mundo das cavernas até a previsão do nosso futuro. Geniais!

J.R. Dib: Precisa falar do Walt Disney?
Pryscila: O Papa? (risos)

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Sim, o papa.

J.R. Dib: Matt Groening (Life in Hell, Simpsons)
Pryscila: Do que há de moderno é o que eu mais curto. Exatamente porque é espelho é que faz sucesso. As famílias se identificam ali. Era como na Família Dinossauros. As famílias se vêem ali. E sempre tem pequenas coisinhas nos desenhos que se você der um pause tem uma surpresa. É um humor que explora o cotidiano, o que é difícil, e genial. Adoro uma do Homer: “A culpa é minha e eu coloco ela em quem eu quiser!”

J.R. Dib: Agora, esse último é especial porque eu amo o trabalho que esse cara fazia no NY Times. Você assistiu Fantasia 2000 da Disney?
Pryscila: Sim!!!! LINDO!!

J.R. Dib: Conhece Al Hirschfeld (cartunista do NY Times)?
Pryscila: My Dog, é um traço limpo e tão cheio de vida, e personalidade! Acho que eu já vi umas dez vezes este episódio. É o que eu mais gosto. Eu tenho mania de ir dando pause nos desenhos.

J.R. Dib: Me fala um pouco do Ziraldo, como você fez amizade com ele?
Pryscila: O primeiro prêmio que eu ganhei lá em Piracicaba quem julgou foi o irmão dele, o Zélio, entre outros profissionais da área. Daí, fiquei amiga do Zélio e o Ziraldo vive vindo para Curitiba por negócios que tem aqui. Daí o Zélio me apresentou para ele, que viu meu trabalho e beijou minhas mãos dizendo que eu seria a melhor cartunista do Brasil, ajoelhado… Num restaurante lotado!

J.R. Dib: Caramba!!
Pryscila: Isso foi há uns anos, e o Ziraldo faz aniversário junto comigo. Meu irmão gêmeo. Desde então ele me ajudou muito. Incluiu-me entre dez cartunistas para fazer aquelas vinhetas animadas da globo. Desde então fiz 7 para a Globo (que podem ser vistas no vídeo abaixo e no OBRA PRYMA). Coisa do Ziraldo… E a gente sempre brinca que ele vai casar comigo. Mas por enquanto não. Ele está mui bien acompanhado!!!

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=P8Gvj-QePZI[/youtube]

J.R. Dib: Ahh é?
Pryscila: É! Namorada nova, gente finíssima! Então melhor eu ficar no meu canto né? (risos) Mas eu adoro o Ziraldo, ele é versátil demais. Isso me impressiona e me estimula, sem falar que ele beira os 80 anos e está na ativa total! Quero ter esta idade e ficar assim como ele. O que importa é a idade que você mesmo dá ao espírito e ao coração. Tem gente da nossa idade (aquela que não comentamos) que parece que tem 100 anos de monotonia para contar.

J.R. Dib: E o Lan?
Pryscila: Lanfranco Aldo Riccardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini é o maior nome (em todos os sentidos) do humor gráfico da América Latina e certamente do planeta. Para os íntimos, e isto significa uma legião de fãs, ele é conhecido como Lan, nosso papa do humor gráfico. Pena que ele só gosta de mulatas e eu, na época que o conheci, estava loira, mas ele disse que abriria uma exceção para tirar uma foto comigo (imagem abaixo).

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J.R. Dib: Bem, você sabe mexer no computador porque a Amely é feita inteiramente no computador certo?
Pryscila: Certo. Uso módulos de personagens. Trabalhei anos para Lilica Ripilica, grife de roupa infantil. Lá descobri que usam manual dos personagens para poupar trabalho. Muito mais dinâmico. Não tenho nem quero ter estilo próprio na propaganda para não cair no marasmo e acabar perdendo trabalho. Mas quero o marasmo do desenho autoral porque me dá visibilidade. As pessoas gravam o estilo do desenho e reconhecem: É a Pryscila. Por isso que o desenho é menos significante do que o texto no autoral. O desenho é o veículo da minha idéia só isso. Já na propaganda o desenho é praticamente tudo. Ele é que comunica.

J.R. Dib: Mas desses dois mundos, quem te rende mais?
Pryscila: Publicidade, que atualmente está numa crise danada. Uma tristeza! Estou vivendo de Amely. Dos pagamentos fixos que tenho com ela nos sites e jornal. Eventualmente surge um trampo de propaganda, isto no ano de 2009. Antes da crise era um ou dois por semana de propaganda. A coisa está feia. Marola é só na bunda do Lula. Aqui tá tsunami. Estou tendo que aprender a nadar, véio!

J.R. Dib: Quem cuida dos seus negócios e contratos?
Pryscila: Tenho irmã advogada que cuida de mim. Senão a processo por abandono de incapaz… RS… Sou apenas criadora. Ela que esquente a cabeça por mim. Senão já fico de saco cheio. Detesto burocracia. Ela lê meus contratos, acrescenta coisas, tira outras, faz minhas negociações. Ela é tudo para mim. Eu só quero criar e ficar distante de negociações. Isso estraga o cliente: a proximidade do artista. Mantendo distância evito conflitos, não ouço pechinchas, o que eu acho horroroso. Daí fico numa boa.

J.R. Dib: (risos), É quase um insulto ao artista.
Pryscila: Eu acho. Quando vou comprar uma geladeira, tudo bem, eu pechincho. Mas, quando é arte… nunca, jamais pediria desconto.

É isso senhores, uma longa e bem humorada entrevista com esta bela cartunista que com certeza terá grandes alegrias por onde quer que passe. Agora, só nos basta torcer por ela no HQMix deste ano que será dia 21 de agosto no SESC Pompéia em São Paulo e estaremos aqui para postar os vencedores (com ela inclusa, voces vão ver).

J.R. Dib

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Comentários 4
  1. Sensacional essas tirinhas da AMELY, tive que ler todas sem parar até a última! Por mim não deveria vencer o Hqmix, mas sim o Eisners!!!!!!!!!!!!

  2. De um artista para outro, pechinha realmente é deploravel.

    Queria eu ter uma irma empresaria!

    rs

    Sucesso pra vc, Prys…que é mais linda do que eu imaginava.

  3. Im not going to say what everyone else has already said, but I do want to comment on your knowledge of the topic. Youre truly well-informed. I cant believe how much of this I just wasnt aware of. Thank you for bringing more information to this topic for me. Im truly grateful and really impressed.

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