Lançado em 2008 sem muito alarde pela Editora Intrínseca, A Exceção do dinamarquês Christian Jungersen, por infortúnio ou carência de ação publicitária, não obteve o merecido sucesso, nem ao menos figurando nas listas de mais vendidos do país – em contraposição ao seu status de best-seller europeu. Uma trama complexa, personagens bem compostos e uma narrativa intencionalmente confusa e multifacetada são, de forma básica, os ingredientes que consagraram A exceção como um triunfo do suspense, uma perigosa análise a respeito da psicologia do mal.
Nele, quatro mulheres e um homem dividem espaço num escritório de pesquisas com finalidades acadêmicas sobre Genocídios: Malene e Iben, as mais novas que se auto-intitulando rainhas do baile, exigem todas as atenções e a condescendência de Camilla, a secretária, que a todo custo tenta evitar menções ao seu passado problemático e misterioso; as três, a despeito das orientações de Paul, o chefe ligeiramente manipulador, desprezam e excluem Anne-Lise, a bibliotecária mãe de família que vê descartadas as suas constantes tentativas de se enturmar.
Trabalhando juntos debaixo de um mesmo teto e de uma mesma constante sensação de desconfiança e tensão, eles se envolvem pouco a pouco numa enrolada teia de mentiras, fofocas e picuinhas diárias que se agravam e, por fim, se traduzem em sangue.
Dos comentários maldosos até a violência, esse thriller expõe o apodrecer das relações profissionais, da competitividade, da amizade e da paixão. Ameaças neonazistas, invasões de privacidade, mulheres que desejam o mesmo homem, doença, medo e assassinato; um conjunto de idéias fabulosas, uma realização única.
A exceção expõe o melhor dos bons, o pior dos maus, e mistura um no outro, jogando com o conceito pré-estabelecido do mocinho e do vilão. Narrando a partir dos diversos pontos de vistas que compõem a trama, Jungersen apresenta um mesmo fato de inúmeras formas, uma mesma relação a partir de todos os olhos que a observam. Nada escapa ao leitor, sempre ciente da repercussão de cada acontecimento para cada personagem. É a poderosa história da decadência humana, de pessoas que mudam de lado, que mudam de idéia e que uma hora ou outra acabam se perdendo em sua loucura pessoal.
A tensão e o assombro são constantes nesse processo onde a regra é “todos são maus”; e a exceção, na verdade, é o que contradiz essa crueldade dominante.
CHRISTIAN JUNGERSEN nasceu em 1962. Krat, seu romance de estréia, ainda não foi traduzido para o português, embora, na Dinamarca, tenha recebido o prêmio de Melhor primeiro romance. Jungersen já foi professor, publicitário e roteirista, atualmente é analista de informações; A exceção é o seu segundo romance publicado.