Literatura

Crime na Feira do Livro, de Tailor Diniz

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O romance policial de Tailor Diniz não fica apenas no mistério. Em poucas, mas boas páginas, o escritor gaúcho mistura humor e crítica em narrativas que encantam por retratar de forma tão natural o cotidiano do Rio Grande do Sul. Assim como em “Um Terrorista no Pampa”, o leitor que já vivenciou a vida calma do interior se identificou totalmente com a pequena cidade de Passo da Barca. Agora, porto-alegrenses e pessoas que passam os dias na capital gaúcha também vão se ver na literatura em “Crime na Feira do Livro”, recém lançado pela editora Dublinense.

A mais nova trama do detetive particular Walter Jacquet começou como um folhetim publicado no jornal Correio do Povo durante a Feira do Livro de Porto Alegre de 2007. Durante os 17 dias da feira, Tailor Diniz narrou o assassinato do fictício Adavilson Doceiro, livreiro conhecido entre os sebos e livrarias de Porto Alegre. O crime, cometido na abertura da feira, ocorre a poucos metros de onde Jacquet estava, e detalhes ocultados durante a investigação chamam a sua atenção. Por conta própria, o detetive decide desvendar sozinho esse mistério que envolve uma confraria muito estranha e até a delegada responsável pelo caso.

“Crime na Feira do Livro” transporta o leitor para Porto Alegre, e para aqueles que conhecem a Praça da Alfândega, o bairro Moinhos e o centro da cidade, a história fica muito mais fácil de visualizar. O reconhecimento local é um fator que conquista imediatamente para a trama. Aos poucos, o leitor também se familiariza com as personagens. Tailor conta causos da vida de cada uma em meio à linha da investigação, o que não atrapalha o decorrer da narrativa, por mais que essas histórias não tenham ligação direta com o tema principal.

Dentro do livro, o escritor, que é jornalista e roteirista, faz uma crítica pertinente à imprensa através de Walter Jacquet. Ele caracteriza os jornais que noticiam o assassinato como puros papagaios dos órgãos oficiais, que aceitam a sua versão como definitiva sem se interessar em procurar outras fontes e fatos do ocorrido. Comportamento jornalístico perceptível em qualquer jornal ou site de notícias de hoje, onde as informações são apenas replicadas, e não trabalhadas. Como o próprio autor diz, “chegou-se a um tempo no qual não era necessário abrir mais que um jornal por dia para saber o que havia nos outros todos”.

Outra crítica contida no livro é direcionada a própria Feira do Livro de Porto Alegre. As últimas edições do evento, principalmente a do ano passado, não tiveram um bom movimento, e o que Tailor diz no livro é a reclamação de muitos freqüentadores: não há variedade. Se você vai a um dia da Feira, já viu tudo o que precisava ver. Já não é fácil encontrar um bom livro nos balaios de saldões, e as bancas de livrarias e editoras, em sua maioria, oferecem os mesmos produtos com os mesmos preços. A experiência de freqüentar a feira, então, não é diferente de ir a uma livraria em dia de oferta. Tudo é igual, padronizado.

Essas e outras reflexões de Tailor Diniz em Crime na Feira do Livro são tão importantes quanto a própria trama, e a deixam mais rica. A narrativa é simples, e a história relativamente curta, mas tem um ritmo perfeito para mostrar os avanços na investigação de Jacquet. E claro, como todo romance policial, tem reviravoltas e mistérios que surpreendem o leitor. Porém, não no formato suspense, mas como um causo curioso narrado na mesa durante o almoço em um domingo ou no café da tarde, como Jacquet tanto faz durante a história. Quem leu a versão folhetim vai encontrar uma nova história no livro.

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