Nem só de ficção vive um leitor. É preciso sempre buscar mais informações sobre outros assuntos, porque quem ama ler de verdade, costuma ler até rótulo da embalagem de shampoo. Logo, é completamente normal que o tipo de estória vivida por Richard Phillips fosse chamar a minha atenção. O livro “Dever de Capitão” (Editora Intrínseca – 264 páginas) possui um relato emocionante.
Richard Phillips é um homem comum. Ele é Capitão da Marinha Mercante, um dos muitos responsáveis pelo transporte de cargas ao redor do globo. Ao longo de sua carreira, Phillips transportou munição, comida, carros, entre outros itens. Sem ele, ficaríamos sem muitos produtos indispensáveis. Sua principal função, além de completar o trajeto é zelar pela segurança de todos a bordo. Ser o último a abandonar o barco não é mentira, em caso de perigo, ele seria mesmo o último a sair. Ao subir a bordo do Maersk Alabama, Rich estava recebendo inúmeros relatórios sobre ações de piratas no Golfo do Áden, parte de sua rota até o Quênia. Prevenido ele fez exercícios de simulação com a sua tripulação e estabeleceu esconderijos caso piratas invadissem o navio, além de delegar funções caso fosse pego como refém. Ao entrarem de fato no Golfo uma lancha branca, típica embarcação de piratas somalis, veio em sua direção. Com a ajuda do mar agitado, Richard conseguiu fugir mas sabia que seria uma questão de tempo até que eles tentassem novamente. Alguns dias depois, uma transmissão pelo rádio feita por um pirata somali anunciava o que Richard não queria, que eles iam sequestrar o navio. E numa manhã de Abril, quatro piratas, armados com AK-47 e pistolas subiram a bordo do Maersk Alabama e tomaram Richard e mais dois marinheiros como refém. Contando com sua calma e uma estratégia, Richard consegue manter os outros tripulantes longe do passadiço e aos poucos tenta ganhar a confiança dos piratas. O que ele pensava que fosse durar apenas algumas horas, acaba levando alguns dias.
Totalmente escrito em primeira pessoa, Phillips conduz o leitor por esse fascinante mundo da Marinha sem ser chato ou didático demais. Em uma retrospectiva, feita para que possamos conhecê-lo melhor e criarmos empatia, ele nos conta um pouco da sua infância, do seu pai, como se juntou a Marinha e conheceu sua esposa Andrea. Além de contar histórias engraçadas sobre pessoas com as quais ele trabalhou e explicar mais sobre o trabalho um tanto ignorado feito por ele e seus colegas. O grande trunfo é que Richard é um homem como qualquer outro, que trabalha muito para sustentar sua família e não faz rodeios, nem nos ilude com meias verdades e acaba ficando fácil se encantar com a história. Mesmo sendo comum, Richard se tornou um herói ao se sacrificar para salvar os demais marinheiros a bordo. O que ele mais queria era que todos ficassem bem e seguros e para isso precisava tirar os piratas do navio, e acabou sendo levado como garantia. Foram dias longos, sofridos devido aos maus tratos, ao calor e principalmente ao terror psicológico que os piratas faziam, pois o deixavam constantemente na mira de suas armas e até mesmo encenavam rituais o preparando para a morte. Outro ponto forte do livro é que ficamos sabendo também da reação de sua esposa Andrea ao saber da noticia, assim como tudo o que estava sendo feito nos EUA para que ele fosse liberto, o que é interessante para a narrativa.
Devido a grande repercussão da história e do livro, os direitos foram comprados e um filme foi produzido com ninguém menos que Tom Hanks no papel principal. Para quem curte livros não-ficção, com relatos de superação e força, recomendo a leitura de “Dever de Capitão”.