Eu não queria fazer uma resenha sobre esse livro, mas uma frase, escrita à caneta na última página (peguei o livro na biblioteca), me fez escrever isso.
“Que coisa, não?”
Direi Que Lembro de Você é um livro meio que auto-biográfico escrito por William Peter Blatty, autor d’O Exorcista. Nele, Blatty conta sua infância e também casos da época em que estava escrevendo sua famosa obra, sem respeitar a ordem cronológica, apenas apresentando os fatos aleatoriamente. Digo que é “meio auto-biográfico” porque o livro é centrado em sua mãe. Todas as coisas narradas pelo autor estão fortemente ligadas à ela. O livro é, na verdade, uma homenagem para a senhora Mary Blatty. O título mostra bem isso. É uma música que ela sempre cantava.
Logo de início considerei a mãe de Blatty a mulher mais descarada do mundo. Abandonada pelo marido e com 5 filhos para criar sozinha, procurava gastar o menos possível, e se recusava a pagar o aluguel. Cada despejo que ela sofria recebia uma grande dose de falsa inocência, onde Mrs. Blatty se fazia de vítima para conquistar a simpatia das pessoas que presenciavam a cena. E isso me deixou com raiva. Não gosto de gente que não dança conforme a música e ainda se acha no direito de reclamar das coisas.
Eu também comecei a ver William Blatty como um filhinho da mamãe, sempre na barra da saia de Mary. Depois que ele começa a relatar sua vida depois de adulto, tive certeza disso. Não porque ele corria para a mãe por qualquer coisinha, pedindo para que ela resolvesse todos os seus problemas e acabasse com todos os seus inimigos. Mas sim porque ele nutre um grande amor por ela, porque ele faz de tudo para deixá-la feliz, e também porque se sente a pessoa mais sortuda do mundo por ter uma mãe como Mrs. Blatty.
O livro é feliz, como Blatty afirma na sua primeira frase. Porém não deixei de me emocionar quando sua mãe morre e nem de me assustar com os relatos dos casos sobrenaturais pelas quais o autor passou. Na minha cabeça permanecia a opinião de que Blatty deveria ser presa pelo menos uma vez na vida para aprender a pagar o aluguel. Arrependo-me amargamente por ter pensado isso. Acredito que há poucas mulheres no mundo capazes de fazer tudo o que ela fez para dar uma vida digna a seus filhos.
Na última página do livro, como falei, encontrei a seguinte frase: “Que coisa, não?” Vi isso antes mesmo de começar a ler, mas lógico que a frase não significou nada para mim naquela hora. Agora penso que quem leu esse mesmo exemplar deve ter tido os mesmos pensamentos que eu tive sobre Mrs. Blatty. E que também gostaria de tê-la conhecido por ter se sensibilizado e admirado toda a sua história. E que ficou com o mesmo sentimento de que ela está orgulhosa e muito contente com a homenagem de seu filho. Direi Que Lembro de Você me levou ao extremo de odiar e adorar uma personagem, e foi isso o que eu mais gostei no livro. Que coisa, não?
Eu adorei esse livro. Eu não cheguei a odiar ninguém, e dei muitas risadas com ele. E algumas partes são realmente emocionantes.