“Apreciei até o fim…
Abocanhei todo o fruto, chupei toda a polpa, que de tão gostosa, fez minha boca aguar e a garganta desejar engolir até o caroço”.
Nesse fruto – diferentemente daquele robusto e tentador que acerta em cheio a cereja do bolo – eu confesso minha queda pela cor verde. Tenho um aflorado fetichismo literário pelas uvas dessa pigmentação.
Sou leitor assíduo das brochuras que começam a ecoar e dessa nova linguagem que faz reverberar nos novos epílogos da nossa frutífera Literatura Popular Brasileira (algumas não tão pop’s assim) .
Vinhos brancos, e não por isso menos suculentos, afrodisíacos, pulsantes…
Não que devemos deixar as frutas clássicas apodrecerem no pé. Pelo contrário. As maduras são fundamentais para o autoamadurecimento. Uma dicotomia daltônica entre a fundamentalidade do vermelho e a essencialidade do verde.
Representando em estatísticas, dos três últimos livros que li, os três são assinados por escritores verdes – ainda que em alguns casos já maduros no lote de fabricação.
O último deles foi “ela prefere as uvas verdes” do jornalista, ex-bancário e lâmpada da publicidade e atual escritor/editor do site Papo de Homem, Jader Pires. Colhi o Jader na masculinidade do papo, e partir daí me vi instigado a decifrar as páginas do primeiro fruto de sua plantação crônica de perdas e encontros (em ordens, doses e personagens cotidianos).
O título da publicação por si só, já é um chamariz, mas não fica restrito apenas na afirmativa que ilustra a capa. O leque de possibilidades – como disse o próprio autor no vídeo promocional que fiz questão de ver no site do livro – perpassa signos, significados e me acompanhou desde o minuto inicial do primeiro encontro.
O que são as uvas? São elas apenas uvas? Por que verdes? O que é esse verde?
Ao todo, são treze contos. Entre viciado em crack, mágico de circo, um casal apaixonante de idosos e um casal de jovens não tão apaixonado assim, cada história possui um início, meio e fim (felizmente, nem sempre felizes).
Apesar da independência narrativa de cada uma delas, é possível perceber a existência de uma voz uníssona nas perdas e nos encontros que acometem cada um das personagens ali revelados.
Das treze uvas contadas, sete me foram tão íntimas, me remeteram a encontros que tive e às minhas próprias perdas.
São eles: (“Filho do Carnaval”, “Tô chegando amor”, “Ela era ela, Eu era Eu”, “Fortuna”, “A Única Verdade”, “Amores a distância” e “O último conto”).
“Voltarei a cair de boca nesse cacho de uvas verdes (…)
Saciador de apetites vorazes por nostalgia e memórias, como o dela, como o meu! “
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