Entre telas, memes, selfies, metaverso: uma conversa com Felipe Rodrigues e sua poesia

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Em “A Forma do Fogo” (Editora Patuá, 104 pág.) Felipe Rodrigues (@fe_fe_lipe) apresenta uma obra que mergulha nas complexidades da existência contemporânea, abordando temas como o cansaço dos dias, solidão, amor, ansiedade e liberdade, revelando, assim, a amplitude da experiência humana. Felipe, 31, é poeta, professor e advogado e tece sua poesia com uma linguagem precisa, alternando entre o clássico e o contemporâneo, e incorporando elementos da cultura dos memes, selfies e metaversos. Mesclando a influência de grandes mestres poetas como Baudelaire, Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner Andresen, o autor proporciona uma abordagem crítica e reflexiva sobre a construção da identidade em um mundo dominado por telas e tecnologia.

Felipe Rodrigues não é só poeta. Tem um mestrado pela Unesp e atualmente está cursando doutorado na USP. Escrevendo desde a adolescência, o autor já acumula três livros de poesia publicados no Brasil e em Portugal, além de contribuições em diversas antologias. Sua escrita, influenciada por figuras como T. S. Eliot e Carlos Drummond de Andrade, transcende o pessoal para buscar uma universalidade, explorando questões como as ansiedades, a liberdade (e sua depressão) e a fusão caótica do nosso mundo. Enquanto continua sua jornada acadêmica, com uma tese sobre a obra poética e crítica de Eliot e interpretação jurídica, ele expressa seu compromisso em continuar a escrever, expandindo seus horizontes literários e preparando-se para novos projetos, incluindo romances e futuras publicações.

Quais são os temas principais do livro? 

As sensações e as contradições dos nossos tempos, por exemplo a solidão compartilhada e uma espécie de desespero silencioso que todos nós, de uma forma ou outra, sentimos. Estamos divididos em vários tempos e espaços. Alguns progressos são claros. Outros temas como a saúde mental geral do povo, a questão ambiental e a inteligência artificial mostram, por outro lado, um presente e futuro (o nosso próprio tempo) não imaginado e não desejado que, no entanto, temos de lidar e viver.  Ainda mais a geração entre 30 e 50 anos foi preparada para um mundo que, em muitos pontos, não existe mais no presente e não parece que será retomado no futuro. Aliás, o futuro deixa de ser esperança, melhora, vida, e passa a ser mais ou menos continuação involuntária.

O mundo está mudando numa velocidade que não conseguimos acompanhar – até biologicamente falando. As necessidades de adaptação estão sendo impostas imediatamente – e não temos nenhum controle sobre elas. Aí o cansaço, as contradições da liberdade tão desejada, vigiada, controlada e (mal) utilizada com efeitos horríveis na pessoa e na sociedade, o apagar involuntário dos sonhos, a fusão das pessoas, das coisas e do mundo – o que é bom e ruim, certo e errado, bonito e feio – nesta completa falta de sentido e sentimento em que vivemos.

O que te motivou a escrever A forma do fogo?

Escrevo poesia continuamente, cerca de 30 a 50 poemas por ano. A editora Patuá fez uma chamada de livros para lançamento na FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) do ano passado. Assim reuni cerca de 70 poemas e submeti o trabalho, que foi aprovado. Em 2022 havia lançado outro livro, “Exílios”, em Portugal pela Atlantic Books.

Por que escolher poesia?

Poesia é o que mais gosto entre todos os gêneros literários – e de coisas para fazer em geral – , tanto para ler quanto para escrever. Preciso exercer muito a leitura e a escrita por causa das minhas atividades acadêmica e profissional, mas a poesia é onde me sinto mais completo.

Como você define seu estilo?

Se aquela ideia de originalidade, talento individual “descobridor” é considerada impossível já há algum tempo – se é que foi possível alguma vez – então creio que o estilo de alguém pode ser rastreado pelas influências do artista. As que admite e as que não admite. No meu caso como poeta, seriam elas T. S. Eliot, Fernando Pessoa e Drummond; Não nessa ordem. E sem contar muitas outras…

Não escrevo coisas pessoais nem procuro usar os textos artísticos para defender conceitos, ideias ou teorias, por mais justas e importantes que sejam, e mesmo se eu concordar e até fizer parte delas – na contramão da imensa maioria do que se produz hoje. É inevitável sermos do nosso próprio tempo. Assim as belezas, desgraças e contradições que somos e vivemos aparecerão naturalmente, acho.

Você tem algum ritual de escrita?

Não tenho um ritual específico já que escrever é quase como uma necessidade fisiológica para mim. Se eu ficar 3,4 dias sem escrever, meu corpo sente, fico pior emocional e fisicamente. 

O que vem por aí?

Atualmente estou escrevendo poemas, como sempre há mais de 12 anos, e a tese de doutorado. Pretendo publicar a tese em versão comercial e ainda algum outro livro de poesia nos próximos anos. Depois, quem sabe romances?

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