Escritora Tieko Irii é semifinalista na categoria Romance Publicado do Festival Loba

A escritora e artista visual nipo-brasileira Tieko Irii é uma das dez semifinalistas na categoria Romance Publicado do Prêmio Loba 2025 com o livro “As ruas sem nome” (Editora Patuá, 2025). A lista das finalistas será divulgada em 22 de novembro, e o resultado final está previsto para dezembro. Organizado pelo Loba Festival, o Prêmio…


13519F2B B96D 4C73 9D8B 26662A5EF3B4

A escritora e artista visual nipo-brasileira Tieko Irii é uma das dez semifinalistas na categoria Romance Publicado do Prêmio Loba 2025 com o livro “As ruas sem nome” (Editora Patuá, 2025). A lista das finalistas será divulgada em 22 de novembro, e o resultado final está previsto para dezembro. Organizado pelo Loba Festival, o Prêmio Loba é voltado à valorização da escrita feminina e contempla 18 categorias entre obras publicadas e não publicadas. Além da premiação, o festival promove palestras, painéis, atividades de networking e ações de incentivo à leitura de mulheres.

“As ruas sem nome” mergulha em uma narrativa autobiográfica que atravessa três gerações de imigrantes japoneses, tecendo um painel histórico e emocional sobre deslocamento, silenciamento e a busca por identidade. A obra começa com a descoberta da autobiografia secreta do pai da autora, Hisashi Irii, e expande-se para discutir racismo, estereótipos e as complexidades de ser uma mulher nipo-brasileira em um país marcado por hierarquias raciais e sociais.

“Quando meu pai finalmente contou sua história, entendi por que ele a manteve em segredo: era uma narrativa de tragédias,  de transgressões e de coragem “, relembra Tieko. A autobiografia do pai — um jovem que fugiu de casa no Japão pós-guerra e perambulou pelo país devastado antes de emigrar para o Brasil — tornou-se o ponto de partida para a autora investigar suas próprias raízes. O livro não se limita à saga familiar. “Ao ouvir os relatos dos meus tios, descobri que era cheia de lacunas, eles pouco sabiam sobre meus avós, e assim como eu, evitavam tocar nas feridas; mas ao nos inserir na história do mundo descobri que fazemos parte de uma história coletiva. Somos frutos disso, mas também sujeitos de nossa própria história”, conclui.

Tieko cruza sua trajetória com reflexões sobre a herança cultural japonesa e brasileira, o mito “perigo amarelo”, da “minoria modelo” e do soft power japonês contextualizando como esses construtos sociais moldaram sua vivência. “O projeto de branqueamento brasileiro, o mito da democracia racial brasileira, composta por brancos, negros e indígenas e o racismo estrutural, nos colocou em um lugar paradoxal: nem totalmente aceitos, nem totalmente estrangeiros.”, analisa. O livro chega em um momento de crescente discussão sobre representatividade asiática no Brasil, impulsionada por pesquisadores, acadêmicos, artistas e coletivos antiracistas amarelos e asiáticos. Na obra, a autora também aborda a exotificação dos corpos amarelos e a solidão de crescer nos anos 1980, quando ser descendente de japoneses significava enfrentar bullying e invisibilidade. “Mas também é uma história de desejos, sonhos, busca de liberdade e um lugar ao sol”, enfatiza.

A obra, estruturada em quatro partes, alterna trechos da autobiografia do pai com relatos pessoais, desde sua infância em São Paulo até sua temporada no Japão no final dos anos 1980, onde buscou, sem sucesso, um senso de pertencimento. “Ao mesmo tempo, foi um resgate étnico-identitário como um ponto de partida, mas não um fim. Percebi que somos feitos de múltiplas identidades. Não somos nem brasileiros, nem japoneses, estamos em um não lugar, que também é um lugar.”. Além da escrita, Tieko desenvolveu um trabalho de colagem com arquivos familiares, unindo imagem e texto para reconstruir memórias apagadas. “Essa foi minha maneira de costurar afetos e ausências, e uma outra forma de tocar a experiência de ser nipo-brasileira”, explica. 

Sobre a autora

Tieko Irii é artista visual, diretora de arte e escritora paulistana. Formada em cinema pela FAAP em 1988, trabalhou por 25 anos em publicidade e no audiovisual, com passagens por filmes como Os Matadores (1987), O Menino Maluquinho 2 (1998), Castelo Rá-Tim-Bum (1999), e séries como Retrato Falado (Rede Globo). Publicou três livros infantis antes de se dedicar à “As ruas sem nome”, sua primeira obra autobiográfica. Viveu no Japão entre 1989 e 1991, experiência que influenciou sua pesquisa sobre memória, diáspora, gênero e raça.


Deixe um comentário