FLIP, 02 de julho de 2009, quinta-feira.
Elogio à banalidade.
Um cachorro pede comida e levanta as patas dianteiras: várias tentativas infrutíferas de obter em troca algum agrado. Uma senhora vê, da janela colorida, o movimento de pessoas crescendo no centro histórico de Paraty. Os clássicos bonecos esculpidos da Praça da Matriz parecem tomar vida, quando as crianças vão embora e a madrugada cai fria. Constantes testemunhas do que parece a grande banalidade da vida. Um casal discute enquanto procura o grupo de amigos que chegou de viagem. Procuramos um banco para sacar dinheiro. Meu amigo precisa de remédio pra dor de cabeça. Um mendigo ensaia palavras em italiano e frases nonsense para conversar com um grupo de amigas, tentando contar uma história sobre um “carioca abestalhado” que conheceu. Acho que minha amiga psicóloga está entendendo cada frase que o mendigo nonsense diz, enquanto eu estou cada vez mais confusa no meio daquele diálogo absurdo. Depois que ele foi embora, soube que cada uma teve um entendimento diferente da situação toda. Talvez só os bonecos da Praça da Matriz saibam realmente de alguma coisa. Uma garrafinha de Gabriela ajuda a aquecer a primeira madrugada da FLIP. No dia seguinte, ela me conta que acordou durante a noite sem saber onde estava, quando sua amiga de quarto a salvou: Você está em Paraty.
Às vezes sou assim também. Preciso constantemente de um norte, uma direção. Estamos em Paraty, a amiga fala. E quem dá o norte dessa FLIP é Domingos de Oliveira e sua defesa pela vida na segunda mesa desta quinta-feira, ao lado de Rodrigo Lacerda e mediados por Paulo Roberto Pires. Sou contra a morte, ele diz. Uma pequena lágrima cai pelo rosto de uma amiga, enquanto ele fala sobre o amor. E a falta dele. Ele diverte e emociona, descreve as separações, suas fases – negação, negociação, revolta, aceitação e estado de graça – discorre sobre a relação entre o período de sofrimento e a produtividade. Fala que é necessário terminar o que se começou, sempre. E que, na vida, nada é banal. Eu que sempre fui uma pessimista, acabo querendo acreditar nisso.
Meus amigos todos estão envolvidos com o lançamento do nosso pequeno livro – Clube da Leitura: Modo de Usar. Vestem cartazes, tiram fotos, riem. E assim começa esta quinta-feira, segundo dia da FLIP. Em clima de otimismo. Sob a voz lúcida de Domingos de Oliveira.
Por Danielle Costa, participando do lançamento do livro Clube da Leitura: Modo de Usar, Vol. 1, direto da FLIP 2009.
linda crônica!