O Margarida Café é um lugar. É um momento.
Nesse momento, todos se encontram. Ontem foi o lançamento de Clube da Leitura: Modo de Usar, vol.1. Todos sobreviveram aos mandos e desmandos de Gabriela, a cachaça dengosa, aquela que, segundo Guilherme Preguer, não se desgruda jamais do céu da boca e do palato. Todos sobreviveram a gritos de ovação a Maurício e ao clube do vinil transportado para a FLIP. Todos sobreviveram aos autógrafos e ao frio e a um evento que não cabe em qualquer lugar nem em qualquer momento. Todos sobreviveram à felicidade. E agora todos estão aqui, nessa penumbra convidativa, onde tomamos café com sorvete de limão ou coca-cola mesmo com limão e gelo. Essa é nossa redação em Paraty, como disse nosso livreiro predileto, o Maurício Gouveia.
É aqui que nos encontramos e é aqui que decidimos o que quer que deva ser decidido (e que pode ser modificado depois, já que a rua não cede seu posto de lugar número um no ramo das decisões a serem tomadas e daquelas que precisam ser adiadas) e é aqui que escrevemos e é aqui que nos atualizamos. É aqui, inclusive, que nos perguntamos se foi ético ou não Sophie Calle ter usado o e-mail de Grégoire Bouillier para o término de seu relacionamento amoroso como objeto de 57 pessoas e suas diferentes profissões: essas pessoas tiveram de produzir algum sentido a partir desse e-mail e com base em suas respectivas experiências profissionais (o revisor corrige os erros de ortografia, o psicanalista interpreta em tom selvagem ou não, o cantor canta o e-mail, a bailarina ensaia uma coreografia e, finalmente, o papagaio, que mistura vida e profissão, nada diz ou repete, mas engole solenemente o e-mail). Afinal, era um e-mail de um homem para uma mulher, de Grégoire para Sophie, sobre um final, e isso virou objeto de arte, pesquisa, documentação e discussão em mesa redonda. Ético?
O Margarida Café é um ponto no espaço e um segundo no tempo. E se o tempo é apenas um segundo, sempre aquele que estamos vivendo no momento em que o vivemos, se não há passado ou futuro, e se este é o melhor dos mundos possíveis como Leibniz nos ensina, o Margarida Café é o total de Paraty. E porque agora estamos conversando sobre a Gabriela de ontem e sobre os gritos histéricos e palpitantes e sobre quantos livros vendemos e sobre o caldo ralíssimo de feijão que tivemos que devolver e sobre as palestras que iremos ou não assistir, por essas razões todas é que isto aqui é tudo o que existe em Paraty. Isso aqui é o mundo, definitivamente. É infinito enquanto dura, ainda que possa ser piegas essa citação nesse espaço em que nos encontramos: 4 de julho de 2009, hora do almoço.
Não se pode deixar de dizer que o Margarida Café tem um banheiro que, por sinal, é um outro grande momento que se abre nesse espaço que é o café que o contém. É uma dimensão à parte, um caminho circular que lembra Borges, e lá chegando poderíamos também, se quiséssemos, tomar café por ali mesmo, pois há um divã (ou uma caminha para criança) e há também cadeiras estilosas dentro das cabines. Você faz o número dois e, se quiser, pode descansar. Hoje, o que tenho a escrever é isto, enfim: sobre o lugar de escrita e renascimento que é o Margarida Café. Não está tão frio e não está tão cedo, amanhã é meu último dia, despeço-me de todos pensando que a FLIP, na verdade, e o Margarida Café, na realidade (que é pura linguagem e criação minha agora) somos nós, apenas nós, e os nós que desatamos enquanto transitamos por aqui.
Porque eu gosto de PS: O Margarida Café é ainda o momento em que se dá a nossa discussão sobre as crônicas que iremos escrever. A reunião de pauta sobre a crônica que Dani e eu iremos escrever é feita aqui também, nesse momento: Margarida Café, Paraty.
Por Vivian Pizzinga, participando do lançamento do livro Clube da Leitura: Modo de Usar, Vol. 1, direto da FLIP 2009.
Depois de um artigo todo dedicado ao café em questão fiquei impressionada, espero conhecer no próximo ano.
valeu vivian seu texto encerra tudo, margarida café paraty e o mundo, tal qual uma monada de leibniz…
Eu me tornei fã do lugar 😀