Ontem, às 19h, teve início a oitava edição de um dos maiores eventos literários do país: a Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro. A FLIP 2010 foi inaugurada com a mesa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e logo em seguida a primeira noite de festa se encerrou com um show de Edu Lobo e o Quarteto de Cordas da Academia da OSEP. Mas uma das mais esperadas presenças na feira só apareceu no dia seguinte. A escritora chilena Isabel Allende, autora de Casa dos Espíritos e Meu País Inventado.
Isabel veio para a FLIP compor a mesa Veias Abertas, com mediação de Humberto Werneck, falando da trajetória de sua carreira que a coloca ao lado de outros nomes importantes, como Gabriel García Márquez. Antes da mesa, ela participou de uma coletiva de imprensa onde falou sobre seu país de origem – Chile, que teve de deixar no ano de 1973 por conta do Golpe Militar -, sobre seu novo livro, A Ilha Sob o Mar e, claro, literatura, afinal é para isso que temos a FLIP.
Isabel Allende começou respondendo as perguntas sobre o que ela pensa da literatura brasileira. Ela confessa não estar em dia com o que se produz aqui no Brasil, mas quando o assunto é literatura latino-americana, a autora se mostrou otimista com a qualidade das obras que estão sendo publicadas. Sobre isso, também falou da mudança que se viu nos enredos dos autores latino-americanos. “Hoje ela é mais urbana, influenciada pelo cinema, pelas imagens. Não é mais tão política como antes”, avaliou.
Indicada pela segunda vez ao Prêmio Nacional de Literatura do Chile, Allende falou sobre a polêmica de sua indicação. Segundo a autora, alguns críticos dizem que ela não merece o prêmio por seus livros serem best-sellers. Allende criticou essa visão dos livros que são sucesso de vendas. “Não se pode ser best-seller por 30 anos com 18 livros sem ter um pouco de qualidade”, declarou. Ainda sobre o mercado literário, a autora diz ser muito difícil saber se o livro venderá ou não. “Nem um editor pode saber se haverá êxito. É uma questão de oportunidade”.
Outro apontamento feito durante a coletiva falava do assunto mais recorrente em seus romances: o abuso do poder. Isabel alegou se interessar muito por histórias de poder, na relação que as pessoas tem com ele. Esse interesse, contou, veio com o Golpe Militar do Chile em 1973. “Eu não seria escritora sem o Golpe Militar. Isso mudou minha vida”, confessou. Quando questionada sobre o por que de não retornar ao país, Isabel fala que o motivo é ter toda sua família, morando na Califórnia, mas confessa que sente muito carinho pelo país onde nasceu, onde foi sempre bem tratada. “Não me custa nada falar sobre o Chile”. O que é bem perceptível, já que o livro Meu País Inventado trata justamente desse período pelo qual Isabel e sua família passou, falando inclusive de como era se sentir estranha no lugar onde cresceu.
A FLIP vai até domingo, dia 8, e ainda conta com a presença dos escritores Salman Rushdie e do quadrinista Robert Crumb.
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