Jane Austen, a vampira

Jane Austen, a vampira – AmbrosiaO conceito de mashups literários – o conceito de associar um clássico com elementos da cultura pop  – parece que emplacou de vez, tanto lá fora, como aqui no Brasil. A idéia pode parecer estranha, mas diverte e entretém. Autores como Seth Graham-Smih e Ben H. Winters estão conseguindo consolidar o insólito amálgama levando para diferentes mídias títulos tão incomuns como “Orgulho e Preconceito e Zumbis”, “Persuadindo Moby Dick”, “Sense and Sensibility and Sea Monsters” ou “Abraham Lincoln, Vampire Hunter”. Esse último ganhando adaptação para a telona com produção e direção de Timur Bekmambetov. Em terras tupiniquins, a coleção Clássicos Fantásticos temperando clássicos brasileiros com bruxaria, mutantes, vampiros e alienígenas.

Por introduzir temas e características de um gênero completamente diferente em meio a um texto clássico, as narrativas passam por diversas críticas, algumas indagando sobre o que realmente são: paródias, reinterpretações grosseiras ou versões alternativas para um mercado crescente. Deixemos que o futuro responda, enquanto isso, mais um título foi lançado recentemente nessa mesma temática, Jane Austen, A Vampira[bb] (Jane bites back, tradução de Carlos Szlak), pela Lua de papel, selo da Editora LeYa[bb]. Escrito por Michael Thomas Ford, a história coloca a própria escritora Jane Austen nos dias atuais, ainda que meio-viva, ou morta-viva.

Jane, como o próprio título diz é uma vampira, sob o nome de Jane Fairfax “vive” em Brakeston, uma tranqüila cidade universitária norte-americana como dona de uma livraria. Há quase dois séculos vem tentado publicar um romance. Depois de 116 rejeições, começa a pensar que jamais publicarão seu trabalho, enquanto observa frustrada, pessoas fazendo milhões com seu nome e ela sem receber nenhum centavo de direitos autorais. Ninguém sabe de sua verdadeira identidade, mas o seu segredo torna-se cada vez mais difícil manter quando o homem – o famoso poeta Lord Byron – que a transformou em uma vampira retorna.

O autor consegue fornecer um estilo seco, hábil e perversamente engraçado, fazendo de sua personagem um esteréotipo das próprias protagonistas que Austen criou ao longo de sua carreira. Com um arquétipo romântico, sempre almejando um amor correspondido, tanto que se divide entre o misterioso homem de seu passado, seu editor e um cara legal do bairro, e também aberta ainda até a um envolvimento lésbico.

O interessante que o sarcasmo está na própria crítica que Ford constrói ao descrever como a indústria abusa de nomes clássicos, com a publicação de livros dos mais diversos, como os de auto-ajuda ou spin-off de escritores tão ruins que mereciam serem mesmo sugados por um vampiro. Referências literárias abundam pelas páginas de Jane Auster, a vampira, para exemplificar o alter ego de Austen é o nome de uma personagem de Emma, livro escrito pela verdadeira Austen. Numa linguagem maliciosa, Ford dá um tom bem-humorado aos seus personagens, recriando uma Jane neurótica, um Lord Byron maléfico, com alguns pequenos erros biográficos ao longo da narrativa, mas que não afetam a história em si, só acrescentam um pouco mais de romance ao livro, tema central de toda a narrativa.

É bem notória a diferença que temos de outros vampiros para o público jovem, aqui o desejo doloroso de Auster de beber sangue não é reprimido pelo autor, como Meyer fez com seus crepusculares, mas que se alimenta de sangue humano, escolhendo sempre entre suas vítimas, usando como base o mau comportamento, sugando o suficiente para colocar em estado de estupor e não matá-los, nem transformá-los.

Uma versão gótica, meio que a la Buffy, de Austen mas com um lado inimaginavelmente perverso e divertido de se ler. Recomendo.

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