Literatura

José Saramago: breve despedida

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Nesta última sexta-feira o mundo teve de lidar com um problema que transcendia o derramamento de óleo nos Estados Unidos, que transcendia a fraca atuação dos favoritos na Copa do Mundo de 2010, mas que remetia diretamente as grandes crises sociais da contemporaneidade.

Nessa sexta o sol nasceu mais burro, as palavras as palavras foram pronunciadas mais tortas e as frases se tornaram mais curtas. Morria um monstro literário com um talento insubstituível, fazendo surgir um vazio no peito de todos aqueles que saborearam a sua prosa contundente e necessária.

José Saramago não era um poeta lisboeta como seu antepassado Fernando, o dom das palavras bonitas não era tão proeminente em sua prosa, mas se tornou Senhor ao encadeá-las em sentidos profanos, absurdos, verdadeiros e graves.

Saramago fez da coragem a sua égide: tinha coragem em sua escrita, adversa as formas cultas e com jeitinho de coevo. Suas palavras até o final eram um grito de desafio a gigantes, igrejas e repúblicas. E mesmo quando velho não perdeu a vontade de lutar, nunca aprendeu a temer o que era novo ou a calar a boca (e o coração) diante do mundo.

Não penso que nada que possa ser escrito agora está a altura da figura que nos deixou. Mas tudo tem um fim e é sempre importante dizer adeus. Agradeço a você pelas brilhantes reflexões, pelas palavras gentis e contundentes, pelas críticas tão necessárias, por dar voz aos calados e por nos emocionar. Contudo, todos sabem, um escritor vive em suas palavras e desta forma ele permanecerá sempre vivo em seus imensos parágrafos e “frases” terminadas em vírgulas, um velho amigo na estante sempre pronto para nos fazer ouvir o que temos de melhor, e mais importante, de pior também.

“No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e que é que estamos fazendo e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade.

Somos sobretudo a memória que temos de nós mesmos”

Saramago, La Provincia, Las Palmas de Gran Canaria, 20 de Julho de 1997 [Entrevista de Mariano de Santa Ana]

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3 Comentários

  • Ele era um comunista (ele ainda se dizia comunista e defendia o comunismo) que odiava o mundo (ele chegou a dizer que a humanidade não merecia a vida) cujos livros são ruins de doer e que tem mais defensores do que leitores.

    • "Ele era um comunista (ele ainda se dizia comunista e defendia o comunismo)"

      E daí? é um ponto de vista válido e tão defendível quanto qualquer outro sistema político.

      "que odiava o mundo (ele chegou a dizer que a humanidade não merecia a vida)"

      Não sei se ele realmente disse isso, mas é uma crítica muito comum a humanidade como um todo.

      "cujos livros são ruins de doer"

      Sabe como é, né? Gosto é que nem braço, tem gente que não tem.

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