A Louca do Castelo

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Em meados da década passada, no auge da era dos blogs, uma página chamou bastante a atenção. Era o Fina Flor, da poeta paulista de Campinas, Mônica Montone, um blog que unia harmoniosamente o universo mulherzinha a temas existenciais e reflexivos. O sucesso foi imediato e logo se tornou o blog de poesia mais acessado da web no Brasil. Depois de lançar o livro Mulher de Minutos, gravar um disco e estrelar uma peça com texto de sua autoria, Sexo Champanhe e Tchau, Monica Montone lança agora seu novo livro “A Louca do Castelo” (Editora Oito e Meio). Trata-se de uma compilação de contos, a maioria deles já publicados, tanto no Fina Flor quanto em outros veículos como na Revista de Domingo do Jornal O Globo, que recentemente publicou mais um texto seu.

Monica é uma figura atuante no meio literário, participou do Poesia Sempre, na Fundação Biblioteca Nacional em 2007, dos eventos Poesia no SESI-RJ e Sarauê, na Biblioteca Nacional. Produziu também o “Palavrão”, primeiro programa de poesia da TV brasileira.

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Seu texto “Filho É Para Quem Pode”, que consta no livro, gerou polêmica na época. Choveram emails de mulheres indignadas tachando a autora de individualista e egoísta, e mais uma outra enxurrada apoiando sua posição em relação à maternidade. No texto ela diz: “As mães podem ser um céu de brigadeiro ou um inferno de sal. Elas podem adoçar a vida dos filhos ou transformar essas vidas numa batalha diária cheia de lágrimas, culpas e opressões.” E ainda dispara: “Dar luz a um bebê é fácil, difícil é ser mãe da própria vida e iluminar as próprias escuridões.” A autora explicou certa vez que seu texto não é uma crítica à maternidade, e sim à obrigatoriedade que muitas mulheres tomam para si sem ao menos estarem certas de que estão prontas para o ofício.

A retórica de Monica é eivada de questionamentos que permeiam as páginas do livro trazendo elucidações ou cliques na mente do tipo “de fato, sempre achei isso também”. O grande trunfo da autora é a cumplicidade que ela cria com o leitor, que foi a chave do sucesso de seu blog e de sua peça, que teve casa lotada quase todos os dias de apresentação. Cumplicidade e identificação. Como uma eximia cronista das desventuras humanas, seguindo os passos de Bukowski, Domingos Oliveira e Woody Allen, ela relata situações, reações e indignações por que todos nós já passamos independentemente de sexo ou preferência sexual.

O livro se divide em quatro atos: o primeiro é denominado “Do Amor. Dos Desejos. Da Fragilidade.” Com textos como “A Garota Certa”,” Desamparo”, “Coisa que Bole” e “O Amor Tem Pressa”, é a parte abusada do livro. É a faceta sem cerimônia da autora. Sem nenhuma culpa ela dispara críticas, cusparadas, reivindica o direito ao gozo pleno sem pedir licença. A segunda parte, “Das Ressacas”, é a face reflexiva . Sem deixar de lado a veia crítica, Mônica levanta questões pertinentes como em “Gente Rasa” onde ela diz: “Tem gente que é rasa. Tão rasa quanto uma tampinha de garrafa que transborda com um simples cuspe.” E ainda dispara: “Dessa gente, que vive sem poesia, sem imaginação, que vive apenas para cumprir os cânones da moral e dos bons costumes, para seguir cartilhas, desisto!” Em “Paixão Velha” ela nos elucida: “Em geral, ama-se o dia em que a meia foi comprada ou ganhada, não a meia. Em geral, ama-se a história de amor que se sonhou, o amor em si, e não a pessoa.” A terceira parte, “Infância dos Olhos” é o segmento otimista, e talvez com uma carga poética mais acentuada em relação aos predecessores. É a faceta contemplativa da poesia da autora, como pode-se constatar em “Ode aos Meus 30 anos”, “Brincos azuis”, “A realidade é um Troço Bacana” e “O Óbvio”. O quarto segmento, “O Que Não é Amor”, a poesia se faz presente de forma ainda mais solta, como um convite para uma dança de rodopios inebriantes proporcionados pelos textos “Cerejas imaginárias”, “Sobre Cigarros, Vinhos e Chocolates” e “Dementes, putas e pistoleiros.”

“A Louca do Castelo” é uma leitura obrigatória para os amantes da poesia urbana contemporânea, de bom gosto, por vezes mordaz, mas que acerta em cheio no objetivo de fazer o leitor pensar, imergir nas palavras e até mesmo se inspirar.

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