Matthew Quick exprime uma sutileza de fortes emoções em “Perdão, Leonard Peacock”

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Poucos livros atualmente conseguem despertar o status no leitor de “melhor livro que eu já li”. Para isso, precisa passar a ele um sentimento muito específico ali, naquele momento, que faça com quem esse vínculo seja criado. E Matthew Quick fez isso perfeitamente bem (para mim ao menos) com “Perdão, Leonard Peacock”Editora Intrínseca – 224 páginas.

capa-do-livro-perdao-leonardLeonard é um adolescente, prestes a completar 18 anos que tem uma ideia muito fixa para comemorar seu aniversário: vai matar seu ex-melhor amigo e se matar logo depois. Durante a data, Leonard dará presentes a quatro importantes pessoas e irá relembrar como elas entraram em sua vida. Ele começa primeiro pelo seu longo cabelo loiro, pois sabe que Linda – sua mãe, mas a ele se recusa a chama-la assim – sempre detestou seu cabelo comprido. Ele o corta displicentemente com uma tesoura, embrulha em um papel de presente cor de rosa e o deixa na geladeira. Sorri ao pensar em como ela irá reagir após a notícia de sua morte e encontrar ali, na geladeira, seus cabelos. Leonard mora sozinho em New Jersey, enquanto Linda, persegue a conturbada carreira de estilista em Nova Iorque. Seu único amigo é Walt, seu vizinho idoso, com problemas pulmonares e que é apaixonado por filmes de Humphrey Bogart. Com ele, Leo aprende a gostar de filmes antigos e passa a ter alguém com quem passar suas tardes.
Na escola ele é visto como o esquisitão. Seu professor favorito é Herr Silverman, que dá aulas sobre o Holocausto e instiga os alunos a questionarem certos padrões estabelecidos pela sociedade em que vivem. Leo acha fascinante, diferente de seus colegas, a quem ele chama de superidiotas, que pensam que a vida já vem com respostas prontas que irão te colocar nas melhores faculdades. Ao visitar seu passado, ele lembra de Asher Beal e em como eram amigos, melhores amigos, até um fatídico verão de suas vidas. Inseguro, confuso e assustado, Leonard Peacock irá narrar se perguntar sobre fatos do seu passado e em como tudo mudou até então, no que parece ser o dia mais longo de sua vida.

Mesmo se tratando de um livro curto, ele é extremamente profundo e faz questionamentos bem pertinentes. Leonard, assim como parte da população se sente ignorado e maltratado por ser diferente e acha muito ruim. Nutre por aqueles que não entende e não o entendem um profundo sentimento de repulsa, dando-lhes apelidos como superidiotas, entre outros. Os humanos são muito parecidos com os animais selvagens que atacam ao serem acuados e é exatamente assim que Leonard se sente e reage.
Quantos de nós, por termos habilidades consideradas “superiores” a outros, seja elas quais forem, não acabamos também sendo rechaçados e vítimas de bullying, seja direta ou indiretamente? O homem (me refiro a humanidade) tende a reagir, e mal, a tudo aquilo que foge a sua compreensão e zona de conforto. O ser diferente, no seu modo de vestir, falar, nas suas ideias, o que lê, como se comporta, se dentro de um grupo social ao qual não possui compatibilidade, vai acabar gerando um enorme desconforto, tanto para você quanto para eles. Fazendo assim, a reagir de um modo mais primitivo, que é atacando. O que, obviamente, nunca é a melhor maneira.
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Matthew Quick nos apresenta seu novo romance, que consegue ser tão bom quanto “O Lado Bom da Vida”. Não é uma leitura fácil, e possui um tema bem sério, mas convido a todos que se interessarem a lerem e tirarem suas próprias conclusões. A experiência, garanto, não será em vão. Ele esteve na XVI Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, e contou suas experiências como escritor. Quick trilhou um longo caminho, antes de conseguir se encontrar. Por isso, seus livros são cheios de emoções fortes e temas bem complicados.

“Você é diferente. E eu também sou diferente. Ser diferente é bom. Mas, também é muito ruim. Acredite em mim, eu sei.” – Matthew Quick.

*Este livro foi uma cortesia da Editora Intrínseca.

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