O Brasil é um país leitor e isso não facilita a vida do escritor profissional.
Sim, lemos muito, o tempo todo, talvez um dos países que mais lê no mundo, e antes de explicar porque isso não facilita a vida do escritor profissional, preciso perguntar: você ficou chocado com essa informação? Se sim, aperte os cintos, vamos olhar para alguns dados interessantes.
Em primeiro lugar, eu te conheço, sei que você acha que o Brasil não é um país leitor porque somos terceiro mundo, com IDH na 89ª posição, entre 193 nações segundo a Agência Brasil, e se você tiver um pouco mais de embasamento, está pensando também na última pesquisa da Câmara Brasileira de Livros (CBL), e vamos lá, vamos falar sobre estes dados.
Segundo o último estudo da CBL, apenas 16% dos entrevistados afirmaram ter comprado algum livro nos últimos 12 meses. Ou seja, a pesquisa mapeou que a compra de livros é baixa, o que não se relaciona diretamente com a questão da leitura. Inclusive, este mesmo estudo aponta que 56% dos que não compraram livros, encontraram alguma alternativa à compra: a leitura de livros gratuitos.
Então sim, somos um país leitor, com toda a certeza, o que é possível de constatar entrando no Wattpad, plataforma que disponibiliza livros gratuitamente e que acumula histórias brasileiras com mais de dez milhões de leituras individuais.
Em 2016, o Wattpad já tinha mais de 800 mil usuários brasileiros ativos consumindo, ou seja, lendo histórias de forma gratuita. Mas, mesmo assim (pois é, nem tudo são rosas) ser escritor profissional por aqui segue sendo muito difícil (agora podemos falar sobre isso).
E, novamente, eu te conheço, sei que você está pensando: “Ué, Camila, mas se temos tantos leitores e tantas histórias sendo lidas, porque ser escritor profissional no Brasil ainda é difícil?”. Olha, como produtora editorial posso dizer que tem muito a ver com as dinâmicas do mercado editorial e com as possibilidades de profissionalização dos escritores.
Vamos lá, aperte os cintos de novo, deixe eu te contar algumas outras coisas interessantes.
Ser escritor envolve estudar técnicas de escrita, conhecer o mercado editorial, ter condições de investir na própria arte (já que a maioria dos escritores começa no mercado independente pagando para publicar), e tudo isso, claro, depende muito das condições financeiras deste escritor. Ele consegue estudar escrita, investir na primeira publicação independente, sabe divulgar um livro, conhece as dinâmicas do mercado, as agências literárias, os eventos, os prêmios?
A maioria dos escritores aprende com o tempo, na tentativa e no erro, ou através de formações em instituições particulares no Brasil e no exterior. Também já vi muitos escritores indo para as universidades públicas, construindo projetos de mestrado nas áreas de Comunicação ou Letras, tentando se aproximar do conhecimento que carrega a prática e a teoria da escrita. Eu mesma optei por essa jogada longa ao estudar Produção Editorial em uma universidade pública, o que me custou cinco anos de dedicação e um alto investimento financeiro para me manter durante todo este tempo.
Ou seja, de uma forma ou de outra, as opções mais conhecidas dependem de condições econômicas favoráveis (e, às vezes, muito tempo). É por isso que mesmo sendo um país leitor, o mercado literário ainda tem uma dificuldade grande de ter escritores profissionais. Existe uma barreira entre o amador e o profissional que se constrói com conhecimento, e conhecimento fora do senso comum, o que dificulta a profissionalização no setor.
Novamente, como Produtora Editorial, sei disso mais do que ninguém e assim nasceu a Aldeia Literária, formação 100% digital por assinatura para escritores iniciantes que desejam aprender mais sobre escrita e o mercado editorial brasileiro de forma leve, rápida e em comunidade. Iniciativas como a Aldeia são importantes justamente para mudar essa realidade brasileira, já que temos os leitores na mão, e as histórias também. Só nos falta mais profissionalização.
E depois de toda essa reflexão, sim, todo mundo aqui já sabia que o último livro que você leu foi um PDF gratuito que você ganhou de um amigo.
Por Camila Veloso*
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