Tem livros que, logo de início, percebemos que vão proporcionar boas horas de entretenimento. São aqueles que fluem, não cansam, instigam. O Fantasma, de Robert Harris, mostrou no primeiro parágrafo que é um desses livros.
A história é narrada por um ghost-writer, contratado para escrever um livro sobre Adam Lang, o fictício ex-primeiro ministro britânico. Na verdade, escrever sua auto-biografia. Isso mesmo, ghost-writers são autores que escrevem em nome de outras pessoas. Por isso são chamados de fantasmas. Para o azar do nosso narrador, justamente quando ele assume o trabalho do livro, estoura um escândalo envolvendo Adam Lang, acusado de crime de guerra. Isso faz com que ele se arrependa amargamente por ter aceitado esse trabalho.
É mais ou menos isso o que diz a sinopse do livro. No decorrer da leitura, a história se concentra no que fez desse emprego um inferno. Isso não é mostrado logo de cara, mas aos poucos. São pequenos acontecimentos que juntos formam um grande problema. Olhando para o começo do livro, parece que ele não fala de muita coisa além de explicar a profissão de um ghost-writer e mostrar o deslumbramento do narrador com seu cliente. Mas, aos poucos, Harris vai montando um ambiente, familiarizando o leitor com as personagens, envolvendo-o na história para no fim surpreendê-lo.
Harris ilustra bem a relação do narrador com sua profissão. O ghost-writer é apresentado realmente como um fantasma. O nome dele não é mencionado em momento algum do livro. Por isso estou me referindo a ele apenas como narrador. E esse jogo de palavras que o autor emprega na obra vai muito além da invisibilidade profissional do narrador e do título do livro.
Como eu já disse, o livro cria um ambiente antes de os segredos serem descobertos e revelados pelo narrador. O destaque do livro é a incapacidade de se de prever os movimentos das personagens. É algo escondido, revelado ao leitor apenas quando deve ser revelado. Isso criou muita dificuldade para apontar previamente quem é o vilão da história. Considero isso o fator mais importante da obra, que proporcionou maior impacto, o que surpreendeu.
O Fantasma é um livro que se confunde com a realidade. Por se passar no mundo atual, onde o terrorismo está constantemente presente, ao final do livro dá até para acreditar que tudo lá escrito realmente aconteceu. Robert Harris mostrou bem os conflitos políticos entre Inglaterra e EUA e as suas conseqüências. Acredito que Harris usou o livro não apenas como forma de entretenimento, mas de protesto. Afinal, na própria orelha do livro está escrito que qualquer semelhança entre Adam Lang e Tony Blair não é mera coincidência.
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