O que o mundo está lendo: um olhar curioso

Recentemente o site visual.ly, especializado nos mais diversos e curiosos gráficos e esquemas, divulgou o ranking das obras literárias mais lidas no mundo nos últimos 50 anos. Para uma página que publica esquemas esdrúxulos como as diferenças entre o velho oeste e os jogos de pôquer online, esta não foi uma de suas listas mais inovadoras. Mas, o resultado desta, esse sim, trouxe algumas surpresas.

Como o gráfico mostra, o grande campeão de leitura é um velho conhecido que mantém a primeira posição há décadas, a Bíblia. A classificação, no entanto, é controversa. De fato, é difícil imaginar uma pessoa que, em algum momento da vida, não tenha lido ao menos uma citação bíblica. Contudo, é igualmente raro encontrar quem tenha lido toda a Bíblia, a não ser aqueles que trabalham com religião, obviamente. De uma forma ou de outra, não dá para duvidar que esta seja a obra mais conhecida na humanidade. É, pelo jeito a melhor lição de marketing aconteceu há dois mil anos atrás.

Apesar de ainda estarem longe de se equipararem à Bíblia, parece que o mercado literário infanto-juvenil também sabe muito bem como conquistar seu consumidor. O gênero domina a lista com os títulos Harry Potter, Senhor dos Anéis, O Código Da Vinci e A Saga Crepúsculo. Apesar do seu caráter fortemente comercial e de o público formado por crianças e jovens ser declaradamente uma mina de ouro, a qualidade dessas obras é inegável. Ou você acha que foi fácil criar um mundo imaginário, nomeando feitiços, animais e criaturas mágicas; inventar um novo idioma como fez Tolkien; unir raros conhecimentos históricos para criar uma surreal, mas envolvente teoria da conspiração ou, por fim, imaginar um vampiro que brilha e um lobisomem que nunca usa camisa?

Está bem, essa última não foi tão difícil assim, mas vendeu 43 milhões de cópias, então há de se respeitar.

O segundo lugar para as Citações de Mao Tsé Tung, a primeira vista é uma surpresa. Mas, se considerarmos que a China tem mais de um bilhão de habitantes, que o nada democrático governo chinês deve sugerir veementemente a leitura da obra e que o cara é um ídolo por lá, a marca de 820 milhões de leitores se torna bem menos impressionante.

A presença na lista de Think Big and Grow Rich (Pense e Enriqueça, em português) vai pelo mesmo caminho. A princípio é um tanto estranha, no entanto ao lembrar que vivemos em uma sociedade capitalista individualista, que a crise econômica é uma realidade até mesmo nas nações mais ricas, que o mercado está saturado e que os especialistas pregam que a única forma restante de acumular dinheiro é ser empreendedor e inovador, fica mais fácil imaginar este como um livro de cabeceira para 30 milhões de pessoas.

As grandes surpresas ficam mesmo para os três títulos restantes. Comecemos pelo último colocado, O Diário de Anne Frank. A enorme exposição midiática do Holocausto não é novidade, assim como o interesse do público no assunto. Porém, é justamente a enorme variedade e quantidade de filmes e livros sobre o assunto que torna a presença desta obra entre as 10 mais lidas surpreendente. O livro é lento e um pouco confuso, como deveria mesmo ser o diário de uma menina de 13 anos obrigada a viver escondida durante a guerra. Por isso, é curioso que tantas pessoas busquem sua leitura, mesmo tendo à disposição dezenas de produções cinematográficas sobre o holocausto com linguagem muito mais acessível.

O segundo elemento surpresa do ranking é Gone With the Wind (E o vento levou). Embora o filme de mesmo título tenha sido certamente decisivo para a conquista de público tão grande, é curioso que o posto não seja ocupado por outros atores mais populares que Margaret Mitchell e com muito mais obras reproduzidas na telona, a exemplo de Shakespeare.

Por fim, a maior surpresa de todas, especialmente para nós brasileiros: O Alquimista, de Paulo Coelho. Sim o livro entrou para o Guiness Book como a obra traduzida para o maior número de línguas no mundo (69) e é o título brasileiro com mais cópias vendidas no exterior. E sim o livro é elogiado pelas mais diversas personalidades desde o prêmio Nobel da paz Shimon Peres até ícones como Julia Roberts e Madonna, que afirmam ser seu livro favorito. Mas ocupar o quinto lugar entre as obras mais lidas no mundo inteiro? É no mínimo curioso. Apesar de seu grande prestígio internacional, Paulo Coelho sempre dividiu opiniões pelo caráter de autoajuda atribuído a muitos de seus livros. Arrebatou, assim, ao mesmo tempo, fãs inveterados e críticos ferozes.

Pelo visto, o time pró-Coelho levou a melhor. A favor ou contra o autor, não é nada mal encontrar um escritor brasileiro nessa lista. E que daqui para frente encontrar obras nacionais neste ranking não cause tanto espanto.

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