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Quatro perguntas para Mário Bortolotto

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Mário Bortolotto é escritor, dramaturgo, diretor, ator e vocalista/compositor das bandas “Saco de ratos” e “Tempo Instável”. Entre livros com suas peças de teatro, crônicas e contos, publicou outros dois volumes de poesia: “Para inocentes que ficaram em casa” (1997) e “Um bom lugar para morrer” (2010). Pela Editora Reformatório, lançou o livro de crônicas “Esse tal de amor e outros sentimentos” (2015). Fizemos quatro perguntas ao escritor. Confira:
1-) Você diversifica muito bem a dicção dos poemas (são bem diferentes entre si). São bem narrativos numa poética experiencial utilizando uma ótima forma métrica para um percurso dramático dos poemas. Não vi um teor confessional, muito pelo contrário, seus poemas são centrados não num eu biográfico mas num narrador que conta sua história. Como foi/é desenvolver os poemas desta forma?
Eu não penso muito na forma dos poemas quando estou escrevendo. Geralmente tenho a ideia de escrever algo e fico desenvolvendo essa ideia onde estiver, seja na rua, ou no bar, ou no táxi, tanto faz. Quando chego em casa, o poema já tomou forma na minha cabeça e é só eu sentar e digitar no computador. Creio que o narrador a que você se refere costuma me tomar o timão e comandar o rumo que o poema vai seguir. Eu deixo a tempestade me levar.
2-) Há todo um repertório para expressar este homem no que ele gosta, nas suas predileções entre suas referências literárias, perfis etílicos, relações afetivas com as mulheres, o que humaniza pela forma da sua escrita não ter nenhum teor de juízo, tanto das ações, como do personagem, o que achei muito bacana. Pode falar um pouco sobre isso?
Realmente não há nenhum teor de juízo. Detestaria algo do tipo ou se farejasse algo do tipo em qualquer escrito meu. Não estaria mais sendo honesto comigo mesmo e sequer admiraria esse narrador da posição desconfortável em que me encontro.
3-) Tem um poema no livro que me lembrou muito os poemas do Raymond Carver, que é o poema “Meu carro enterrado na areia”, que fala de uma relação de paternidade e ao mesmo tempo descreve muito bem um perfil do narrador com relação a uma afetividade com seus estilos, coisas talvez até herdadas da relação com o pai. É quase como um filtro com o qual o personagem se vê com relação a seu passado, sua vida. Como é esta relação com um autor que você curte e como ela passa para a sua escrita?
É total. Você tem toda razão em lembrar do Carver depois de ler esse poema. Tem poemas que escrevi pensando em Bukowski. Já há outros que foram influenciados por cineastas ou desenhistas de histórias em quadrinhos como Sánchez Abulí ou Brian Azzarello. E é exatamente isso. Não é o texto que me influenciou, mas sim um desenho ou uma imagem que me impulsiona a escrever algo que caberia nessa imagem ou que eu acredito que caberia.
4-) Seus poemas são muito cinematográficos no sentido de preencher cenários com os elementos narrativos por onde o poema-narração circula. Você é dramaturgo, ator e diretor. Você se vale dessa experiência também para escrever os poemas? E se não fosse você, quais seriam os diretores que você usaria par escrever/dirigir este “O pior lugar que eu conheço é dentro da minha cabeça”?
Ah, é claro que sim. Sempre que estou escrevendo, estou visualizando a cena. Às vezes imagino o rosto dos personagens, até escalo o ator ou a atriz que gostaria de ver interpretando a cena. Para os poemas de “O pior lugar…” gostaria de ter os diretores Jim Jarmush e Abel Ferrara.

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