Como no título já diz a narrativa de Os ladrões de cisne (Swan thieves, tradução de Adalgisa Campos da Silva, 536 páginas, Intrínseca) trata de algo bem comum: a paixão entre o artista e sua musa inspiradora. Entretanto o fato dela ter morrido a mais de cem anos e conseguinte ao amor que professa o pintor a loucura toma posse, fazem da leitura uma história que atrai por tratar das obsessões, das perdas e do poder de manter a esperança.
Elizabeth Kostova, é seu segundo romance e através da figura central de Leda e o cisne, tela que retrata o mito da mulher mortal, raptada por Zeus sob a forma do pássaro, tece um mistério que começou nos dias do impressionismo francês.
A trama inicia quando o famoso pintor Robert Oliver é detido por tentar atacar uma tela do também prestigiado artista Gilbert Thomas, na National Galllery of Art, em Washington. O que levaria um artista a destruir algo que ele valorizava acima de tudo? Diagnosticado de transtorno mental, Oliver é levado ao psiquiatra Andrew Marlow, que consegue de seu paciente algumas poucas palavras antes de cair num mutismo obstinado. Entre outras palavras, o paciente antes de parar de falar explicou seu ato da seguinte forma: ”Fiz isso por ela.”
Marlow, também pintor nas horas vagas, movido a princípio pela curiosidade profissional, e depois por uma determinação que perturba seu mundo ordenado e meticuloso, começa uma investigação que buscará o motivo de desproporcionada reação de Oliver em atacar um quadro tão famoso como “Leda”, representante do impressionismo francês do século XIX para o mito grego.
Em busca de respostas, o obstinado psiquiatra decide rever o passado de Oliver, qual o significado das mulheres na sua vida, e confrontando a ética profissional, busca familiares e amigos para compreender as motivações, o comportamento e a mente de um gênio perturbado. Pouco a pouco, o mistério é desentranhado, reunido os pedaços de uma vida desfeita, o psiquiatra chega a um maço de cartas de amor datadas de um século atrás, levando-o a uma trama maior de paixões secretas e traição.
A autora faz de sua narrativa, intercalando capítulos da história atual com os do passado, um novelo de histórias de amor entrelaçadas, das quais fica até difícil apontar qual é a principal ou quais são as secundárias. Uma característica que Kostova constrói para compor a ambientação obsessiva. Além desse lado romântico, Os ladrões de cisne traz também história e arte. Uma narrativa de sentimentos, paixão, ciúme, ódio, fervor, alegria, tristeza, sacrifício, inveja, remorso, dor e medo, vividos com intensidade tamanha pelos personagens, que transmitem-se com a mesma amplitude aos leitores.
Apesar de não gostar de romances desse estilo, a história possui um ritmo vibrante, mesmo com as interrupções capitulares entre seus personagens. Confesso que, movido pela curiosidade, li alguns capítulos à frente, em especial aqueles ambientados no século XIX. Contudo, a história deve ser lida como foi escrita, pois de outra maneira, perde a intensidade e o clímax. As interrupções que a autora construiu estão intimamente relacionadas, consistentes e coesas, mesmo sendo histórias diferentes. Os ladrões de cisne faz um estudo das falhas humanas e do preço da verdadeira arte, misturando em camadas a França impressionista com a moderna Washington, para contar um momento da história da arte e o reflexo na condição humana daqueles que vivenciam a arte no dia-a-dia.
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Gostei do livro!