A mistura de gêneros musicais em prol do ritmo dançante deu o tom do primeiro dia do Super Bock Super Rock

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O primeiro dia do festival português SuperBock SuperRock foi marcado pela vibe revival da era dançante e dos ritmos do pop-rock típicos dos anos 70 e 80, tão marcantes no panorama musical atual. Alguns dos expoentes que refletem essa descrição foram Jungle, Metronomy, 1975 e Roosevelt. 

A primeira grande atração, que abriu o palco principal, foi Cat Power, que não se deixou fotografar. A cantora americana que já não pisava nos palcos portugueses desde 2015, acabou por fazer uma aparição um pouco prematura, atuando injustamente como aquecimento de plateia, ainda no calor penetrante do verão europeu. Suas músicas, de tom mais suave e sombrio, com letras melancólicas e uma voz rouca e penetrante, acabaram se perdendo no ambiente demasiado claro e espaçoso. A performance de Cat Power pareceu deslocada ali, merecendo um palco menor, mais aconchegante e intimista. 

Em seguida, a tempo de aproveitar todo o espetáculo natural do pôr do sol que deixou as cores do céu em vivos tons de azul e rosa, veio a banda inglesa Jungle. Composta em sua base pela dupla Tom McFarland e Josh Lloyd-Watson que, para as apresentações ao vivo, acabaram por se adaptar sendo acompanhados por mais cinco integrantes, incluindo um casal de cantores que ajudam a compor a harmonia das vozes, tão característica de suas canções, a banda colocou todo mundo pra dançar.

A playlist da noite incluiu muitos dos sucessos de alta rotação nas rádios como “Heavy, California”, “The Heat” e “Casio”. Incluiu também algumas das minhas favoritas como “Julia”, “Busy Earning”, “Time” e “Smile”. O gênero musical da banda, desenvolvido ao longo de dois discos de muita música dançante, mistura pop eletrônico, synth pop e new soul/funk/groove. É uma loucura tentar definir as bandas de hoje em dia, mas a gente tenta.

No outro palco, um pouco menor, mas com grande peso na escolha dos artistas, tocou Dino D’Santiago, o português filho de pais cabo-verdianos. Num cenário simples que incluía três backing vocals vestidas com um prateado futurista e munidas de teclados e outros instrumentos capazes de produzir e moldar sons, Dino preencheu o espaço com sua presença de palco expansiva e alegria contagiante.

O cantor misturou hits como “Tudo Certo”, e vários de seu novo disco Mundu Nobô incluindo “Como Seria” e “Nôs Funaná”, que vão passeando pelos ritmos hip-hop, funaná, batuku, morna, kizomba, afro-house e eletrônica. Na última música, Dino desceu pra estar com o público, cantando e dançando em meio a todos e dizendo para pensarem aquele momento como um momento especial deles e para aproveitarem ao máximo. Depois, ao sair, tirou fotos com vários fãs muito alegres de poderem abraçá-lo. No geral, apesar de considerado um show menos importante, foi um dos meus favoritos.

O grupo português Grandfather’s House, que canta em inglês, surpreendeu com sua presença de palco, química como grupo e entusiasmo da talentosa vocalista Rita Sampaio. Apresentando canções de seus dois discos, “Slow Move” (2016) e “Diving” (2017), o grupo conseguiu cativar o público do palco LG com seu estilo de rock alternativo sensual/sombrio.

Conan Osíris se apresentou com sua maquiagem original e seu figurino esvoaçante e plissado ao lado de dois músicos e um dançarino no palco Somersby que, apesar de ser ainda mais secundário, se tornou o cenário perfeito para suas performances, quase como num show intimista e particular, no qual o público pôde se envolver ainda mais com suas canções e ter uma troca direta com o cantor que, ao longo do show, dominou o ambiente e compartilhou vários desabafos com seus “bebês”, sobre se sentir mal, sobre a fama, etc. Quase cada intervalo entre canções era preenchido por algum comentário do artista.

Se eu parecia ter dificuldade em determinar o gênero musical dos grupos acima, com Conan é quase impossível. Ele mistura uma voz solene e bem entoada, com pitadas de fado e canto cigano, instrumentos orientais, ritmos indianos, música eletrônica com sintetizadores para declamar palavras diretas e de fácil acesso que, às vezes beiram o cômico, mas quase sempre elevam banalidades a estatuto ritualístico. E mais uma vez, um dos artistas com letras menores no cartaz acabou oferecendo uma das melhores apresentações. 

Já no palco EDP, a veterana banda britânica Metronomy, cuja primeira formação se deu em 1999, começou o show com pequenos trechos instrumentais que pareciam um momento antecipação e apresentação da banda.

Logo logo começaram a emitir seus sons que misturam um “inocente” e encantador teclado de Ocar Cash com a voz envolvente de Joseph Mount, a presença de palco pulsante do baixista Olugbenga Adelekan e ainda o carisma da baterista Anna Prior e do versátil Michael Lovett. Apesar da rendição impecável de suas canções, herdeiras de influências como Devo, Pavement e David Bowie, o público português não estava interagindo como a banda merecia. Pareciam estar ali mais pelos encontros com outros festivaleiros do que pela música em si.

Mount e Adelekan ainda tentaram convocar a participacão do público, mas com pouco sucesso. Depois de tocarem “The Bay”, “Reservoir”, “Wedding Bells”, “Salted Caramel Ice Cream”, “Love Letters”, dentre outras, a derradeira canção, “The Look” finalmente conseguiu envolver o morno público, que cantou junto em ritmo e letra.

Pra fechar a noite, Lana Del Rey, a grande e mais esperada atração do line up, que também não se deixou fotografar, uniu os espalhados públicos para cantarem todos juntos com ela sucessos novos e antigos como “Born To Die”, “Blue Jeans”, “Summertime Sadness” e “Venice Bitch”, com direito também a um cover de Sublime da música “Doin’ Time”. Durante as pausas entre as músicas, a cantora agradecia o público português pela acolhida calorosa com sua voz doce e delicada, tão diferente da voz sensual/sombria que usa para cantar.

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