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As fases de Erasmo Carlos

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Erasmo Carlos faleceu nessa terça-feira (22), aos 81 anos, e deixou o rock brasileiro órfão. Um dos pioneiros do gênero, autor de mais de 500 músicas, o Tremendão formou com Roberto Carlos uma sólida e longeva parceria. É possível dizer que eles foram o que John Lennon e Paul McCartney seriam se os Beatles não tivessem se separado e Lennon não tivesse sido assassinado.

Prestando homenagem ao Gigante Gentil, vamos entender suas fases musicais ao longo de mais de 60 anos de carreira.

Início

Quando adolescente, no final dos anos 50, Erasmo Carlos frequentava o bar Divino, na rua do Matoso na Tijuca, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Dali, surgiram, os grupos que seriam a gênese da Jovem Guarda: The Snakes, The Sputniks (formado por Roberto Carlos, Tim Maia, Arlênio Lívio e Wellington), e Os Terríveis – que contava com Roberto (guitarra), Carlos Imperial (piano e acordeon), Paulo Silvino (vocais; o futuro humorista), Edson Moraes (guitarra), Amilcar (guitarra havaiana), Vitor Sérgio (guitarra) e João Maria (bateria).

A amizade com Roberto se iniciou porque o futuro Rei procurava a letra de ‘Hound Dog’, sucesso na voz de Elvis Presley, e Erasmo a tinha.

Jovem Guarda

A Jovem Guarda era o programa de televisão que estreou na rede Record em 1965, e trazia os jovens talentos musicais que faziam a cabeça dos jovens brasileiros nos anos 1960. Fortemente influenciado por Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones, o movimento ditou moda, comportamento e expressões que se tornaram marca daquela geração. Roberto, Erasmo e Wanderléa eram a trindade da Jovem Guarda, que também contava com nomes como Jerry Adriani, Golden Boys, Martinha e os Vips.

Os hits mais marcantes da dupla Roberto e Erasmo nesse período foram ‘Festa de Arromba’ ‘Minha Fama de Mau’ e ‘Quero que tudo vá para o inferno’. As letras invariavelmente giravam em torno de festas carros e paqueras.

Dessa época também se destacam as baladas ‘Devolva-Me’, com Wanderléa, e ‘Gatinha Manhosa’.

Pós-Jovem Guarda

Com o fim do programa Jovem Guarda, em 1968, Erasmo ficou apreensivo quanto ao futuro. A incerteza e uma palavra de incentivo do amigo Roberto o inspiraram a compor o que viria a ser seu maior sucesso, ‘Sentado à Beira do Caminho’. Outro destaque desse início de carreira pós-Jovem Guarda foi o samba-rock ‘Coqueiro Verde’.

Anos 1970

“Carlos, Erasmo”, de 1971, é considerado seu melhor disco. Nesse início da década Erasmo assinou contrato com a gravadora Polydor. O disco, que abre com ‘De Noite na Cama’, escrita por Caetano Veloso especialmente para ele, e é sempre lembrado pela polêmica faixa ‘Maria Joana’. Escrita em parceria com Roberto Carlos, a letra é uma clara apologia à maconha.

Outras canções de destaque dos anos 70 são ‘Sou uma Criança, Não Entendo Nada’, ‘Cachaça Mecânica’ e ‘Filho Único’. ‘Panorama Ecológico’, faixa do álbum “Esquinas de Ipanema”, de 1978, chama atenção por abordar o tema da degradação do meio ambiente anos antes de o assunto estar em voga.

Anos 1980; a fase pop

Assim como boa parte dos artistas de sua geração, Erasmo na década de 80 quis soar mais moderno, em alinhamento com a sonoridade pop daquele momento. A primeira metade da década foi recheada de sucessos. Do álbum “Mulher” (1981) saíram a faixa-título e ‘Pega na Mentira’. “Amar Pra Viver ou Morrer de Amor” trouxe ‘Mesmo Que Seja Eu’. Já “Buraco Negro” vinha com a faixa ‘Close’, que colocava uma mulher trans – Roberta Close – como a mulher perfeita. Mais uma vez (como em ‘Panorama Ecológico’ seis anos antes), Erasmo estava à frente.

Renascença

Após uma pouco produtiva década de 1990, em 2001 lançou “Pra Falar de Amor”, que apresentou parceria do compositor com Carlinhos Brown e Marisa Monte em ‘Mais um na multidão‘. Foi a recolocação de Erasmo ao mercado, marcada por parcerias com artistas de gerações mais novas.

Erasmo realizou a bem-sucedida trilogia iniciada pelo elogiado álbum “Rock N’ Roll” (2009), seguido de “Sexo” (2011) e finalizando com “…Amor é Isso” (2018). O primeiro trazia parceria com Nando Reis, o segundo teve colaboração de Adriana Calcanhotto e Arnaldo Antunes, enquanto o terceiro contou com Emicida e Samuel Rosa como parceiros, além dos retornos de Arnaldo, Adriana e Marisa.

Nesse ínterim ainda houve “Gigante Gentil”, de 2014, no qual se inclui a única parceria do Tremendão com Caetano Veloso, ‘Sentimentos complicados‘.

Seu último álbum foi “O Futuro Pertence à Jovem Guarda”, que rendeu uma entrevista aqui na Revista Ambrosia (confira).

Nos últimos anos, Erasmo vinha se apresentando ao vivo com uma banda de jovens músicos, os Filhos da Judite, o que adicionou bastante vigor à sonoridade das músicas em shows. Erasmo, conhecido no meio artístico por sua generosidade, não à toa era conhecido como Gigante Gentil, e deu aos meninos essa oportunidade de ouro, acreditando no potencial deles.

O gigante se vai, e fica a saudade e o legado. Descanse em paz, Tremendão!

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