O Avenged Seven Fold trouxe um presente de natal antecipado e surpresa para os fãs. “The Stage” (Capitol Records, 2016) veio precedido de uma brincadeira e informações desencontradas. A brincadeira ficou por conta do amigo da banda e estrela do WWE Chris Jericho, que vazou a informação de que o novo disco se chamaria “Voltaic Oceans” e seria lançado em 9 de dezembro.
A informação desencontrada eram a da coletânea contendo material lançado pela Warner (a banda assinou com a Capitol em 2013). Porém, foi durante o show na cobertura do famoso prédio da atual gravadora, em Hollywood, na última quinta-feira (que foi transmitido em realidade virtual 360 graus) que o conjunto fez o anúncio do álbum para o dia seguinte. “The Stage” é ambicioso, um art metal seguindo a tradição de bandas de metal que, em determinado ponto da carreira, lançam um projeto de conceito mais rebuscado.
No caso aqui, trata-se de um disco conceitual, com o tema da inteligência artificial. A inspiração veio das obras de Carl Sagan e Elon Musk e inclui até um trecho falado escrito e entregue pelo famoso astrofísico Neil deGrasse Tyson. Esse é também o primeiro álbum gravado com o baterista Brooks Wackerman ocupando o lugar de Arin Illejay. Wackerman se juntou ao vocalista M. Shadows, aos guitarristas Zacky Vengeance e Synyster Gates, e ao baixista Johnny Christ em 2015.
O disco traz muito da base que constitui o som do A7X. Porém pende mais para o heavy metal do que para o hard rock do anterior “Hail To The King”. A faixa-título abre os trabalhos mostrando o tom épico que a banda quis imprimir ao disco. A seguinte, ‘Paradigm’, segue a linha facilmente identificável do quinteto, remetendo mais ao metal alternativo. É curiosa a linha de instrumento de sopro que permeia ‘Sunny Disposition’, dando um toque até meio jazzista à canção, que se constitui basicamente como prog metal. O resultado é bem interessante. ‘God Damn’ é a menor faixa do álbum, com apenas 3 minutos e 42, e é também a mais energética. É uma tradicional composição de metal com a aceleração agressiva se alternando com desaceleração melódica.
Em ‘Creating God’ se destaca o melódico trabalho de guitarra no refrão e, sobretudo, no solo. ‘Angels’ é aquela faixa para mostrar o dinheiro empregado na produção, e, de quebra, emplacar nas rádios rock e angariar novos fãs. Pode-se dizer que o, digamos, “lado b” do disco envereda por uma sonoridade mais melódica, contrastando com o “lado a” chumbo grosso, e isso é perceptível nas faixas seguintes como ‘Simulation’, ‘Higher’ e na ambiciosa ‘Roman Sky’, que traz elementos sinfônicos para se somarem às guitarras. É inegavelmente bem produzida, mas não vai muito além do lugar comum do gênero. Depois de ‘Fermi Paradox’, outra clássica composição de metal, vem a derradeira faixa do álbum, ‘Exist’, com seus imponentes 15 minutos e 41.
A produção de Joe Baressi (conhecido por produzir a banda Coheed and Cambria) foi estratégica para a mudança em relação aos dois discos anteriores, produzidos por Mike Elizondo. O objetivo era dar mais polidez e dinamismo, mas mantendo o peso. Apesar de um excesso ou outro, “The Stage” é uma experiência válida da banda, que busca se firmar como um dos principais nomes do rock pesado desse início de século XXI e também dar um passo além. É um disco que pode de certa forma dividir opiniões até entre os fãs, como ocorreu com “Seventh Son of a Seventh Son”, o vislumbre art metal do Iron Maiden. Entretanto, em tempos em que o rock parece estar cada vez mais engessado e comprometido, qualquer nesga de ousadia é muito bem vinda.
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