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Baile de Ringo Starr é a antítese da megalomania de Paul McCartney

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Quem compareceu ao Vivo Rio na noite da última sexta feira no Rio de Janeiro para o show de Ringo Starr & All Starr Band esperando algo similar ao que Paul McCartney faz saiu bastante decepcionado. Era sabido que não haveria o gigantismo das apresentações do baixista e compositor de boa parte dos sucessos da famosa banda de Liverpool, dadas as dimensões da casa de espetáculos (Ringo só toca em pequenos espaços), mas a expectativa era de que o repertório fosse mais generoso em canções dos Beatles e até mesmo da própria carreira solo do senhor Richard Starkey.

É curioso reparar que dos Beatles sobreviventes, ficaram justamente as duas extremidades claramente opostas da banda. Enquanto Paul faz shows grandiosos, em arenas para multidões de dezenas de milhares, com palco gigantesco, telões e efeitos pirotécnicos, Ringo é low profile, só se apresenta em casas pequenas com um cenário que se restringe a algumas estrelinhas coladas em uma cortina ao fundo do palco, iluminação e som fornecidos pela própria casa. O que ocorre é que Paul chamou para si a responsabilidade de manter vivo o legado do quarteto fantástico de Liverpool, afirmando que o sonho não acabou, ao contrário do que disse John Lennon em 1970. Daí tome doses generosas de sucessos da banda a maioria de sua autoria.

Já Ringo parecer sentir que não deve nada a ninguém, não buscando o peso de ser um ex-Beatle. Chama um grupo de amigos para tocar e deixa que eles assumam o protagonismo durante boa parte do show. trata-se da All Starr Band, uma espécie de dream team de músicos oriundos de diversas bandas que se juntam desde 1990 para compor o “bailão do Ringão”. Dessa vez a formação foi Steve Lukather (guitarrista do Toto), Richard Page (baixista do Mr. Mister), Gregg Bissonette (baterista que já tocou com David Lee Roth e Steve Vai), Gregg Rolie (tecladista da banda de apoio de Santana), Todd Rundgren (guitarra) e Mark Rivera (saxofone).

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Os grandes sucessos das bandas e artistas com os quais cada um ali tocara foram lembrados. Só do mago mexicano da guitarra, Santana, foram quatro (o mesmo número de canções autorais dos Beatles executadas na noite): ‘Gypsy Queen’‘Black Magic Woman’, ‘Oye Como Va’ e ‘Evil Ways’ (Na verdade só a primeira é de autoria do guitarrista, as outras são versões que ganharam personalidade própria). Também houve espaço para Toto – ‘Rosana’, ‘Africa’ e ‘Hold the LIne’ – e Mr. Mister – ‘Kyrie’ e ‘Broken Wings’. Essas músicas, amparados pela excelência dos músicos cativaram muitos dos presentes, mas o que a maioria queria mesmo era ouvir os clássicos dos Beatles e da carreira solo. Quando Ringo assumiu as baquetas pela primeira vez, após três números à frente da banda, o público foi ao delírio. Tudo bem, não era a bateria principal, que era pilotada por Bissonette, era uma bateria auxiliar de bases, mas ainda assim era Ringo Starr na bateria. E mantendo a fama do Beatle bonachão, ele brincou com a plateia, repetiu a palavra “Love” inúmeras vezes e sempre fazendo o sinal do “peace & Love” com os dedos indicador e médio, sua marca registrada.

No total foram sete canções da época do fab four. Os pontos altos foram ‘Yellow Submarine’ e ‘With A Little Help From My Friends’. Além delas tiveram ‘Don’t Pass Me By’ de 1968, a primeira de autoria dele, e as dos primórdios ‘I Wanna Be Your Man’ – essa feita por Lennon e McCartney para os Rolling Stones – e os covers que ficaram famosos na versão dos rapazes ‘Matchbox’, ‘Boys’, ‘Act Naturally’ e ‘Honey Don’t’. A carreira solo não ficou de fora, foram quatro músicas no total. Embora não tenha a mesma projeção dos trabalhos de Paul McCartney, John Lennon (que foi lembrado no número final do show, com ‘Give Peace a Chance’) e mesmo de George Harrison, Ringo tem boas composições como a clássica ‘Photograph’, seu maior (talvez único) hit. Ao fim da apresentação ficou um gostinho de decepção em quem esperava um pouco mais de Beatles (faltou ‘Octopussy’s Garden’, faixa do “Abbey Road”, de autoria dele) e mesmo da carreira solo. Mas quem entrou no espírito do “bailão do Ringão” se divertiu a valer. Paul McCartney é quem faz shows; Ringo Starr faz festas.

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