Uma das principais atrações da C6 Fest, Jon Batiste encerrou a segunda noite do festival no Rio de Janeiro, no Vivo Rio, com muita animação e um irresistível ritmo presente na sua combinação vibrante do Jazz de sua Louisiana natal com R&B contemporâneo, soul, neo-soul e post-bop e um tempero pop. De 2015 a 2022, Batiste foi o líder da banda e diretor musical do The Late Show with Stephen Colbert, da CBS. Ele ele também contribuiu com canções para o filme animado da Disney-Pixar “Soul” (que também apresentava músicas de Trent Reznor e Atticus Ross) e lançou um álbum complementar, “Music from and Inspired by Soul”. Junto com um Globo de Ouro, Soul ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora Original.
Seu show é aquele em que não há como ficar parado. O artista se apresentou logo após o show de Samara Joy (que estava no pit para prestigiá-lo, assim como seus músicos, que podiam ser vistos pela pista do Vivo Rio). No palco, uma autêntica big band, com todos os músicos de branco – afinal, sexta-feira é dia de Oxalá, e os seguidores de religiões brasileiras de matriz africana se vestem com essa cor -, e incluía ritmistas, iniciando a apresentação com uma autêntica batucada de escola de samba. Era uma forma de se estabelecer uma ponte entre a cultura brasileira com a de Nova Orleans, o polo da tradições afro nos EUA. Então, Jon entra segurando uma pequena bandeira do Brasil e inicia os trabalhos com uma performance incendiária da faixa ‘TELL THE TRUTH’, na qual além do vocal privilegiado ainda mostrou seu talento tocando saxofone e piano.
A apresentação teve momentos dançantes como em ‘We Are’, segunda música do set, e outros mais experimentais, com improviso, nos quais o artista deixa a sua verve jazzman mais aflorada. Além da banda, Jon conta com uma backing vocal e três dançarinas.
Depois do animado reggae ‘Rain Dance’, foi a vez de seu hit ‘FREEDOM’. Na última parte do show, Jon chamou a cirandeira Lia de Itamaracá e deixou que ela brilhasse, com um pot-pourri de cantigas em que Jon se colocou no posto de coadjuvante e deixou com que a baluarte do cancioneiro tradicional do Brasil recebesse todos os holofotes. Durante boa parte do show público parecia estar mais para o jazz do que para a soul music. Jon chegou a provocar a plateia convocando-os para uma coreografia: “de onde eu venho, ninguém ouve uma música assim e fica parado como vocês. Eu preciso ver isso aqui”. Realmente um tanto decepcionante para quem conhece o Brasil como a terra do carnaval.
E por falar em carnaval, o show terminou com um cortejo, em que os músicos desceram todos do palco e foram para o meio da plateia (uma das dançarinas até segurava uma sombrinha), criando um pequeno bloco na pista do Vivo Rio. Um final adequado de um show que buscou unir as culturas afro de dois países que se utilizaram da escravidão e ainda ganharam de presente uma inestimável riqueza musical.
Setlist:
Samba (intro)
TELL THE TRUTH
We Are
WORK IT OUT
I NEED YOU
Hi-De-Ho
(cover de Cab Calloway)
Rain Dance
FREEDOM
CRY
Com Lia de Itamaracá:
Janaína
Quem me deu foi Lia
Meu São Jorge
Mamãe Oxum
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