Na última sexta feira, tivemos um combo de gostosura e originalidade no Circo Voador. Iniciando os trabalhos estava a banda mineira Graveola e o Lixo Polifônico, que já teve tantas formações diferentes desde seu surgimento, mas parece agora ter firmado com os seis integrantes: Bruno de Oliveira nos baixos; Gabriel Bruce na bateria; José Luis Braga nos vocais e guitarra; Luiza Brina na percussão, cavaco e voz; Luiz Gabriel Lopes, vocais e guitarra e Ygor Rajão, na escaleta e trompete. Pra quem não conhece Graveola, vale a pena conferir. Todos os discos estão para download no site oficial.
Eles são uma banda de muito otimismo e muita presença. E a simpatia mineira carregada pelo sotaque e o sorriso só complementam. As letras misturam poesia, brincadeiras e lições de vida. Desde pequenas observações do cotidiano até cartas de amores perdidos. Além disso, as harmonias das vozes masculinas e feminina sempre são um deleite para os ouvidos.
Nesse show e no último que fizeram no Rio, no Oi Futuro Ipanema, eles vêm se concentrando em mostrar as músicas do último EP, que gravaram em Londres, chamado London Bridge. Ponte de escala para shows, bridge de trecho de música, meio do caminho entre um disco e outro, London Bridge carrega o bom humor e as canções de amor que se descarrilham em aprendizados e levezas do coração.
Depois do intervalo, enquanto o apresentador introduz a próxima atração, Tom Zé aparece no palco desavisado, ansioso e confundido do momento de pisar no palco. Logo depois de um bem pontuado comentário pelo apresentador em relação a uma das músicas novas de Tom Zé, sobre a importância da curiosidade para o ser humano e sobre a complexidade na qual estamos todos metidos apesar do mundo tentar simplificar as coisas entre esquerda e direita, é chegada a hora. O pequeno, mas sempre em forma, Tom Zé, gracioso e contente pela companhia de seus muitos fãs, começa a apresentar a banda, um a um. Percebe-se a amizade, a intimidade e a diversão envolvida no conjunto.
A partir daí, é só brincadeira. Ou melhor, é só coisa séria. Tom Zé tem essa propriedade de conseguir criar canções que parecem infinitamente simples, como brincadeiras de criança, como trava línguas e aliterações, mas que no fundo e na superfície são elaborados exercícios poéticos e fabulações em torno daquilo que parece tão próximo e palpável, mas que escondem a natureza dos encontros.
Ao trazer músicas antigas e muitas de seu novo disco “Vira Lata na Via Láctea”, canta os males, conta o prosaico, faz dançar com os ritmos da marchinha de carnaval e o xique xique, comenta o Papa, clama pela curiosidade humana, critica a mídia em forma de revista, tenta decifrar a geração Y… tudo em forma de gêneros musicais conhecidos acrescidos e atritados das sincopadas interações com a guitarra, a voz, o teclado, enfim, o cada um desse conjunto original e fresco em todo seu acúmulo de experiência e experimentações musicais.
Para além disso, sua presença de palco vale a pena por si só. Ele se diverte, tranquilo, repetindo as partes que merecem maior atenção, lendo as letras com as quais se surpreende de um dia ter escrito, sorri humilde, encontra piadas, recebe e veste os presentes, oferece o microfone para os mais sedentos de dividir a voz e vai descobrindo junto com a plateia o set de músicas, uma a uma. E claro, não poderiam faltar as calcinhas, que agora viraram parte essencial de seus encontros com a multidão. A calcinha cuja parte mais importante ele vestiu perto do coração. Isso sim é poesia, descobre Tom Zé.
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