Crítica: Com "Nheengatu", Titãs reafirma sua relevância no BRock

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Celebrando trinta anos de seu debut em disco e retornando após cinco anos do último álbum de inéditas (o irregular Sacos Plásticos), os Titãs apresentam Nheengatu (Som Livre/Slap, 2014) em todas as mídias (vinil, cd e digital). A boa notícia para os fãs é que esse pode ser considerado o melhor trabalho do grupo paulista dos últimos 20 anos. Nesses 32 anos de vida, ficaram as marcas das perdas. A primeira, o vocalista e principal letrista Arnaldo Antunes, a segunda o guitarrista Marcelo Frommer, morto em 2001, a terceira, a saída do baixista Nando Reis (responsável pela veia mais pop/MPB/reggae) até finalmente chegar à saída do baterista Charles Gavin.
O que já fora um hepteto hoje é um quarteto formado por Paulo Miklos, Branco Mello, Sérgio Brito e Tony Bellotto, além do baterista Mário Fabre, que já pode ser considerado um integrante da banda e não apenas um músico de apoio. As 14 faixas do novo álbum mostram a mais eficiente faceta dos Titãs: o peso. As investidas em um som mais pesado renderam os melhores trabalhos dos hoje senhores como o clássico Cabeça Dinossauro e Titanomaquia.
O título do álbum remete ao idioma derivado do tupi-guarani, criado pelos jesuítas no século XVII para unir as tribos indígenas brasileiras a os brancos.Coadunando-se com o peso do som, as letras apresentam temas contundentes. A primeira faixa, Fardado, se mostra em sintonia com a onda de manifestações de 2013. “Você também é explorado, fardado!” vocifera Paulo Miklos, como se clamando os policiais à conscientização de que também são vítimas do status quo que defendem. A ironia característica do grupo aparece em Canalha, República dos Bananas e Chegada ao Brasil. Pedofilia toca em um assunto delicado, mas pertinente dentro da essência denunciativa do álbum. A munição não é economizada. O peso do som que permeia as faixas é amenizado nas faixas Eu Me Sinto Bem e Chegada. Nelas temos o viés ska, que também compõe o caldeirão de influências da banda. Não Pode  soa como uma prima de AA UU, e aponta para a patrulha politicamente correta no refrão “Não pode/ Não pode, não pode/Não pode/ Não pode fumar, não pode beber”.
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Já em Senhor, vemos Mário Fabre, já bastante à vontade com suas baquetas, seguindo a linha de bateria de Cabeça Dinossauro. Vale ressaltar o fato de o músico apesar de não mudar radicalmente o estilo em relação a seu antecessor, não deixa de ter sua personalidade. Ele não está ali apenas para soar como Charles Gavin. Em Fala Renata ele tem seu maior momento de destaque, apesar de ser a música mais fraca do disco. Baião de Dois flerta com o ritmo nordestino, e é talvez a faixa mais pesada. Não faria feio no álbum Roots do Sepultura. Em Quem São Os Animais o alvo de críticas é a perseguição às minorias na letra que diz “Te julgam pela cor da tua pele/Te insultam e te condenam a penar/ Te julgam pela roupa que vestes/Te humilham e não te deixam falar”.
Nheengatu é um alento para os fãs dos Titãs, ao ver a banda entregar um disco que faz jus à sua trajetória, e serve também para calar aqueles que achavam que nada relevante seria lançado pelo grupo. A impressão que dá é que a turnê comemorativa dos 25 anos de Cabeça Dinossauro e a de trinta anos do grupo (com participação especial dos ex-membros) foram uma injeção de ânimo e inspiração. É o Titãs em sua mais pura essência, esbanjando boa forma surpreendente como se o tempo não tivesse passado.

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