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Crítica: "The Endless River" funciona como um epílogo do Pink Floyd

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Incessantemente festejado pelos fãs, chega ao mercado o décimo quinto e (afirmam eles) último álbum de estúdio do Pink Floyd, “The Endless River” (Parlophone/Columbia, 2014). A má notícia é que não haverá uma turnê para divulgar o disco, segundo o guitarrista David Gilmour, e não é exatamente uma volta da banda. “The Endless River” é uma seleção de composições extraídas do material bruto excedente das gravações do que até então era o último álbum, “The Division Bell”, lançado em 1994 e que levou o Pink Floyd a sua última turnê que, apesar de muita torcida e até um boato de que o “Rei” Pelé teria convencido a banda a vir ao Brasil, não passou por aqui.
O projeto de “The Endless River” se iniciou em 2012, quando Gilmour e o baterista Nick Mason decidiram revisitar materiais feitos junto com o tecladista Richard Wright, falecido em 2008. Segundo Gilmour, eles ouviram cerca de 20 horas de gravação dos três tocando e selecionaram o que queriam trabalhar no novo disco. Durante o ano passado, o guitarrista e o batrerista adicionaram novas partes e regravaram outras. Para direcionar o trabalho, chamaram o guitarrista e produtor Phil Manzanera, que participou de “On An Island” de Gilmour co-produzindo e tocando. Ele e o engenheiro de som do Pink Floyd Andy Jackson passaram seis semanas juntando as 4 peças de 14 minutos que compõem o álbum.
Wright, Gilmour e Mason durante as gravações de "The Division Bell" em 1993 Wright, Gilmour (à esquerda) e Mason (de óculos escuros) durante as gravações de “The Division Bell” em 1993
Vale lembrar que Roger Waters não se envolveu em nenhuma etapa sequer do disco. Esse é o último trabalho do Pink Floyd como um trio, ou seja, a configuração da banda a partir de 1987.
Dado o fato de ser proveniente das sessões de “The Division Bell”, é de se imaginar como teria sido se a banda tivesse tido audácia de lançar um álbum duplo na época: o disco um com as músicas que conhecemos em 1994 e o disco dois com as que temos agora. O resultado seria interessante.
“The Endless River” é essencialmente instrumental, o que pode cansar alguns ouvintes, até porque, remando contra a maré atual, é concebido como álbum, com as quatro peças correspondendo a um lado do vinil, uma faixa continuando a outra, ou seja, o ideal é que se ouça inteiro, como “Dark Side Of The Moon” e outros da fase áurea da banda. Tanto que além do tradicional ITunes e CD, também está sendo lançada uma versão em vinil, sem contar com a deluxe, trazendo faixas extras (sim, ainda ficou coisa de fora da edição final).
A primeira peça do álbum abre com ‘Things Left Unsaid’; essa primeira parte traz matizes etéreas, que nos remetem mais à new age do que ao rock progressivo, ou art rock característico do Pink Floyd. Completada por ‘It’s What We Do’ e ‘Ebb And Flow’, essa primeira parte soa como uma versão prolongada da introdução de ‘Shine On You Crazy Diamond’, do álbum “Wish You Were Here”. Já na segunda peça verificamos que caberiam letras tanto em ‘Sum’ quanto em ‘Anisina’, não sabemos se faltou inspiração para escrever, ou uma certa preguiça, afinal de contas, a banda já acabou, para que se esmerar em criar grandes tratados como ‘Time’? Esta última faixa, conta com um belo arranjo de teclado de Wright e evoca ‘Us and Them’, semelhança essa reforçada pelo solo de sax.
Na terceira suíte já somos remetidos ao Pink Floyd da fase David Gilmour, embora ‘Allons-y (1)’ soe como uma prima-irmã de ‘Run Like Hell’ do “The Wall” (que é uma composição de Gilmour). Esta é seguida da intervenção “new ageana” ‘Autumn ’68’ (homenagem a ‘Summer ’68’ do álbum “Atom Heart Mother”) que desemboca em ‘Allons-y(2)’. A parte quatro é a que traz a única faixa do disco com vocal, ‘Louder Than Words’, que vem sendo executada nas rádios. Com letra de autoria de Gilmour e de sua esposa Polly Samson, é, digamos, a mais palatável aos ouvidos do grande público, e justamente por isso foi escolhida como carro chefe de divulgação, mas não é a mais inspirada do álbum.

“The Endless River” não se equipara a obras primas como o debut “The Piper At The Gates Of Dawn”, “Dark Side Of The Moon”, “Animals” ou “The Wall”, mas se junta com dignidade à obra da banda, sem se tornar uma mancha ou deslise indesejado. Pode ser encarado como uma homenagem a tudo que foi feito pelo conjunto entre 1967 e 1994. Um belo epílogo de uma trajetória brilhante na História da Música, e merece sim toda a celebração que está recebendo.

Veja também: ‘The Endless River’ ganha vídeo de bastidores.

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1 Comentários

  • Ótimo texto! Muito bem escrito e, apesar do tom irônico desnecessário ao new age, conseguiu transmitir com dignidade a noção do último álbum do Pink Floyd! Só queria entender qual o problema dos críticos com o new age??? O new age que copiou o rock progressivo e não o contrário! Mas mesmo assim tudo bem, fazer o que??!

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