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Do ancestral ao funk, Mimosa faz reparação histórica

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Mimosa
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É inegável a contribuição africana na formação da cultura e da sociedade brasileiras. País mais negro fora do continente africano, o Brasil exporta e mercantiliza essa negritude para o mundo – mesmo que as estatísticas aplicadas a esses corpos, no país, sigam mortais.

O mineiro Luiz Felipe Lucas, em Barcelona, joga a si mesmo e o público em uma viagem afrodiáspórica no álbum Mimosa, um manifesto sobre a potência dos ritmos afrobrasileiros que resistiram desde a colonização, seguem resignificando a luta e a existência de milhões de pessoas e criam desdobramentos: do terreiro ao samba, passando pelo hip hop, drum’n’ bass e pelas diversas vertentes do funk. 

Junto dos beatmakers e produtores do Rio de Janeiro Mbé e Leyblack, Lucas radiografa em samples, batidas e colagens uma sabedoria, a um só tempo, ancestral e periférica. Contemporânea, mas em constante diálogo com o passado.

O título do álbum é sagaz: refere-se a uma antiga zona de prostituição carioca e também ao ato de dar carinho/presente. Com 14 faixas, três delas interlúdios, Mimosa abre com uma convocação para a dança em “CHÃO”. No sample, sob jongos entoados por uma comunidade quilombola de Vassouras, no Vale do Paraíba, em idos de 1940, brada-se “cangoma me chamou”: o grito que chama para a forra, para o batuque. Um convite ao gozo, aqui evidenciado pela risada aberta e cortante de Luiz Felipe Lucas.

As faixas “QUINTA”, “DFB”, “TACA”, “MATUTA” e “LANÇA” são os pontos altos do projeto, numa junção apoteótica entre bases – que estão prontas para levantar qualquer pista – e letras explícitas e gráficas, no melhor estilo “proibidão”, que falam sobre sexo (anal e vaginal), vivência LGBT+, drogas e o cotidiano nas comunidades do Rio.  

“VERBO” fecha o álbum, resumindo a experiência sonora e corporal proposta por Luiz Felipe Lucas: “O funk é pra geral!”. E para ratificar a mensagem, nada melhor que oferecer a faixa a Exu, aquele que abre todos os caminhos. Da pista de dança à reparação histórica. 

Alberto Pereira Jr. é jornalista, diretor de TV e agitador cultural. Trabalhou nos veículos do Grupo Folha. Apresentou, dirigiu e escreveu o “Trace Trends”, programa de TV da Trace Brasil, plataforma internacional sobre cultura afrourbana, com temporadas na RedeTV e Multishow/Globoplay.

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