O Tarot lança o seu álbum de estreia, “A Ilha de Vidro”, cuja sonoridade expande o conceito de música nômade criado pela banda. Após ganhar destaque pela repercussão do primeiro trabalho, o EP Zero (2016), a banda cresceu significativamente em termos de público, o que possibilitou a arrecadação de mais de 20 mil reais em campanha de financiamento coletivo para a concepção do novo álbum.
As 12 músicas inéditas percorrem novos caminhos dentro da sonoridade plural do grupo, migrando da música cigana ao tango, do baião à milonga, de baladas ao rock progressivo. A Revista Ambrosia conversou com Caio Chaim, vocalista, tecladista e letrista. Confira abaixo.
Ambrosia: A métrica de vocês nas letras são tão encaixadas no corpo melódico, fiquei bem impressionado com esta forma de equalizar letra e melodia. Como é esse processo? O que vem primeiro? parece que melodia fala para a poética isso conto como escolha das palavras e rimas tão certas
Caio Chaim: Sem dúvidas a letra é a guia das composições. Encaramos a mensagem lírica como uma matéria-prima dentro d’O Tarot. No geral, a letra sempre guia as composições – a gente se propõe a criar paisagens sonoras ao redor de cada letra, criando um ambiente muito específico pra arranjo, no intuito de maximizar as mensagens! Talvez por isso que nosso som migre entre tantos lugares diversos: as letras pedem sempre uma paisagem específica.
No geral, primeiro surgem as letras (através de mim e do Lucas), com uma harmonia básica no violão. Trazemos as letras pro núcleo de criação, e todos os integrantes mergulham no subtexto de cada música (temos por costume criar um monólogo para cada música a partir da letra principal, para que possamos acessar a mensagem que está sendo transmitida na letra da forma mais pura o possível).
Depois de todo esse processo de compreensão mútua do significa das letras, entramos em estúdio para compor. No geral, flui muito naturalmente, porque já entramos nos trabalhos de arranjo muito bem alinhados e com a percepção clara sobre o que cada letra pede musicalmente.
A: Fale-me do som, tão melodioso quanto bem trabalhado tanto nos arranjos quanto na métrica que vocês pegam em cada canção priorizando aspectos melódicos, uma melodia mais suave outra mais áspera. Como foi singularizar cada canção do álbum?
Caio: Ficamos felizes com essa percepção! De fato, as músicas perpassam lugares muito diversos – tanto internamente como entre si. Acho que é uma característica derivada das “paisagens sonoras” que tentamos construir – acaba que cada música é uma história contada em todas as suas nuances.
Passamos um ano pré-produzindo “A Ilha de Vidro”, então fomos à minúcia em cada uma das faixas. Todas elas trazem uma mensagem profunda e diversas reflexões, mensagens de fácil identificação sobre temas diversos (mas quase todos eles ligados a um certo tom existencialista, em busca de respostas).
Acho que vale uma audição apurada de cada uma das 12 músicas que compõem este novo trabalho. Cada uma propõe uma experiência muito particular, e há muito a ser descoberto, tanto lírica como musicalmente. Cabe frisar que está tudo amarrado, o conceito do álbum e a ordem das músicas. “A Ilha de Vidro” é um processo: há uma entrada, um enredo a ser desenvolvido e respostas a serem encontradas, para enfim sairmos e prosseguirmos jornada. Cada música é um lugar distinto dentro deste “mapa” que é A Ilha.
A: Não há, na minha audição, como generalizar um rótulo para classificar o som da banda de vocês. Diria que tem alguns belos elementos folclóricos, mas muito embalados pelo rock, pela MPB, nestes dias de rede social onde tudo é categorizado. Não conseguiria gerar um segmento ou rótulo para o som de vocês. Vocês pensaram nisso quando iniciaram a concepção?
Caio: Tivemos essa mesma dificuldade desde a criação da banda (risos). No início, com nosso primeiro trabalho (o EP “Zero”, de 2016), ficamos bem reticentes durante a concepção. Isso porque as músicas do EP eram muito diversas entre si, estilos muito diferentes. Tivemos muita dificuldade em definir nosso som, porque nenhuma etiqueta abarcava o conceito todo. Por isso, acabamos desenvolvendo nosso próprio conceito: música nômade.
Com “A Ilha de Vidro”, acho que realmente chegamos ao lugar da música nômade em si, o que foi apresentado como um cartão de visitas no “Zero”. A característica principal da banda é migrar entre vários estilos, ritmos e influência, buscando criar um universo particular pra cada letra. Como cada letra tem um ambiente e uma mensagem muito diversa, naturalmente acabamos visitando lugares múltiplos – já viajamos ao redor do tango, baião, rock pop, progressivo, sons mais espaciais, baladas românticas.
Enfim, acho que tudo vale no Tarot – desde que as letras peçam! Nos orgulha muito ter chegado a este lugar, até porque hoje em dia não faz mais tanto sentido buscar um “guarda-chuva” pra botar seu som embaixo. Acho que as pessoas buscam cada vez mais criar algo autêntico e singular.
A: Como está o trabalho de divulgação, pretendem tocar no Rio? diz a agenda de vocês.
Caio: Estamos muito felizes com a repercussão do novo álbum! Já vínhamos de um trabalho consistente de crescimento de base de público – não à toa conseguimos 20 mil reais em campanha de financiamento coletivo com a colaboração de nossa base de público. Temos recebido MUITAS mensagens, muitas pessoas se envolvendo de fato com nosso trabalho. E acho que é isso: pra além da divulgação em si, sentimos que A Ilha de Vidro é uma obra que gera muito envolvimento, com a qual muitas pessoas vão se conectar (assim como nos conectamos ao longo dessa jornada toda).
O Rio de Janeiro é uma das prioridades! É um dos públicos que tem mais se engajado nesse lançamento, sem dúvidas pretendemos estar aí muito em breve! Nosso show de lançamento será dia 09 de junho, no Clube do Choro de Brasília, e em seguida estaremos de agenda aberta! A intenção é rodar o Brasil e propagar essa mensagem!
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