50 anos de Highway 61Revisited, trabalho mais emblemático de Bob Dylan

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Em 30 de agosto de 1965, era lançado um dos discos mais importantes da História da música: Highway 61 Revisited, do então jovem Bob Dylan em seu sexto trabalho em estúdio. Highway 61 é uma estrada real, que vai de Minnesota a Nova Orleans. Dylan disse em seu livro “Crõnicas”: “Highway 61 começa falando sobre o lugar de onde eu vim , Duluth, para ser exato. “ Ele acrescentou: “Eu sempre me senti como se eu tivesse começado ali , sempre tinha sido sobre ali, e poderia ir a qualquer lugar com isso. “

Foi no cruzamento das Highways 61 e 49 que a lenda do Blues Robert Johnson supostamente vendeu sua alma ao diabo para se tornar um músico de renome. Mais tarde, Bob Dylan iria “revisitar” esta estrada que foi o ponto queda de tantos. Você poderia chamá-la de linha da desolação – daí o título da última faixa, ‘Desolation Row’ – porque daria ao Blues o blues da tumba (‘Tombstone Blues’) cantando a balada de um homem franzino (‘Thin Man’) cujo destino era viver como uma pedra rolante (‘Like a Rolling Stone’).

bob4Em 2004, em entrevista ao 60 Minutos, Dylan sugeriu que ele fez um acordo semelhante com o diabo quando perguntado por que ele ainda faz shows. Há todos os tipos de drogas e perdedores no álbum, mas todos eles têm uma coisa em comum, tendo vendido a alguma coisa. “Eu estou indo para a encruzilhada, apenas para pedir uma carona”, cantou Johnson e mais tarde Eric Clapton. Dylan só revisitou o lugar.

O álbum não é apenas um marco e divisor de águas na carreira de Dylan, mas tem um período turbulento para a cultura como pano de fundo. Antes do lançamento, Dylan tocara no Newport Folk Festival, que acabou se tornando lendário pela controvérsia. Naquele ano 1965, Bob Dylan tinha alcançado o status de maior icone do renascimento da música folk americana e a aclamação de seus álbuns “The Freewheelin’ Bob Dylan” e “The Times They Are a-Changin’” o levou a ser rotulado como o “porta-voz de uma geração” pela mídia. Em março de 1965, Dylan lançou seu quinto álbum, Bringing It All Back Home. O lado A trazia o suporte de uma banda eletrificada, já o lado 2 vinha com Dylan ao violão.

Em 20 de julho, 1965, Dylan lançou seu single, “Like a Rolling Stone”, com uma acentuada verve roqueira. Em 25 de julho, veio o referido show no Newport. Vários setores da plateia vaiaram Dylan, acusado de traidor do movimento. A apresentação durou apenas 15 minutos.

bob2Também houve o concerto em Forest Hills no Queens, em Nova York, que ficou bem menos conhecido do que o de Newport, mas tinha uma multidão muito mais turbulenta vaiando ainda mais, e àquela altura já existia uma divisão anti-Dylan na na imprensa musical. E ainda havia a Guerra do Vietnã em curso. Tudo isso serviu apenas para acrescentar ares mitológicos a um disco que já nascera clássico.

Bob Dylan sempre foi poeta de mão cheia. Muitos defendem que sua poesia é mais pertinente do que suas melodias, mas em Highway 61 Revisited os dois elementos se encontraram e se complementaram em uma simbiose natural incontestável. Como disse o poeta inglês Philip Larkin ao The Daily Telegraph em novembro de 1965, “o grasnar de Dylan, uma voz irônica, é provavelmente bem adequado para o seu material – digo provavelmente porque muito do que era ininteligível para mim – e sua guitarra adapta-se ao rock (Highway 61 ‘) e à balada (‘ Queen Jane ‘) admiravelmente”.

O disco foi gravado no Columbia Studio A em Nova York de 15 de junho a 4 de agosto de 65, e produzido por Bob Johnston. A música ‘Like a Rolling Stone’ ficou a cargo de Tom Wilson. É com esse clássico, um folk rasgado de pegada rock que Dylan abre sua epopeia de 51 minutos ao longo de 11 faixas. É a combinação perfeita de dois gêneros que possuem um grau de parentesco que nunca tinha ficado tão evidente até então. Afinal de contas o rock nada mais é do que um mulato resultado da miscigenação do folk branco com o blues negro.

bob3Na faixa seguinte, ‘Tombstone Blues’, a levada folk se sobressai apesar da guitarra e da bateria marcando o ritmo. A bluesy ‘It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry’ vem com uma estrutura simples, mas com um ótimo resultado melódico e prepara o terreno para ‘From a Buick 6’, outro rock assumido do álbum. Não só uma das melhores do álbum (é difícil escolher a melhor nele) como uma das melhores já compostas por Bob Dylan é ‘Ballad of a Thin Man’, um blues grandioso com peso dramático, logo amenizado pela belíssima balada ‘Queen Jane Approximately’ .

A faixa título é outro grande acerto do disco, e mantêm o alto nível do trabalho assim como a penúltima faixa, ‘Just Like Tom Thumb’s Blues’, e a épica ‘Desolation Row’, que fecha o álbum e ganhou até versão do My Chemical Romance para a trilha sonora da adaptação cinematográfica de Watchmen em 2009.

“Highway 61 Revisited” consta em praticamente todas as listas de melhores discos de todos os tempos não por acaso ou mera convenção. É um daqueles casos em que temos um artista em seu auge criativo, amparado por uma produção acertada e um contexto cultural favorável. Não se pode ficar totalmente indiferente à genialidade de Bob Dylan durante a audição dessa pérola, genialidade essa que ainda iria render outros discos memoráveis mas, se há um epíteto, é este álbum que está completando meio século mantendo-se atemporal.

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